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La Casa de Papel: Roubo de 4,3 bi de euros em ouro faria Espanha quebrar?

Divulgação/ Netflix
Imagem: Divulgação/ Netflix

Vinícius de Oliveira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

21/12/2021 16h53

A série "La Casa de Papel", da Netflix, chegou ao fim com o lançamento da segunda parte da quinta temporada, neste mês. Os fãs descobriram finalmente o que acontece com o grupo de assaltantes reunidos pelo Professor (Álvaro Morte) durante o roubo ao Banco da Espanha.

ALERTA DE SPOILER: Atenção, a partir daqui o texto fará revelações sobre a série!

Usando conceitos de engenharia, os bandidos mais famosos da ficção conseguiram retirar cerca de 90 toneladas de ouro dos cofres da reserva nacional espanhola através da tubulação de água. Na série, essa quantidade de ouro equivale a aproximadamente 4,3 bilhões de euros (R$ 27,82 bilhões).

Apesar de a cifra parecer surpreendente, para um país de economia robusta, como a Espanha, não é tanto dinheiro assim. Na série, Professor usa o valor roubado para chantagear o coronel Luis Tamayo (Fernando Cayo), chefe de segurança responsável por tentar deter os criminosos. Professor divulga para o público que o ouro foi roubado, o que desencadeia uma crise no mercado financeiro. Prevê, então, que a Espanha quebrará se Tamayo não aceitar as condições da gangue. Tamayo cede e, acreditando que o ouro foi devolvido, o mercado se recupera.

Roubo faria Espanha quebrar?

A série é um "total exagero", e a Espanha não quebraria por causa do roubo, de acordo com Rodrigo Natali, diretor de estratégia da casa de análise de investimentos Inversa e especialista em macroeconomia nacional e internacional.

"Mais importante que o estoque de dinheiro do governo são os fluxos financeiros, o PIB [Produto Interno Bruto], quanto a economia está crescendo, a lógica fiscal e a perspectiva econômica", diz.

Espanha tem 165 toneladas de ouro, e não 90

Assessor de investimentos da iHUB Investimentos e especialista em ações internacionais, Daniel Abrahão também afirma que a Espanha não quebraria com o roubo.

Um dos motivos é o tamanho das reservas internacionais da Espanha, que são de aproximadamente 80,8 bilhões de euros (R$ 463,74 bilhões), de acordo com relatórios divulgados pelo Banco da Espanha, em novembro, e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

"O relatório do Banco Central da Espanha também mostra que o país tem, em suas reservas, 13.338 lingotes de ouro, sendo que cada lingote pesa 12,4 kg. São mais de 165 toneladas de ouro, acima das 90 toneladas que os ladrões conseguiram roubar na série", diz Abrahão.

Natali diz que muitos países tem reservas em ouro, mas os estoques são uma porcentagem baixa do total das economias. Por isso, haveria poucas chances de o roubo se desenvolver como na série.

"É como se você tivesse 1% de ouro no balanço de ativos do governo, não muda quase nada. Se a Espanha fizesse um balanço hoje e dissesse que superestimou 1% das propriedades e as cortasse do balanço, aposto que os títulos espanhóis nem se mexeriam", afirma.

Professor acerta ao prever crise de confiança

Um assalto às reservas de ouro do Banco Central espanhol não quebraria o país, mas Professor estava certo ao prever que isso poderia causar desconfiança do mercado.

"A segurança do Banco Central Espanhol seria questionada, dada a fragilidade evidenciada no golpe. Por isso, a confiança dos mercados financeiros poderia despencar e ocasionar um crise", diz Abrahão.

Natali, porém, afirma que o efeito seria limitado. "Poderia haver impacto na Bolsa espanhola, mas não necessariamente, porque muitas empresas têm faturamento não só lá, mas na Europa inteira", fala.

Localização do ouro é segredo

Existe outra questão: boa parte do ouro da Espanha não está guardada no Banco Central espanhol.

"Eles não revelam, por motivos de segurança, onde está o ouro. Há relatos de que o prédio do Banco Central da Espanha faz a custódia de valores parciais desses lingotes", diz Abrahão.

"No entanto, a maior parte das reservas internacionais dos países em ouro físico está nos cofres do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) em Nova York, no Banco da Inglaterra, em Londres, e no complexo militar de Fort Knox, em Kentucky, nos Estados Unidos", afirma.

Ainda há o fato de que a Espanha não usa o ouro como principal lastro para suas dívidas. Atualmente, as reservas internacionais do país são lastreadas em euro e apenas uma parte, menos de 2%, está lastreada em ouro.