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Parmalat foi da glória no Palmeiras à falência; o que rolou com a empresa?

Como foi o fim da era de ouro da Parmalat - UOL
Como foi o fim da era de ouro da Parmalat Imagem: UOL

Felipe de Souza

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

28/05/2022 04h00

Há 30 anos, começava uma parceria de sucesso entre o Palmeiras e a fábrica de laticínios Parmalat e junto veio a chamada "era vitoriosa" do clube e a fase de ouro da empresa. Mas, o que mudou de 1992 até agora?

Criada em 1961 na Itália, por Calisto Tanzi —empresário que queria se transformar no "magnata do leite"—, a Parmalat viveu tempos de glória lá fora e aqui no Brasil.

Desenvolvendo novas soluções, como o leite longa vida, que consegue durar seis meses sem perder as propriedades nutricionais, logo a empresa ganhou fama e alcançou a liderança de vendas na Itália.

Na década de 1970, a Parmalat começou a patrocinar a equipe Brabham de Fórmula 1 —onde o piloto Nelson Piquet começou a correr anos depois— e o time de futebol Parma, onde atuou em esquema de cogestão.

Foi aí que o reconhecimento global veio. E o dinheiro também.

A Parmalat fez uma nova versão do comercial dos mamíferos —crianças vestidas de animais—, que já havia feito sucesso nos anos 70. Novamente, um sucesso global. O fator "fofura" conquistou os telespectadores, que passaram a consumir ainda mais os produtos da marca, que é lembrada por isso até hoje.

A empresa patrocinou times da Argentina (Boca Junior e Estudiantes), Chile (Universidad Católica, Audax Italiano), Uruguai (Peñarol), Equador (LDU), França (Olympique de Marseille), Rússia (Dínamo de Moscou), Portugal (Benfica), Espanha (Real Madrid), México (Toros Neza) e até a seleção dos Estados Unidos.

A Parmalat também participou da cogestão do Juventude (de Caxias do Sul) e do Santa Cruz (do Recife).

Em 1992, veio a parceria com o Palmeiras, o começo da "era vitoriosa" do clube paulista. Na época, o time vivia uma fase complicada. O jejum de títulos durava 16 anos.

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O Palmeiras estava com tudo durante a parceria com a Parmalat
Imagem: Reprodução/Futretro

A Era Parmalat

Com uma injeção de dinheiro e um planejamento bem feito, a parceria Palmeiras-Parmalat fez com que o time voltasse a gritar "campeão" na década de 1990. Em 1993, o Verdão levou o Campeonato Paulista goleando o Corinthians na final por 4 a 0.

No Campeonato Brasileiro daquele ano, depois de ótima campanha na primeira fase, o time faturou o título com dois triunfos sobre o Vitória na decisão. Na mesma temporada, o Palmeiras ainda conquistou o Torneio Rio-São Paulo, contra o Corinthians.

Em 1994, levou o bi do Brasileirão, e, na Libertadores, o Palmeiras massacrou o Boca Juniors no Palestra Itália em noite de gala de Mazinho. O placar de 6 a 1 foi a maior derrota do time argentino até então.

Em 1996, o Palmeiras venceu o Paulistão. Em 1998, a Copa Mercosul e a Copa do Brasil. Em 1999, veio a conquista da Libertadores, o título mais importante para o clube na época e que ainda é lembrado.

No ano 2000, a parceria com a Parmalat terminou, mas, no primeiro semestre, o clube venceu o Torneio Rio-São Paulo e a Copa dos Campeões (campeonato que reunia os principais clubes brasileiros na época), além de ser vice-campeão da Copa Mercosul pela segunda vez e da Libertadores.

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Bichos da Parmalat são lembrados até hoje
Imagem: Reprodução/Parmalat

De mecenas à falência

Em 2003, a Parmalat entrou em crise. Tudo começou quando a empresa disse que uma conta nas Ilhas Cayman, que teria saldo de 4 bilhões de euros (R$ 21 bilhões, na conversão livre), na verdade não existia.

Os executivos então procuraram a proteção da lei de falências e começaram os processos.

As autoridades italianas descobriram, mais tarde, que Tanzi tinha escondido quadros de Pablo Picasso, Claude Monet e Vincent van Gogh para que não fossem tomados pelos credores. As peças foram leiloadas em 2019.

Uma falência fraudulenta aconteceu, com dívidas que superavam os 14 bilhões de euros (R$ 71 bilhões, em conversão livre). Pequenos empresários se viram sem saída.

Nisso, os patrocínios para os esportes cessaram.

Calisto Tanzi foi preso em 2011 e condenado a oito anos de prisão. Ele morreu em janeiro de 2022, aos 83 anos.

Em 2005, a Parmalat Brasil entrou em recuperação judicial, graças à lei que havia sido aprovada meses antes. Anos depois, a Laep Investments comprou a empresa.

Já em 2007, uma nova crise: dois lotes de leite da empresa foram apreendidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porque estavam com suspeita de adulteração por soda cáustica e peróxido de hidrogênio.

A investigação descobriu que duas cooperativas de Minas Gerais, que vendiam leite para Parmalat e outras empresas, estavam contaminando o produto.

Em 2011, a empresa francesa Lactalis adquiriu o controle acionário da Parmalat em nível global.

A empresa retomou as atividades no Brasil em 2015, quando relançou o comercial dos mamíferos.

Hoje, a Parmalat ainda comercializa produtos, "produzidos dentro dos padrões de qualidade preconizados pelo grupo", segundo a companhia, e mantém acesa a memória afetiva de muita gente.