Como gás chegará dos EUA à Europa para diminuir dependência da Rússia?
Com o objetivo de reduzir a dependência do gás russo — principal arma comercial do Kremlin —, a União Europeia fechou acordo com os Estados Unidos no fim de março para os americanos abastecerem a Europa com gás natural.
Inicialmente, os EUA fornecerão 15 bilhões de metros cúbicos em 2022, aumentando o volume nos próximos anos até chegar a 50 bilhões de metros cúbicos em 2032. Apesar disso, o montante não será capaz de substituir as importações de gás russo da Europa — só em 2021, foram cerca de 155 bilhões de metros cúbicos — mas já vai representar um alívio nas importações europeias.
O gás da Rússia para a Europa é levado por meio de dutos. "Sabemos que a Rússia exporta gás para a Europa por meio de dutos diretos que, ao longo do caminho, são repartidos por ramificações para vários países do continente", explica o advogado Antonio Carlos Morad, especializado em Petróleo e Gás.
Mas, como será feito o transporte dos EUA para a Europa, atravessando o oceano Atlântico?
Transporte de gás entre continentes
O transporte de gás intercontinental não é feito por dutos, e sim por navios. A tecnologia usada é a da liquefação do gás natural, o chamado gás natural liquefeito — GNL.
"O gás é extraído do subsolo de reservas específicas, tratado e processado. É neste momento que se dá a liquefação [processo físico que transforma gás em líquido], por meio do resfriamento a temperaturas extremamente baixas (-161º)", explica Luís Menezes, advogado especialista em Petróleo e Gás. Isso resulta em uma redução do volume a 1/600, permitindo o envio em navios-tanque desenhados para esse tipo de transporte.
"Quando o navio chega ao porto de destino, o produto é novamente gaseificado e aí vai para o destino desejado", completa.
O primeiro uso da liquefação do gás natural para fins de transporte foi em 1959, quando uma carga de GNL foi transportada dos Estados Unidos para a Inglaterra em navio especialmente preparado para receber o produto.
"O processo exige sistemas específicos de liquefação/regaseificação, que lidam com altas e baixas temperaturas e pressão. A logística de recebimento dos navios-tanque, por exemplo, não é tão simples, pois além das condições adequadas para a recepção da embarcação, é necessária toda uma estrutura para tratamento e armazenamento do gás a ser feita ainda nos terminais — seja de liquefação ou regaseificação", complementa Menezes.
Existem atualmente 37 terminais desse tipo na Europa.
Apesar da complexidade do processo, Menezes afirma que é uma atividade segura e que vem sendo praticada desde a década de 60 sem grandes acidentes.
Existe uma alternativa?
Uma alternativa é a utilização de Floating Storage and Regasification Units (FSRUs), que são supertanques que existem em estruturas nacionais e realizam o trabalho de armazenamento e processamento que seria realizado nos terminais.
A Alemanha, uma das principais dependentes do gás russo, vem buscando alternativas para não ficar refém dos portos de outros países e poder operar os seus próprios terminais.
"Por se tratar de uma obra complexa, a solução encontrada atualmente é o aluguel dos FRSUs. Especula-se que o governo alemão pretenda alugar 3 FRSUs para serem alocados em alto mar e receberem o GNL. Outros países europeus também têm demonstrado interesse nas estruturas para aumentar a capacidade de recebimento do GNL", finaliza Luís Menezes.
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