Indústria bélica, milho e trigo: quem ganha dinheiro com guerra na Ucrânia
Para além de a guerra entre Rússia e Ucrânia ser uma tragédia humanitária, o conflito militar também deve causar mudanças no comércio global e beneficiar setores de países que produzem commodities, como trigo, milho ou petróleo, e ainda a indústria de equipamentos militares.
Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, o vácuo da exportação de produtos fabricados pelos países afetados diretamente pela guerra e o aumento da procura por outros produtos devem fortalecer alguns itens. Também vão sair ganhando alguns países exportadores, como Austrália, China, França e Nigéria, por exemplo.
"No curto prazo, os países fornecedores de insumos que eram produzidos pelos países envolvidos direta ou indiretamente no confronto tendem a ser beneficiados", disse Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
Para Ricardo Rocha, professor de economia do Insper, países como China e Austrália, por exemplo, podem se beneficiar graças à valorização de alguns dos principais produtos que os países vendem durante o ano.
"Países produtores de commodities têm uma diferenciação em relação, sejam alimentos, minério ou petróleo. Então, sim, esses países devem se fortalecer", afirmou.
Os especialistas listaram alguns setores que podem sair fortalecidos do conflito entre Rússia e Ucrânia. Veja:
Milho
A Ucrânia era uma das principais produtoras de milho no mundo. Com a guerra, o país deverá reduzir a oferta do alimento, dando espaço para países como EUA e Argentina, segundo especialistas.
Dados da Conab mostram que a Ucrânia exportou, no ano passado, cerca de 18,7 milhões de toneladas de milho. Os líderes de exportação são EUA (54 milhões de t) e Argentina (33,5 milhões de t). Os dois principais produtores devem ganhar o mercado que a Ucrânia deixará de prover e também aproveitar a alta dos preços com a menor produção.
"Obviamente, em consequência de o preço das commodities terem subido muito pela escassez, esses países são os beneficiados nessa commodity", disse Thiago Guedes, economista da AMG Capital.
Indústria bélica
Além da produção de alimentos, a chegada de uma guerra na Europa após décadas também deve fomentar a venda de armamentos no continente.
"A consequência imediata dessas disputas é o aumento da corrida armamentista ao redor do globo, o que vai beneficiar os principais países fabricantes de armamento, aeronaves e demais equipamentos militares", disse Thiago Guedes, economista da AMG Capital.
Para Guedes, o principal beneficiado devem ser os EUA, que são o maior vendedor de armas no mundo. A Rússia é a segunda maior exportadora, e a França também deve se beneficiar, ocupando esse lugar.
Segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri), no ano passado, os EUA venderam US$ 10,6 bilhões em armamentos, enquanto a França, terceira colocada, vendeu cerca de US$ 3,9 bilhões.
Trigo
Os países envolvidos diretamente no conflito também são grandes produtores de trigo. Segundo dados da Conab, a Rússia ocupou a quarta colocação na produção do ano passado, com 72,5 milhões de toneladas, enquanto a Ucrânia foi a sexta, com 33 milhões de toneladas.
Entre a destruição da produção ucraniana e as dificuldades russas na exportação durante o conflito, países que já detêm grande parte da produção devem tomar parte do mercado.
A China, que produz 136 milhões de toneladas, e a Índia, com 108 milhões de toneladas no ano passado, lideram o ranking de produção e devem ampliar a exportação, de acordo com o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Minério
A redução na produção de minério, com aumento do preço, deve alavancar o setor, segundo análise da XP Investimentos.
Além disso, a Rússia e a Ucrânia são produtores relevantes de pelotas de minério. O material é um aglomerado de minério usado na produção de aço. Juntos, os dois países concentram cerca de 30% da oferta desse produto ao setor siderúrgico.
Com a guerra, há dúvidas sobre a produção, o que, dentre outros motivos, fez o preço da commodity subir cerca de 30% neste ano
A Metinvest, controlada pelo homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, por exemplo, disse que a Ucrânia reduziu mais da metade de sua produção de minério de ferro após a invasão russa.
Tanta incerteza na produção deve fazer com que a Austrália, maior exportadora de minério de ferro do mundo, possa abocanhar parte do mercado não suprido pelos países.
Petróleo
A guerra fez com que diversos países interrompessem as compras de petróleo russo. Países como Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Austrália proibiram a importação de petróleo do país.
O ponto problemático é que a Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, atrás apenas dos EUA e da Arábia Saudita, e toda a incerteza em relação à capacidade russa de extrair a commodity fez com que os preços aumentassem.
Dessa forma, segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, os maiores preços do petróleo e o vácuo da produção russa devem fazer com que novos investimentos sejam realizados no setor e, também, abre oportunidade para que países menores cubram essa demanda.
"É um dos setores que ganharam valor no produto, dado que o petróleo disparou e deve sair fortalecido pelos investimentos que serão feitos", disse.
Por isso, segundo especialistas, países com economias mais dependentes da exportação de petróleo, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, ou outros com grandes reservas, como Venezuela e Nigéria, podem se beneficiar.
De acordo com dados mais recentes da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do planeta, com 25% do total. A Nigéria fica atrás apenas dos países do Oriente Médio e conta com 3% das reservas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.