Indústria tem falta de roupa, piso e papelão, e consumidor paga mais caro
A falta de matéria-prima que atinge a indústria no Brasil em meio à pandemia de covid-19 já causa escassez de produtos e aumento de preços ao consumidor.
O arquiteto Glauco Vitor Dias, da comunidade de arquitetos Archademy, precisou aumentar uma área em uma obra que realizava em São Paulo. Com a escassez de material e, após muita procura, conseguiu encontrar o piso apenas em Santa Catarina.
"Estávamos trabalhando em uma obra e precisamos de mais revestimento e pisos. Eu não encontrei mais o piso comprado. Eu procurei em diversos locais em São Paulo, cheguei a ligar para o fabricante para saber quem poderia ter, mas ninguém tinha o piso necessário para o aumento que o cliente solicitou na obra. Acabei encontrando [o piso] em Santa Catarina e paguei o frete", disse.
Para evitar esse tipo de problema, o arquiteto passou a aconselhar os proprietários das obras a verificar a disponibilidade dos produtos antes da tomada de decisão.
Aquecido na pandemia, a construção não é o único setor a sofrer de falta de material. O casal João Victor Souza e Rebecca Diniz, cliente de uma loja de roupas de esporte, também encontra dificuldades para receber os produtos adquiridos.
"Costumávamos comprar roupas em uma loja online. No meio do ano passado, comprei um produto e recebemos um aviso que ele seria enviado em uma sacola, pois não havia mais caixa de papelão", disse Souza.
"Já no começo deste ano, eu tentei entrar em contato com eles pois queria uma calça legging que já tinha comprado em outra oportunidade, mas o vendedor disse que eles não tinham mais matéria-prima para fabricar a peça", afirmou Diniz.
Escassez de matéria-prima
De acordo com Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), a pandemia causou uma quebra das cadeias produtivas mundiais e parte dos insumos deixou de ser produzida durante meses. Além disso, com algumas mudanças no padrão de consumo, outros itens tiveram um forte aumento da demanda.
A gente tem algumas mudanças importantes nos atos de consumo e nas demandas de produtos específicos, como papelão, por exemplo, por conta de delivery e compras online, além de álcool, máscaras e produtos específicos, que também tiveram a demanda crescendo bastante. De uma forma geral, em algumas indústrias, houve mudanças rápidas, inesperadas e isso impacta a produção.
Marcelo Azevedo
Levantamento da CNI mostra que mais de 70% das fábricas brasileiras seguem com problemas para conseguir insumos no mercado, e a maior parte delas só espera uma melhora no segundo semestre deste ano.
Normalização no Brasil deve demorar um pouco mais
Com a falta de material, as fábricas passaram a competir entre si.
A indústria vem competindo por insumos, o que faz com que isso seja repassado no preço à população, que acaba tendo menos produtos e mais caros. Isso, no entanto, é um problema de escassez temporária e em algum momento deve se normalizar.
Alexandre Jorge Chaia, economista e professor do Insper
Além disso, a alta do dólar em relação ao real também encarece os produtos. Para o professor, ainda não há como prever a normalização da produção e dos preços ao consumidor.
Quando o mundo volta a ficar normal? Difícil dizer. A princípio, o segundo semestre tende a ser mais estável, com uma redução de preços, com o mundo vacinando e o consumo voltando ao normal. Mas há também todo um conjunto brasileiro que fará com que o país demore um pouco mais [a se recuperar], com a desvalorização do real, ruídos políticos e problemas no Orçamento.
Alexandre Jorge Chaia
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