Dólar vai subir ou cair em 2022? Até quanto chega? Especialistas comentam
Resumo da notícia
- O dólar vai ficar muito mais caro ou vai recuar em 2022?
- Alta da taxa básica de juros no Brasil deveria ajudar real, mas tende a ser neutralizada por aumento de juros americanos
- Além de juros nos EUA, incertezas provocadas por eleições no Brasil devem manter dólar valorizado
O que vai acontecer com a cotação do dólar em 2022? Até onde a moeda americana vai? O UOL ouviu analistas para saber quais são as previsões para este ano em relação ao câmbio.
Especialistas dizem que o aumento da taxa básica de juros no Brasil, a taxa Selic, vai dar alguma ajuda ao real, mas esse fator deve ser anulado pela mudança da política monetária dos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai retirar dinheiro de circulação e começar a subir juros.
Além disso, apontam economistas, as eleições presidenciais no Brasil neste ano podem gerar incertezas sobre os rumos da economia do país, o que tende a reduzir a entrada de dólares aqui e a estimular a busca por proteção na moeda americana.
Qual o valor médio estimado para o dólar?
O dólar vai continuar cotado acima de R$ 5,50 ao longo do próximo ano, segundo projeções de economistas . As estimativas apontam para uma moeda americana em 2022 variando entre R$ 5,50 a R$ 5,80.
As projeções feitas por economistas de mais de cem instituições financeiras e consultorias para o Boletim Focus do Banco Central apontam que o dólar vai encerrar 2022 cotado a R$ 5,55, em um cenário em linha com as expectativas dos economistas ouvidos pelo UOL.
A confirmação dessas expectativas representa um dólar médio em 2022 mais forte que este ano, mantendo uma tendência que vem ocorrendo desde 2011.
O dólar está acima do patamar que seria o natural para os fundamentos da economia brasileira, mas temos o problema da política fiscal [gastos do governo], as eleições no Brasil e a expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos. Então não vejo espaço para um dólar abaixo de R$ 5,50.
Joelson Sampaio, professor da FGV EESP (Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas-SP)
O dólar entrou em 2020 valendo R$ 5,20, enquanto na entrada de 2022 a moeda americana está perto da casa de R$ 5,60.
Além disso, a moeda americana chegou a operar ao redor de R$ 5 ao longo de junho, tendo ficado abaixo de R$ 5,50 durante todo o terceiro trimestre. Um cenário considerado menos provável para 2022, apontam especialistas.
Por causa do cenário internacional, com preços ainda elevados de commodities, e aumento de juros no Brasil, o real poderia se valorizar. Mas o quadro eleitoral é sempre um fator de instabilidade. Portanto teremos muita volatilidade e não vejo muito espaço para alterações significativas no nível atual.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Faculdade de Economia da PUC-SP e presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia)
Veja a cotação média do dólar nos últimos anos
- 2010: R$ 1,76
- 2011: R$ 1,68
- 2012: R$ 1,96
- 2013: R$ 2,16
- 2014: R$ 2,36
- 2015: R$ 3,39
- 2016: R$ 3,49
- 2017: R$ 3,19
- 2018: R$ 3,66
- 2019: R$ 3,95
- 2020: R$ 5,16
- 2021: R$ 5,37 (até novembro)
(Fonte: Ipea)
Fatores que alimentam dólar forte em 2022
Economistas apontam três fatores que devem manter o dólar alto em 2022.
Gastos do governo brasileiro: As dúvidas sobre o compromisso do governo Jair Bolsonaro com as regras de equilíbrio das contas públicas, ou seja, de não elevar gastos além da capacidade de ampliar as receitas, já vêm alimentando a alta do dólar desde 2020, dizem economistas.
Isso influencia o dólar porque o receio de que a dívida pública saia do controle eleva o risco de que o governo não possa honrar compromissos, entre eles, aqueles com investidores dos títulos públicos locais e internacionais.
Essa preocupação cresceu depois que o governo encaminhou o plano de mudar as regras no teto de gastos para abrir espaço no Orçamento e poder gastar mais em 2022. Desde então o dólar passou a subir de forma mais insistente até se estabelecer acima dos R$ 5,50.
Projeto o dólar entre R$ 5,70 e R$ 5,80, já considerando essas mudanças com o furo do teto. Mas, se houver uma perda de controle das contas públicas, um descalabro fiscal maior, pode jogar minhas previsões fora porque o dólar vai disparar.
Fabio Pina, economista da FecomercioSP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo)
Eleições presidenciais: As eleições ampliam as dúvidas com relação aos gastos do governo e a outros temas econômicos, dizem especialistas. Planos de candidatos que defendam aumento de gastos públicos sem contrapartidas de receitas podem ser interpretados pelo mercado como risco de aumento do endividamento público.
As incertezas com relação ao cenário fiscal [gastos públicos] existem, porque o plano que o atual governo apresentou por meio da PEC dos Precatórios termina em 2022. A gente não sabe o que vai acontecer depois do fim do ano.
André Roncaglia, economista professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
Juros nos Estados Unidos: O Fed avisou no dia 15 de dezembro, no último encontro do comitê de política monetária do banco central americano, que vai acelerar a retirada de dinheiro da economia, reduzindo as compras de títulos públicos. O órgão também sinalizou que vai elevar juros em 2023.
Essas medidas reduzem a quantidade de dólares circulando na economia mundial, o que fortalece a moeda americana em relação às outras moedas no mundo, incluindo o real.
O aumento dos juros aqui tende a atrair mais dólares para o Brasil e segurar uma desvalorização maior do real, mas isso vai depender da política de juros internacionais, em especial das decisões do banco central dos Estados Unidos. Há uma redução das dívidas das empresas em dólar, então, a demanda por dólar deve diminuir, pressionando menos a taxa de câmbio, que deve chegar, no final de 2022, em patamares próximos aos atuais R$ 5,60.
Fausto Augusto Junior, diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)
O que pode conter a alta do dólar
Economistas ouvidos pelo UOL apontam dois fatores que podem ajudar a conter a valorização do dólar.
Aumento dos juros no Brasil: A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, já subiu de 2% para 9,25% desde março deste ano e deve seguir subindo até 11,75% ao longo do primeiro trimestre de 2022, conforme projeções de mercado.
A alta dos juros aumenta o rendimentos das aplicações de renda fixa no Brasil, e isso atrai dólares de investidores estrangeiros, interessados em aplicar em um dos mercados com uma das maiores taxas de juros do mundo.
Exportações e commodities: O dólar valorizado no Brasil favorece as exportações de empresas brasileiras porque o produto local fica mais barato no exterior, ou seja, mais competitivo.
E a expectativa de que a economia mundial cresça mais que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2022 ajuda a sustentar um cenário positivo para produtos brasileiros industrializados e também para as commodities (matérias primas como grãos, carnes e metais).
Nossa projeção para câmbio é de um dólar estável na casa de R$ 5,60, que é um dos mais valorizados desde 2004. Esse câmbio já está refletindo em mais exportações e também na substituição de importações em alguns setores.
Mário Sérgio Carraro Telles, gerente executivo de economia da CNI (Confederação Nacional da Indústria)
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