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Piada na internet, bar pé na areia em São Paulo fatura R$ 2 milhões por mês

Bares com pegada praiana viraram febre em São Paulo na pandemia - Reinaldo Canato / UOL
Bares com pegada praiana viraram febre em São Paulo na pandemia Imagem: Reinaldo Canato / UOL

Henrique Santiago

Do UOL, em São Paulo

31/03/2022 04h00Atualizada em 31/03/2022 10h02

O produtor de eventos Carlos Vaz, 35, estava desempregado e dependia do auxílio emergencial do governo federal quando apresentou uma proposta de negócio para investidores: um bar com pegada de praia em São Paulo. Após mostrar o projeto, conseguiu o aporte de quatro interessados e fechou um contrato de exclusividade com a gigante das bebidas Ambev.

Em 4 de dezembro de 2020, foi inaugurado o primeiro Estação SP no Tatuapé, bairro de classe média da zona leste. O conceito de levar o litoral para o concreto não é novidade na capital paulista, que já conta com esse tipo de empreendimento desde antes da pandemia de covid-19.

O que ele não poderia imaginar era que viraria um meme da internet. O compartilhamento de uma foto no Twitter gerou uma enxurrada de piadas no começo deste ano. Os comentários brincavam com o fato de os paulistanos tentarem recriar o clima de praia dentro da cidade.

Vaz diz que os comentários sobre o modelo de negócio não incomodam.

"Eu encaro de forma positiva porque logo que saiu a imagem nós ganhamos mais 3.000 seguidores nas nossas redes sociais. Tem quem olhe de forma maldosa e quem veja como algo legal. Em um ano, nossa marca já tem quatro unidades abertas. Ou seja, enquanto comentarem, tenho certeza de que vou atrair positividade para meu negócio."

Quadras, tabacaria e música ao vivo

Além de ser um bar com cara de praia urbana, cerveja e petiscos, há seis quadras de esportes de areia, como futevôlei e tênis de areia, seis lojas diversas, que vão de tabacaria a área para pets, e espaço para música ao vivo.

O aluguel da quadra custa de R$ 150 a R$ 200 a hora ou R$ 650 a R$ 800 por mês fechado.

Diferentemente de uma balada, o Estação SP abre às 6h e fecha às 23h, de segunda a segunda. As bebidas alcoólicas começam a ser vendidas às 10h, mas o público só começa a dar as caras depois do expediente, às 18h.

A entrada é paga aos sábados (R$ 30 para homem e R$ 20 para mulher) e domingos (R$ 20 para homem e R$ 10 para mulher) após as 12h, quando há show ao vivo. Na ausência de apresentações musicais, não há cobrança para entrar. Às quartas, também há cobrança de ingresso, e homens pagam R$ 20 a partir das 17h.

Área para relaxar

Praticante de futevôlei, o empresário pensava que um bar para andar os pés descalços chamaria a atenção do paulistano, principalmente em um contexto nada favorável para viajar naquele período de pandemia mais aguda.

"A situação financeira das pessoas não é a mesma de dois anos atrás, elas estão viajando menos. Propor um lugar aberto com ambiente de praia em São Paulo. Claro, não é praia, mas imita essa parte de ambiente. É uma opção para elas curtirem algo de diferente dentro da cidade", afirma Vaz.

A areia, que é um chamariz para o público, passa por limpeza diária. Ao todo, 200 toneladas do material são trocados a cada três meses, diz o sócio-proprietário.

Bar Estação SP, no Tatuapé - Reinaldo Canato / UOL - Reinaldo Canato / UOL
Clientela do Estação SP pode jogar futevôlei ou fumar narguilé
Imagem: Reinaldo Canato / UOL

Conquistar Brasil e Estados Unidos

Com pouco mais de um ano e três meses, a marca está em expansão. Já abriu mais três unidades: duas em São Paulo (um espaço para futevôlei na sede social do Corinthians, no Parque São Jorge, e outra no Morumbi) e uma em Belo Horizonte (MG). A principal casa é a do Tatuapé.

Em abril, São Caetano, no ABC Paulista, e Piracicaba, no interior paulista, também ganharão um Estação SP . A partir do segundo semestre, estão programadas mais 10 aberturas: São José dos Campos, Alphaville, Mogi das Cruzes, Praia Grande, Rio Claro e Campinas, em São Paulo, Maringá (PR), Lagoa Santa (MG), Três Lagoas (MS) e Goiânia.

Somadas as unidades já abertas, o Estação SP tem mais de 350 funcionários, entre contratações efetivas e temporárias. Com os novos bares previstos ainda para 2022, serão cerca de 800, estima Vaz.

Bar Estação SP, no Tatuapé - Reinaldo Canato / UOL - Reinaldo Canato / UOL
Clientes se sentem à vontade para pisar na areia descalços ou não
Imagem: Reinaldo Canato / UOL

A empresa pertence à Estação Holding, com 10 sócios. A abertura de uma nova unidade depende da entrada de investidores que banquem o negócio. É o caso de um empresário que quer levar o Estação SP em 2023 para Orlando, reduto de brasileiros nos Estados Unidos.

"A cidade é perfeita para nós. O clima é tropical como no Brasil e o público tem interesse em beach sports, mas lá não existe o entretenimento que oferecemos aqui", conta Vaz.

Segundo a empresa, o faturamento é superior a R$ 2 milhões por mês — R$ 1 milhão no Tatuapé, R$ 700 mil no Morumbi e R$ 350 mil em Belo Horizonte. A meta para a unidade da zona leste é chegar a uma receita de R$ 15 milhões em um ano.

O lucro mensal dos bares varia de R$ 400 mil a R$ 500 mil, diz Vaz. Ele não revela detalhes de investimentos na construção das unidades.

Carlos Vaz, sócio do Estação SP - Reinaldo Canato / UOL - Reinaldo Canato / UOL
Carlos Vaz, sócio do Estação SP: expansão para outras cidades e até EUA
Imagem: Reinaldo Canato / UOL

Preços 'padrão São Paulo'

Quem visitar o Estação SP terá que gastar pelo menos R$ 100 se quiser comer e beber bem, nada muito distante da realidade da classe média paulistana. Uma garrafa de cerveja de 600 ml custa de R$ 15 a R$ 18; as porções variam de R$ 20 (batata frita) a R$ 45 (seis pastéis de camarão) e uma pizza quadrada inteira não sai por menos de R$ 40 ou R$ 12 o pedaço.

Em uma noite de sexta-feira, por exemplo, é difícil achar uma cadeira vazia no Estação SP do Tatuapé. "As pessoas estão procurando bares abertos para se divertir, realmente se tornou uma febre. Aqui se trata de uma experiência, não uma praia", destaca.

Os frequentadores do bar são de diferentes perfis, de amigos que curtem o happy hour depois do trabalho a famílias com crianças que fazem castelos de areia. O contraste maior, porém, está no visual: há aqueles que vestem roupa social e pisam na areia fofa com sapato ou salto alto e outros que não fazem cerimônia para andar descalços e fumar narguilé.