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Mercado não enfrenta loucuras de governo populista, diz ex-ministro

Colaboração para o UOL, no Rio

22/10/2021 09h25Atualizada em 22/10/2021 10h46

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega disse no UOL News desta manhã que o mercado financeiro do Brasil não está "nervosinho", como sugeriu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em sua live semanal ontem. Nóbrega afirmou que, na verdade, com a atual instabilidade econômica, a tendência é o país perder investidores.

"O mercado financeiro reage, como reage todo mundo. Não tem nada de nervosismo. Os mercados financeiros não toleram incertezas, imprevisibilidade. Quando isso acontece, é melhor sair. Nesse sentido, o mercado é covarde, não enfrenta as loucuras de um governo populista", disse Nóbrega.

Para o economista, a atual crise financeira do país tem origem na "confiança", que faz com que o real se desvalorize em relação ao dólar, impactando nos preços dos alimentos, por exemplo. Ele disse que a quebra do teto de gastos contribui para essa situação.

Esta é uma razão pelas quais uma parte da equipe abandonou o barco, incomodada com a perda da agenda e a submissão do seu líder a objetivos eleitorais do presidente
Maílson da Nóbrega

O ex-ministro da Fazenda afirmou que há um "enorme amadorismo" na atuação do governo federal na economia do Brasil. Para ele, isso fortalece o cenário pessimista de piora na situação fiscal do país.

"O presidente da República diz de manhã que o Auxílio Brasil vai ficar dentro do teto; de tarde, o ministro pede licença para gastar fora do teto", afirmou Nóbrega.

Guedes cabo eleitoral

Nóbrega critica a defesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, em furar o teto de gastos. Para ele, Guedes está sendo incoerente, já que no início do mês criticou o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, de propor o mesmo.

"O Paulo Guedes virou um cabo eleitoral do Bolsonaro, deixou de ser o ministro da Economia. Ele vai rendendo às pressões do Centrão, da cozinha do Palácio e do próprio presidente, que se sente empoderado, e, portanto, não tendo nem que prestar contas ao seu ministro da Economia, nem a mais ninguém, no meio de uma tarde anuncia um Bolsa Caminhoneiro, sem dizer de onde vem o dinheiro, porque está fazendo isso e se está de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou o ex-ministro.

O economista defende a existência de uma ajuda financeira à população mais vulnerável do país, mas afirma que isso deve ser feito respeitando as contas públicas.

A instituição fiscal independente está cansada de mostrar isso. Tem margem para acomodar uma ampliação do Bolsa Família. Ninguém pode ser contra uma ampliação do Bolsa Família desde que ela seja feita de forma responsável, do ponto de vista fiscal
Maílson da Nóbrega

Recessão

O ex-ministro Fazenda disse ainda não acreditar que o Brasil viverá uma recessão em 2022. Ele projeta um crescimento de 1,8% na economia do país para o próximo ano, mas faz uma ressalva.

"Se essa situação que está agora piorar, vamos ter que rever essa situação e não será difícil concluir que com toda essa confusão, com o dólar subindo, o Banco Central vai ter que aumentar os juros mais do que todo mundo está pensando", afirmou Nóbrega.

O economista também projeta uma taxa de juros Selic em 8,75% no final deste ano, mas acredita que o país poderá viver um cenário de estagflação, com estagnação econômica e inflação alta. Atualmente, a Selic está em 6,25% ao ano.

Já tem gente do mercado falando em Selic de 10,5% em 2022. Isso vai impactar negativamente na economia e pode gerar uma queda de consumo, investimento e recessão
Maílson da Nóbrega