Guedes ataca Maílson, Pastore e Meirelles: 'não fizeram nada'
O ministro da Economia, Paulo Guedes, subiu o tom contra os críticos e atacou neste domingo, de forma direta, economistas que fizeram parte de governos anteriores. Irritado com a repercussão do furo ao teto de gastos, Guedes criticou os economistas Maílson da Nóbrega, Affonso Celso Pastore e Henrique Meirelles. Segundo Guedes, os três não fizeram "nada" enquanto ocupavam cargos na administração pública.
O UOL entrou em contato com os três economistas, que não quiseram se manifestar sobre os ataques.
O teto de gastos é a regra fiscal que limita a despesa pública ao Orçamento do ano anterior corrigido pela inflação. Na última quinta-feira, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios foi aprovada na Comissão Especial da Câmara, o que abriu espaço para o furo no teto de gastos em 2022, ano em que Jair Bolsonaro tentará a reeleição.
As declarações de Guedes foram feitas ao lado do próprio Bolsonaro, no fim da manhã, em Brasília. Algumas das críticas mais fortes foram direcionadas ao ex-ministro da Fazenda no governo Temer e atual secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles.
[Meirelles] não fez a reforma da Previdência, não fez a reforma tributária. Não fez nada. Só botou o teto e saiu correndo.
Paulo Guedes, ministro da Economia
Criador do teto, Meirelles foi acusado por Guedes de promover três aumentos para o funcionalismo público, sendo que o terceiro deles já ficou sob a responsabilidade do governo de Jair Bolsonaro, em 2019. "Ele aumentou três anos seguidos o salário, calculou onde ficava o teto, para deixar de fazer esse excesso de gastos", disse Guedes.
A assessoria de imprensa de Meirelles informou que ele não iria se pronunciar sobre a fala de Guedes.
Ministro da hiperinflação
Ao lado de Bolsonaro, Guedes também atacou o economista Maílson da Nóbrega, que foi ministro da Fazenda entre 1988 e 1990. De acordo com Guedes, Maílson "levou o Brasil para 5.000% de inflação, com a política do feijão com arroz dele". "Então, ele levou o governo brasileiro ao caos, à hiperinflação", completou.
Na última sexta-feira, quando tratou do teto de gastos ao lado de Bolsonaro, em pronunciamento no Ministério da Economia, Guedes já havia demonstrado desconforto com as declarações de Maílson dadas à imprensa, nas quais ele criticava o governo e o estouro do teto de gastos.
Na ocasião, no entanto, Guedes não havia citado diretamente o nome de Maílson, apesar de ter mencionado a hiperinflação. Em 1989, a inflação no Brasil ficou próxima de 2.000%.
Atualmente, o IPCA - o índice oficial de preços - acumula alta de 10,25% nos 12 meses até setembro. Economistas e profissionais do mercado financeiro têm alertado para o risco de descontrole dos preços em função das dificuldades do governo no controle de despesas.
Em contato com o UOL, Maílson da Nóbrega afirmou que não iria se pronunciar.
Presidente do BC da ditadura
Guedes ainda disparou contra o economista Affonso Celso Pastore, que foi presidente do Banco Central de 1983 a 1985, durante o governo do general João Figueiredo, na ditadura militar. Assim como Meirelles e Maílson, Pastore tem criticado o estouro do teto de gastos.
O Affonso Pastore, que trabalhou com o governo militar, do Figueiredo, que foi um caos, que tocou fogo no Brasil, porque fez uma política errada, ele estava no Banco Central, não fez nada, e está me criticando porque estou ajudando um presidente democraticamente eleito. Ele ajudou um governo que não foi democraticamente eleito. Tinha que ficar quieto e ter uma velhice digna.
Paulo Guedes, ministro da Economia
O UOL fez contato com Pastore, mas ele não se pronunciou sobre os comentários de Guedes.
As declarações de Guedes contra outros economistas não chegam a ser uma novidade. Com carreira no mercado financeiro, Guedes se colocou como uma voz crítica a iniciativas como o Plano Cruzado, o Plano Collor e o Plano Real — lançados nas décadas de 1980 e 1990. Entre seu pares, nunca foi unanimidade.
Quebra do teto para bancar Auxílio Brasil
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios aprovada na quinta-feira em Comissão Especial da Câmara, com o patrocínio do governo Bolsonaro, prevê a possibilidade de o governo gastar R$ 83 bilhões a mais em 2022.
Parte destes recursos bancará o Auxílio Emergencial, o programa social que substituirá o Bolsa Família, no valor de R$ 400. O benefício será pago a 17 milhões de famílias até o fim do próximo ano, quando Bolsonaro tenta a reeleição.
Na sexta-feira, Guedes afirmou que, com a PEC dos Precatórios, o estouro do teto ficará próximo de R$ 34 bilhões em 2022. Na prática, isso significa que o governo gastará mais que o previsto, o que pressiona ainda mais a inflação.
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