O que o mercado prevê para o último ano do mandato atual de Bolsonaro?
Quais são as previsões no mercado financeiro para a economia no último ano do atual mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL)? Analistas consideram que será difícil, marcado pelo baixo crescimento e abandono temporário das reformas administrativa e tributária.
O UOL ouviu André Perfeito, economista-chefe da Necton, Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, e Victor Scalet, estrategista da XP, para entender qual a expectativa de nomes de prestígio do mercado sobre 2022.
Desemprego, Inflação, juros
De acordo com eles, a economia do país enfrentará desafios, e o brasileiro continuará encarando um fraco desempenho das atividades.
Além disso, o quadro será agravado por uma inflação acima da meta principal, de cerca de 4% ao ano, e a taxa básica de juros (Selic) em alta.
Para Luiz Fernando Figueiredo, mesmo com a desaceleração na alta dos preços, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) poderá chegar a 5%, enquanto a economia deverá ter um crescimento baixo no ano que vem.
"O ano de 2022 ainda será desafiador para a economia, apesar da esperada queda na inflação, de 10% para 5% no final do ano. O PIB deve crescer no máximo 0,5%, com risco de ficar negativo. O desemprego deve seguir elevado e, com a fraqueza da atividade, pode mostrar até uma leve alta", disse.
"A taxa Selic deve atingir dois dígitos e dificilmente será cortada ao longo do ano, de tal forma que é inevitável o repasse das taxas mais altas para o crédito bancário. Em relação ao dólar, é difícil imaginar uma queda em um ano eleitoral, ainda mais com o Fed próximo de subir juros."
Eleições são um complicador
A análise é compartilhada por Victor Scalet, da XP. Segundo o especialista, o cenário para o ano que vem é desafiador, com um componente adicional causado pela instabilidade do período eleitoral.
"Temos uma desaceleração do PIB. Neste ano, deve cresce próximo de 4,5% ou 5%, mas fica perto de zero no ano que vem. A inflação deve fechar próxima de 10% neste ano e, no próximo ano, deve começar a desacelerar para a casa dos 5%. É um ano difícil, sempre há uma volatilidade eleitoral que faz parte do cenário, e já temos isso na conta", afirmou.
Reformas? Sem muita chance
Muito comentadas pelos agentes do mercado nos últimos anos, as grandes reformas, como a administrativa ou a tributária, não devem sair em 2022, de acordo com a análise dos especialistas.
Para André Perfeito, além de o ano ser historicamente complicado para que essa agenda reformista avance, a base do governo Bolsonaro também não tem grande interesse no tema.
"Há poucas chances de andar reformas importantes, como eventuais privatizações e reformas administrativas. Isso parece impedido por um calendário eleitoral que vem ocorrendo desde o começo de 2021, e a base do governo não se movimenta sobre o assunto", disse.
Segundo Luiz Fernando Figueiredo, o mercado já espera pela inércia do Congresso em relação a temas maiores. "Após a votação do Orçamento, o próximo tema em Brasília será eleição. Não há expectativa de aprovação de mais nenhuma reforma, e isso já é esperado, não deve afetar preços [de ações e investimentos em geral]", afirmou.
Segundo Victor Scalet, 2022 deve trazer, no máximo, a conclusão de alguma privatização, como a dos Correios, por exemplo.
"Devem avançar em legislações mais ordinárias e mais alguma coisa de micro, como algo regulatório ou privatizações da Eletrobras ou dos Correios. Isso tem mais chance de andar do que reformas macro, como a administrativa ou tributária", disse.
Qualquer notícia boa pode ajudar
O mercado vem prevendo um 2022 turbulento e com péssimos resultados. Não à toa, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, acumula queda de cerca de 10% neste ano, já se antecipando ao ano complicado a seguir.
Para André Perfeito, porém, como a expectativa dos agentes do mercado está muito ruim, qualquer notícia mais positiva pode fazer com que a Bolsa brasileira retome o campo positivo.
"Como a expectativa está tão baixa, qualquer coisa que venha pode ser uma boa notícia. Por isso, 2022 pode ser até bom para o mercado de capitais. Os preços dos ativos estão baixos, baratos, então falta uma boa desculpa para querer avançar", disse.
"Sobre Bolsonaro, há pouca expectativa de que qualquer coisa melhore. Mesmo que o ex-presidente Lula ganhe, parece que não será o fim do mundo para o pessoal da Faria Lima. O maior risco no âmbito político é o presidente [Bolsonaro] avançar na intervenção de preços na Petrobras, por exemplo, o que gera ruídos", afirmou.
Luiz Fernando Figueiredo diz que uma notícia política positiva para os agentes do mercado pode fazer com que mesmo o dólar, que vem se valorizando perante o real, retorne a um patamar mais baixo.
"Com o BC fazendo um aperto significativo da taxa de juros, qualquer notícia política positiva, como a ascensão da terceira via, agenda econômica razoável dos candidatos principais, pode fazer o real se valorizar mais ao longo do próximo ano", disse.
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