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Guedes opera como 'cheerleader' do Bolsonaro, diz ex-presidente do BC

Colaboração para o UOL, no Rio

24/09/2021 11h16Atualizada em 24/09/2021 11h47

O ex-presidente do Banco Central Affonso Pastore disse hoje no UOL News que o ministro da Economia Paulo Guedes é uma espécie de "cheerleader" do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele criticou o chefe da pasta ao dizer que o país não tem uma política econômica.

"Quando digo que o Paulo Guedes opera como uma cheerleader, é porque ele tem um discurso que agrada os ouvidos do setor privado. Ele fala em privatizações, levou até um cidadão do setor privado, altamente reputado perante os seus pares, para ser o homem das privatizações, que desistiu no meio do caminho. Não conheço quase ninguém da equipe original do Guedes que tenha permanecido dentro do governo. Toda equipe que ele levou foi saindo, um atrás do outro", diz Pastore.

O ex-presidente do BC afirmou que Guedes não atua para transformar em atos o que fala. Para ele, a gestão do PhD da Universidade de Chicago à frente da economia brasileira "tem nota 0".

Não há política econômica, consequentemente não temos ministro da Economia. Ele no fundo é um propagandista do governo Bolsonaro. Está sendo uma peça no tabuleiro político do presidente Bolsonaro. Ele não é uma peça que está encaixada dentro do tabuleiro no qual se deve jogar um jogo e produzir reformas que aumentem a eficiência da economia brasileira
Affonso Pastore

'Efeito Bolsonaro'

Pastore diz que há um "efeito Bolsonaro" que prejudica a economia brasileira. Para ele, a instabilidade política provocada pelo chefe do Executivo federal reflete na situação econômica do país.

"Se você tivesse um governo eficaz, do ponto de vista econômico, e um governo que tivesse feito uma coalizão com partidos dentro do Congresso em nome de um programa, não tenho duvidas de que esse governo seria muito mais eficaz no combate à pandemia e no ajuste econômico, e o custo que a sociedade estaria pagando seria muito menor", afirmou Pastore.

O economista afirma ainda que economia e política não são independentes. Para ele, o governo não tem apoio político no país, o que gera instabilidade também nas questões econômicas.

A forma como ele (Bolsonaro) governa é a forma de criar atritos dentro da sociedade. Ele tem criado atritos com instituições, criou atrito com o Supremo, que teve uma gravidade extraordinária. Não fosse aquela carta de retratação, não sei onde teríamos ido... você tem um quadro político muito grave no caso brasileiro
Affonso Pastore

Estagflação

Ao avaliar a atual situação da economia brasileira, Pastore vê um quadro de estagnação econômica com inflação alta, o que muitos economistas chamam de "estagflação".

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo 15) divulgado hoje revelou uma inflação de 1,14% no país em setembro. Já o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro teve queda de 0,1% no segundo trimestre do ano, em relação ao primeiro trimestre.

"Olha onde está indo o câmbio. Ele já passou dos cinco e trinta e pouco para cima, só com a saída do IPCA de hoje e com a visão do mercado a respeito das repercussões sobre as reações atabalhoadas do governo no ano de 2022", diz Pastore.

O economista é pessimista em relação à situação da economia em 2022. Para ele, o país não terá crescimento maior do que 1% no que vem.

Tenho que olhar a economia em 2022 com um temor muito grande de que a gente tenha um quadro dos mais graves na economia brasileira nos últimos anos
Affonso Pastore