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Bar onde Tom Jobim e Vinicius de Moraes se conheceram fecha as portas

Mesas do bar Casa Villarino, onde Tom Jobim e Vinícius se conheceram, no centro do Rio - Reprodução
Mesas do bar Casa Villarino, onde Tom Jobim e Vinícius se conheceram, no centro do Rio Imagem: Reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

18/11/2020 17h03

Um dos berços da bossa nova, localizado no centro do Rio, a Casa Villarino se juntou à longa lista de estabelecimentos prejudicados pela pandemia. Com 67 anos, o bar e restaurante localizado na avenida Calógeras informou que fechará as portas por tempo indeterminado.

Foi entre as mesas da Villarino que, no verão de 1956, o jornalista Lúcio Rangel apresentou Tom Jobim a Vinícius de Moraes, para musicarem a peça "Orfeu da Conceição", estreada meses mais tarde.

O bar afirma, em suas redes sociais, que a expressão bossa nova, que batizaria o novo estilo musical que marcou gerações, foi ouvido pela primeira vez por lá.

Salão do bar Casa Villarino, em foto pré-pandemia  - Reprodução  - Reprodução
Salão do bar Casa Villarino, em foto pré-pandemia
Imagem: Reprodução

A administração do estabelecimento ainda preserva a mesa à qual se sentaram Tom e Vinícius para selar a parceria, assim como os pisos originais da época e fotos da década de 1950.

Pela Villarino passaram também outros grandes artistas, como Ary Barroso e Elizete Cardoso. Músicos, poetas, intelectuais e personagens da boêmia carioca marcaram presença no local, que serviu de point para as gerações seguintes.

"Nos sentimos muito honrados e orgulhosos por termos feito parte da bela história da Casa Villarino, um dos berços da bossa nova e ponto de encontro de intelectuais e artistas. Agradecemos a todos aqueles que nos prestigiaram com sua presença desde 1953", diz o comunicado postado nas redes sociais pelos administradores do estabelecimento.



O fechamento da casa é por tempo indeterminado. A notícia foi recebida com tristeza pelos cariocas.

"O Rio perde uma parte de sua história e do seu charme. Torço por um breve retorno", "tristeza não tem fim, felicidade, sim" e "o Rio perde mais um importante point cultural-gastronômico que as crises vão engolindo": foram alguns dos comentários deixados na postagem que anunciou a suspensão das atividades.

Durante a pandemia, a casa chegou a funcionar com 20% da capacidade. Para equilibrar as contas, o bar reformulou o cardápio, mas a mudança não foi suficiente para evitar o fechamento. No último 10, nas redes sociais, o Villarino chegou a postar um anúncio de 10% de descontos sobre as bebidas destiladas e vinhos do estabelecimento.

40% dos bares do centro fecharam as portas

De acordo com um levantamento do SindRio (Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio, os estabelecimentos localizados na região central da cidade são os que mais sofrem com a queda de movimento provocada pelas restrições impostas pelo coronavírus.

"O faturamento de bares e restaurantes cariocas está atualmente entre 50% e 60% dos valores anteriores à pandemia. Porém, os estabelecimentos do centro da cidade ainda não conseguiram alcançar esse percentual, considerando a permanência prolongada dos trabalhadores em home office, que esvaziou a região durante o dia. Os negócios ali instalados ainda enfrentam a concorrência desleal do mercado informal de venda de quentinhas", disse o presidente do SindRio, Fernando Blower.

O bairro concentra o maior número de fechamentos. Dos 1.200 bares e restaurantes da região, 480 baixaram as portas --ou seja, 40% deles.

Em toda a cidade, foram fechadas 18.388 vagas de emprego no setor de bares e restaurantes, o que faz do setor o mais atingido pela crise.

País perdeu mais de 236 mil empregos no setor em 2020

Ainda de acordo o SindRio, o mês de setembro foi o mais positivo para o setor no país todo desde o início da pandemia, com a abertura de 2.797 postos de trabalho com carteira assinada. O pior resultado foi observado em abril: -93.846 vagas. Apesar da melhora, o país acumula 236.350 empregos extintos no setor em 2020.

O Rio de Janeiro segue como segundo estado mais impactado pela crise, com 29.269 vagas em bares e restaurantes fechadas durante a pandemia, no período de março a setembro, atrás apenas de São Paulo, que perdeu 84.972 vagas.