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Comércio de SP prevê alta de 20% em vendas e vagas; pequenos ainda sofrem

Comerciantes da rua 25 de Março estão contratando e projetam aumento de 10% a 20% nas vendas neste fim de ano ante 2020 - Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Comerciantes da rua 25 de Março estão contratando e projetam aumento de 10% a 20% nas vendas neste fim de ano ante 2020 Imagem: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

08/09/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Fim de restrições ao funcionamento de comércio e serviços vai aquecer vendas e contratações, dizem empresários
  • Demanda reprimida, calor e festas de fim de ano são apostas de comércio, bares e restaurantes
  • Variante delta e inflação são ameaças à retomada, dizem empresários

A liberação para o funcionamento de comércio e serviços sem restrições e o avanço da vacinação vão aquecer a economia de São Paulo, estado que reponde por 31% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, acelerar as vendas e estimular abertura de vagas de empregos especialmente no último trimestre do ano, apontam lojistas de rua e de shoppings, empresários de bares e restaurantes e governo. As lojas já estão contratando e preveem crescimento de 20% nas vendas e nas vagas.

O que pode atrapalhar essa retomada da economia paulista nesta reta final de ano, destacam empresários, é uma piora da pandemia, alimentada pela variante delta, que atinge em cheio o setor de serviços, além da inflação, que pode diminuir o bolso de consumidores e os lucros dos comerciantes.

Como o setor de serviços responde por 61% do PIB paulista, o desempenho de lojas, bares, restaurantes, lazer e cuidados pessoais será fundamental para que o PIB paulista cresça 7,5% neste ano, segundo projeções da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), e mais 2,2% em 2022.

Se prevalecer o pior cenário, o PIB paulista deve crescer menos: 6,5% neste ano e 1,8% ano que vem, segundo as projeções.

Monitorando vários dados, como emissões de notas fiscais e empresas abertas na junta comercial, vemos vários setores recuperando faturamento, com abertura de empregos e de empresas. Batemos cinco meses seguidos de formalização de novas empresas, e perto de meio milhão de empregos gerados. E temos atraído investimentos, como a Toyota, que anunciou o terceiro turno na fábrica.
Patricia Ellen, secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado de SP

No acumulado de janeiro a junho, São Paulo registrou 865,6 mil empregos abertos, sendo 338 mil no setor de serviços. Descontando as vagas que foram fechadas no mesmo período, o saldo líquido neste ano até junho é de 491 mil vagas criadas.

Semestre teve alta de 6,9% no PIB de SP

São Paulo fechou o primeiro semestre com alta de 6,9%. Veja abaixo como desempenhou cada setor:

PIB Paulista - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

Para o restante do ano, a expectativa da equipe econômica do governo paulista é de elevação do setor de serviços, em especial de segmentos com maior dificuldade de adaptação aos sistemas de vendas pela internet, como vestuário.

A abertura das atividades e a circulação de mais pessoas também terão efeitos positivos para as áreas de hospedagem, alimentação e entretenimento.

Comércio de rua estima aumentar vagas em até 20%

O Depósito de Meias Jorge Ansarah, funcionando desde 1932 na rua 25 de Março, o maior comércio de rua do estado, está com vagas abertas. Parte do Grupo Ansarah, que comercializa meias, lingeries e moda feminina, masculina, infanto-juvenil e bebê, a loja projeta o melhor trimestre desde o fim de 2019.

Já estamos contratando. Por causa da crise, o quadro de funcionários está bem apertado. Então, como esperamos um aumento de vendas de 10% a 20%, vamos contratar mais ou menos nesse volume de pessoal.
Eduardo Ansarah, Depósito de Meias Jorge Ansarah

O Depósito de Meias Jorge Ansarah vende no varejo e atacado, atendendo micro e pequenos empresários do interior paulista que se abastecem na capital.

Por isso, a loja é um termômetro da demanda para o estado inteiro. "Vemos um movimento mais forte de compras para o Dia das Crianças e também para o fim de ano", afirma o empresário.

O diretor da União dos Lojistas da 25 de Março (Univindo), Jorge Dib, confirma esse cenário também para outros comerciantes da rua.

As vendas estão crescendo não só entre consumidores da capital, mas também entre clientes do interior e de outros estados, que já começaram a remontar o quadro de funcionários, tanto nas lojas como de terceiros.
Jorge Dib, União dos Lojistas da 25 de Março

Desejo de comprar anima shoppings

Nos shopping centers, também há a expectativa de aumento nas vendas, mas o setor não fez uma estimativa numérica.

Para o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, baseado na capital paulista, muita gente que deixou de gastar com viagens vai usar parte desse dinheiro nas lojas.

Já começamos a ver uma vazão desse desejo de compras nos shoppings. Com a tendência de aumento de vendas que estamos vendo em julho e agosto e a demanda reprimida, poderemos ter um dezembro até melhor que o de 2019.
Nabil Sahyoun, Associação Brasileira de Lojistas de Shopping

Calor e festas de fim de ano esquentam bares e restaurantes

Essa livre circulação de pessoas começa justo quando as temperaturas estão em elevação, na primavera, agora em setembro, e seguem subindo até o verão, em dezembro. Esse calor vai se transformar em mais consumo nos bares e restaurantes, diz o presidente do conselho estadual paulista da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP), Percival Maricato.

Além do calor, o setor aposta ainda numa demanda latente das pessoas pelas festas de confraternização tradicionais de fim de ano, que não aconteceram ano passado. Isso tanto nas famílias como nas empresas. Isso vai representar mais vendas para bares e restaurantes.
Percival Maricato, Associação Brasileira de Bares e Restaurantes

Turismo vai crescer 9,3% neste ano

Bares, restaurantes e lojistas de São Paulo contam também com os viajantes de outros estados O secretário de Turismo e Viagem do governo estadual, Vinicius Lummertz, projeta alta de 9,3% no turismo paulista neste ano, movimentando R$ 195 bilhões. Em 2022, a projeção é crescer 10%.

O tráfego de aviões do país já chegou a 70% do normal e vai fechar o ano a 90%. São Paulo responde por metade disso. Em ônibus, a vinda de passageiros em julho deste ano cresceu 117% em relação a julho de 2020, somando 702 mil chegadas. Nos hotéis, a ocupação no estado subiu de 68% em abril para 83% em julho.

Já recuperamos 18 mil empregos entre junho e agosto. E vamos abrir de 10 mil a 12 mil novas vagas a cada mês até o fim do ano. Os eventos estão voltando a partir de outubro, o que traz o turista de negócios, que tem média de gastos mais elevada. A malha aérea está se normalizando e o [transporte] terrestre nas estradas paulistas já está nos patamares de 2019.
Vinicius Lummertz, secretário de turismo e viagem do governo de São Paulo

Realidade diferente para pequenos e médios

Os empresários destacam, porém, que essa retomada não será igual para todos os negócios. Micro e pequenos empresários, que foram muito mais afetados pela pandemia, vão perder espaço para grandes grupos.

O representante da Alshop, que tem em São Paulo mais da metade dos 54 mil lojistas de shopping no país, diz que empresários menores saíram da crise com pouco ou nenhum dinheiro em caixa e ainda dívidas para pagar.

As redes varejistas maiores, com mais capital e maior acesso a crédito, devem acabar ocupando espaço dos concorrentes menores.

É o mesmo cenário em bares e restaurantes. "Cerca de 30% das empresas do setor fecharam na pandemia. Os lugares que não vão reabrir vão deixar uma lacuna que deverá ser ocupada pelas grandes", diz Percival Maricato.

Dois adversários da retomada

Empresários apontam ainda dois obstáculos que podem atrapalhar a reação da economia paulista após o fim das restrições à circulação de consumidores.

  • Variante delta: Se a variante delta provocar aumento de internações em hospitais, e o governo for forçado a retomar medidas de restrição à circulação das pessoas para conter o avanço da pandemia, o setor de serviços será novamente o mais afetado.
  • Inflação: Para o consumidor, a alta dos preços diminui o poder de compra. E para o empresário, a inflação aumenta os custos. Da energia elétrica à massa da pizza, do eletrodoméstico com componentes importados em dólar ao combustível, tudo está mais caro. O IGP-M, que mede os preços no atacado, acumula alta superior a 30% em 12 meses.

O economista Fabio Pina, da FecomercioSP (Federação do Comércio de São Paulo), diz que a inflação afeta mais as famílias mais pobres. Elas terão de rever o que conseguem comprar com o salário. Do lado das empresas, elas terão de apertar margens de lucro.

Podemos ter, sim, um ano parecido com 2019, em termos de vendas. Mas há a questão da incerteza afetando o planejamento das empresas. Nesse cenário, o empresário pode ser mais conservador.
Fabio Pina, FecomercioSP