Frete caro e falta de peças: navio preso no Canal de Suez afeta sua vida
O bloqueio do Canal de Suez, que fica no Egito, pelo navio Ever Given pode ter repercussões no Brasil, como frete mais caro, aumento no preço maior da gasolina e até atraso no fornecimento de peças vindas da Ásia para a indústria brasileira. Encalhado desde terça-feira (23), o navio impede a circulação pelo canal responsável por mais de 10% de todo o comércio internacional e cria um nó logístico mundial.
Nesta sexta (26), mais de 230 barcos estavam ancorados esperando para passar pelo canal. O tamanho e a duração desses efeitos dependem de quanto tempo a embarcação operada pela empresa Evergreen continuará trancando a passagem. Dragas estão sendo utilizadas para desatolar o navio cargueiro, que tem 400 metros de comprimento, mas o processo pode durar dias ou até semanas.
Faltam componentes e o preço aumenta
O efeito principal é o aumento no preço do frete, o que deve ter impacto no preço final de produtos ao consumidor. O problema fica ainda pior porque diversas cadeias de produção já estavam desorganizadas por conta da pandemia do novo coronavírus.
Um dos exemplos é o setor automotivo. Componentes utilizados para a fabricação de veículos vêm de países da Ásia e já estavam em falta antes mesmo do bloqueio em Suez, por causa da pandemia. Agora, a situação pode piorar ainda mais.
Todo produto pode ser afetado. Em função da pandemia, não foi possível fazer estoques. Os preços estão completamente loucos, dos fretes e das próprias mercadorias. É um desequilíbrio internacional.
José Augusto de Castro, presidente executivo da AEB (Associação do Comércio Exterior do Brasil)
Preço da gasolina também pode subir
Outro efeito deve ser sentido pelos consumidores nos postos de combustível. O Canal de Suez é uma importante rota para barris de petróleo que vêm do Oriente Médio. Com o bloqueio, os preços do óleo já começaram a subir.
O aumento tem impacto no Brasil porque a política de preços da Petrobras segue as variações do mercado internacional. Ou seja, se o preço internacional do petróleo sobe, a empresa também reajusta o valor dos derivados, como a gasolina e o diesel, que saem das refinarias.
Exportações podem ser afetadas
Com a persistência do problema, as exportações brasileiras também podem ser afetadas. O mercado já tem impactos como a falta de contêineres para levar os produtos, por conta dos problemas logísticos.
Se as mercadorias ficarem encalhadas no Brasil, pode haver algum efeito de diminuição nos preços dos produtos para o mercado interno. Mas, para José Augusto de Castro, da AEB, isso é improvável.
O produto [que vai ser exportado] já está vendido. Por exemplo, soja que o Brasil vai embarcar em 2021 e em parte de 2022 já foi vendida. Difícil ter algum impacto [de queda nos preços] dentro do país.
José Augusto de Castro, da AEB
Congestionamento vai chegar aos portos
Os problemas não vão sumir assim que o navio sair do atoleiro. O congestionamento das rotas deve provocar engarrafamentos em portos em todo o mundo, o que gera ainda mais atraso e aumento nos preços.
Quando há uma fila no Canal de Suez, depois vai ter fila nos portos, inclusive no Brasil. É como se fosse uma estrada que foi bloqueada. Ao invés de chegar uma série de navios escalonados, vão chegar todos de uma vez.
Ricardo Martins, professor e coordenador do Observatório de Logística Urbana e Mobilidade da UFMG
Por que o bloqueio em Suez cria um nó logístico mundial
Inaugurado em 1869, o Canal de Suez é uma importante rota comercial por encurtar as distâncias entre a Ásia, o Oriente Médio e a Europa. Localizado no Egito, o canal navegável de 193 quilômetros conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, evitando que navios tenham que contornar toda a África, passando pelo Cabo da Boa Esperança, que fica no sul do continente. Com isso, as embarcações economizam milhares de quilômetros de viagem.
De acordo com a Autoridade do Canal de Suez, mais de 12% do comércio mundial passa pela estrutura. É por isso que o bloqueio, mesmo que seja por pouco tempo, causa tantos transtornos.
A partir de um certo momento [com a persistência do bloqueio] as empresas vão começar a criar rotas alternativas, mas isso implica em milhares de quilômetros a mais, além de mais dias de viagem e custos. [Um navio] não é como um avião, que pode pousar em outro aeroporto se o aeroporto de destino estiver fechado.
Ricardo Martins, da UFMG
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