Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

País não está quebrado e tem os meios para resolver crise, diz ex-ministro

Colaboração para o UOL, no Rio

18/10/2021 12h06Atualizada em 18/10/2021 17h16

O ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa disse hoje no UOL Entrevista que o Brasil vive uma estagnação econômica, mas não está "quebrado". Para ele, o país tem à sua disposição os instrumentos necessários para equilibrar o Orçamento e sair da crise.

Com o baixo crescimento da economia e a alta da inflação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem dito que o país está quebrado e que não consegue fazer nada por causa disso.

"O Brasil não está quebrado, está dividido. Temos todos os instrumentos para resolver a nossa situação", afirmou Barbosa.

Para o economista, o problema do Brasil "é mais político do que econômico". Ele disse que o país precisa decidir como reequilibrar o orçamento e rolar a dívida pública "de uma forma não explosiva".

Normalmente, um país quebra em moeda externa. Ele tem uma dívida em dólar e não consegue pagar porque não emite dólar, que era o caso que o Brasil tinha nos anos 80 e no final do governo Fernando Henrique
Nelson Barbosa

Crise

Barbosa afirmou que a atual crise econômica do Brasil se deu por causa de uma queda muito forte com a pandemia do novo coronavírus e uma recuperação forte, mas abaixo da queda. Para ele, apesar disso, o país não está em uma crise financeira e fiscal.

"Criou-se uma perspectiva de que a economia ia continuar subindo, mas, na verdade, depois da parada súbita causada pela pandemia, houve uma retomada súbita e voltamos ao ritmo de crescimento que a gente estava antes da pandemia, de 1% ao ano; com o agravante agora de que a inflação está mais alta, por razões internacionais, mas também por razões domésticas", afirmou o economista.

O ex-ministro da Economia disse que o país está caminhando para uma crise social, principalmente por causa do aumento da pobreza e do desemprego.

Isso gera uma perda de bem-estar para a maioria da população. A pobreza subiu muito e isso afeta grande parte da população brasileira. Por isso, essa sensação de perda de poder de consumo, de piora de vida mesmo
Nelson Barbosa

Guedes

Sobre o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, o ex-ministro da Fazenda disse que sua atuação não decepciona, porque nunca esperou muita coisa dele. Ele, no entanto, atribui a política econômica do país ao governo e não somente a Guedes.

"O projeto do atual governo é muito parecido com o projeto do governo Temer, que era um projeto de 'vamos apostar em reformas, reformas, e reformas, que o Brasil precisa de reformas. As reformas que houve não foram suficientes para acelerar o crescimento e recuperar a economia rapidamente", afirmou o economista.

Barbosa disse que o país precisa combinar uma ação a curto prazo, para aliviar a pobreza e gerar empregos, com reformas de longo prazo. Para ele, a aposta em estratégia que dá errado fragiliza as pessoas mais vulneráveis.

O erro desse projeto, que é o mesmo projeto do governo Temer, é focar só em reforma de longo prazo, sem cuidar da transição, dos mais vulneráveis. A gente precisa de uma ação compensatória do governo em transferência de renda, em geração de emprego e investimento
Nelson Barbosa

Governabilidade

Ministro da Fazenda no governo Dilma, Barbosa disse que o país vive uma falta de governabilidade. Ele afirmou que os movimentos a favor do impeachment da ex-presidente do PT viveram uma ilusão de "basta tirar a Dilma que resolve".

"Não é só tirar a Dilma que resolve. Não é só tirar o Guedes que resolve. Não é só colocar o Lula que resolve as coisas. Vamos ter que conversar, ter que nos entender, nós brasileiros. Não dá para apostar em uma pessoa só que vai chegar lá com a varinha mágica e fazer tudo", afirmou Barbosa.

Sem especificar quais, o economista afirmou que há várias instituições no Brasil que estão entrando "na seara da outra". Ele disse ainda que hoje no país há muita gente com poder de dizer "não" e ninguém com poder de dizer "sim".

Democracias têm que ter mecanismos de resolução de conflitos. Hoje, temos um mecanismo de resolução de conflito que perpetua o conflito sem resolver o problema
Nelson Barbosa