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Bolsa e dólar: quem ganha e perde com vitória de Joe Biden, segundo mercado

Democrata Joe Biden, novo presidente dos Estados Unidos - Angela Weiss/AFP
Democrata Joe Biden, novo presidente dos Estados Unidos Imagem: Angela Weiss/AFP

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

07/11/2020 13h42Atualizada em 09/11/2020 17h22

Resumo da notícia

  • Definição de novo presidente americano reduz incertezas de investidores e estimula alta da Bolsa, dizem analistas
  • Dólar pode perder valor ante outras moedas no mundo, mas deve seguir forte no Brasil por causa de problemas internos

A vitória do candidato do partido democrata Joe Biden nas eleições para presidente dos Estados Unidos é positiva para as Bolsas em todo o mundo, incluindo no Brasil, dizem profissionais de mercado. No câmbio, espera-se que o dólar se desvalorize um pouco em relação às principais moedas globais, exceto no Brasil, onde problemas domésticos, como a dívida pública, devem manter o real pressionado.

Segundo especialistas, a vitória de Biden representa uma incerteza a menos no radar da economia, o que ajuda a reduzir o medo de investir. Isso estimula a busca por produtos de maior retorno, como ações, e diminui a procura por ativos considerados reservas estratégicas, como ouro e dólar.

"As eleições americanas têm sido uma fonte de estresse já há algum tempo. Com uma definição, os investidores podem começar a traçar cenários porque sabem ao menos a linha de políticas de quem vai comandar a maior economia do mundo nos próximos anos", afirma o economista-chefe da Frente Corretora de Câmbio, Fabrizio Velloni.

Por que vitória de Biden favorece Bolsas?

Especialistas apontam alguns motivos:

  • Pacote de estímulo: Democratas e republicanos devem finalmente chegar a um acordo para a aprovação do pacote de estímulo contra a crise provocada pela pandemia. A injeção de recursos de até US$ 1 trilhão vai ajudar a maior economia do planeta a ganhar força e a puxar o restante da atividade econômica mundial.
  • Comércio global: Biden deve retomar a agenda de acordos comerciais assumindo uma postura menos conflituosa com parceiros históricos dos americanos. Essa política é vista como positiva pelos mercados porque pode estimular o comércio global e, consequentemente, a economia mundial.
  • Equilíbrio de forças: O partido Republicano ainda pode manter a maioria no Senado. Esse eventual equilíbrio de forças é considerado um fator positivo para os mercados porque temas mais sensíveis aos empresários podem ser barrados.

"Esse equilíbrio entre os dois partidos, Democrata e Republicano, elimina riscos especialmente de aumento demasiado de impostos, o que é visto como positivo pelo mercado, e as Bolsas americanas já estão refletindo esse otimismo também com performance positiva. Como de costume, o desempenho do mercado americano ecoa no brasileiro, e devemos ver as ações no Brasil indo bem também.
Jorge Junqueira, sócio e chefe da área de renda variável da Gauss Capital

Qual o impacto no câmbio?

A definição de quem vai comandar os Estados Unidos tira do horizonte uma fonte de incerteza. Só isso já pode reduzir a procura pelo dólar como aplicação e desvalorizar a moeda americana em relação à maioria das moedas no mundo.

Além disso, Biden defende mais gastos do governo em políticas sociais, como na área da saúde, assim como a elevação de impostos, para cobrir as despesas extras, medidas que podem desestimular a busca pelo dólar.

"O mercado trabalha com o dólar perdendo um pouco de valor que acumulou este ano ante a cesta global de moedas" afirma o responsável de renda fixa e multimercados da BNP Paribas Asset Management, Gilberto Kfouri.

Dólar pode cair no Brasil?

No Brasil, o dólar pode seguir caro porque prevalecem dúvidas com relação a problemas internos. A maior preocupação dos investidores é com o tamanho e o ritmo de crescimento da dívida pública.

O receio de que o governo Bolsonaro tenha que elevar juros para seguir rolando o endividamento crescente reduz a entrada de investimentos externos na economia brasileira, limitando a oferta de dólares aqui no país.

Por isso, o espaço para uma desvalorização maior da moeda americana em relação ao real é uma incerteza entre gestores de recursos, mesmo após o dólar ter acumulado já mais de 40% de valorização neste ano.

O Brasil tem problemas específicos, como o fiscal, o político, além de taxa de juros muito baixa. Tudo isso cria um ambiente de real mais depreciado.
Ronaldo Guimarães, sócio diretor do Modalmais

Pior cenário é indefinição

Todos os profissionais de mercado ouvidos pelo UOL alertaram que ainda há uma fonte de incerteza relacionada às eleições americanas: o risco de a disputa parar nos tribunais. A volatilidade nas Bolsa e no mercado de câmbio podem ganhar força se Donald Trump não aceitar a derrota e recorrer a medidas como pedidos de recontagem de votos ou mesmo questionamentos na Suprema Corte.

Um cenário incerto, depois de um resultado muito apertado, tende a provocar volatilidade, ainda mais levando em conta que essa é uma disputa entre dois lados muito polarizados.
Matheus Janoneli, analista da Nova Futura Investimentos