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Disparada dos combustíveis impulsiona lucro de R$ 54,3 bi da Petrobras

Receita da estatal foi favorecida por reajustes nos preços da gasolina e do diesel - Aleksandr_Vorobev/Getty Images
Receita da estatal foi favorecida por reajustes nos preços da gasolina e do diesel Imagem: Aleksandr_Vorobev/Getty Images

Do UOL, em Brasília

28/07/2022 20h25

A disparada dos preços dos combustíveis é o principal motivo para o lucro registrado pela Petrobras no segundo trimestre deste ano. A companhia informou na noite desta quinta-feira (28) que obteve um lucro líquido de R$ 54,3 bilhões no período. No primeiro trimestre do ano, a estatal já havia lucrado R$ 44,56 bilhões.

O Ebitda (Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, na sigla em inglês) ajustado —um indicador bastante observado por analistas financeiros— somou R$ 98,3 bilhões no segundo trimestre. De modo geral, os números traduzem o resultado consistente da companhia no período.

Durante a tarde, a Petrobras informou que aprovou o pagamento recorde de R$ 87,8 bilhões a seus acionistas. Segundo a empresa, o repasse será feito em duas parcelas, com montantes iguais nos meses de agosto e setembro. Desse total, o governo federal —principal acionista— receberá R$ 32 bilhões. O valor soma-se a outros R$ 32 bilhões já repassados à União em 2022.

A Petrobras anunciou reduções nos preços dos combustíveis recentemente, mas já em julho, no terceiro trimestre.

O que explica esse lucro? Analistas ouvidos pelo UOL afirmam que o desempenho da estatal no segundo trimestre se deve principalmente à alta global do petróleo e de seus derivados.

Como segue a política de PPI (Preços de Paridade de Importação), que leva em conta os valores dos produtos no mercado internacional, a estatal promoveu aumentos nos preços no mercado interno, elevando as receitas com combustíveis.

"A alta do preço do petróleo se reflete no aumento do preço dos combustíveis. Tudo mais constante, isso faz com que a empresa tenha lucros", resume Luis Nuin, analista da Levante Ideias de Investimentos.

Os combustíveis subiram no segundo trimestre? Em Londres, o preço do barril de petróleo tipo Brent, uma referência para o mercado internacional, chegou a ser cotado em US$ 123 no início de junho. Em dezembro de 2021, custava US$ 77.

O avanço do petróleo, na esteira da guerra entre Rússia e Ucrânia e do aumento da demanda em vários países, fez a Petrobras promover reajustes também no Brasil, para acompanhar as cotações externas. Houve aumentos no primeiro trimestre —que impactaram os resultados também dos meses seguintes —e no segundo trimestre.

De janeiro a junho (fim do segundo trimestre), a estatal promoveu os seguintes reajustes na gasolina e no diesel:

11 de janeiro

  • Gasolina: +4,85%
  • Diesel: +8,08%

10 de março

  • Gasolina: +18,77%
  • Diesel: +24,9%

9 de maio

  • Diesel: +8,9%

18 de junho

  • Gasolina: +5,18%
  • Diesel: +14,26%

Apenas no primeiro semestre, a gasolina nas refinarias aumentou cerca de 31% e o diesel teve alta de aproximadamente 68%.

Houve repasse de toda a alta externa? Analistas afirmam que a Petrobras, em função da política de PPI, repassou os custos para o mercado interno, mas não totalmente.

O analista de ações Regis Chinchila, da Terra Investimentos, diz que houve dificuldades para o repasse integral de preços por causa da pressão política. "Houve troca de presidentes, da diretoria da Petrobras no período", lembra. "O lucro do segundo trimestre até poderia ter sido maior se o repasse fosse imediato."

Em meio às críticas pelo aumento dos preços dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (PL) trocou seguidamente o comando da Petrobras durante o segundo trimestre. O general Joaquim Silva e Luna deixou o cargo em 13 de abril, pressionado pelo Planalto, e José Mauro Ferreira Coelho ficou no cargo apenas entre 14 de abril e 20 de junho, após a estatal ter promovido novos aumentos.

O atual presidente da estatal, Caio Mário Paes de Andrade, assumiu o cargo em 28 de junho, numa tentativa do governo para segurar os preços durante a campanha eleitoral. Bolsonaro tentará a reeleição em outubro.

Em outro movimento, a estatal promoveu na quarta-feira (27) uma mudança na dinâmica de reajuste de combustíveis. A partir de agora, o conselho de administração e o conselho fiscal da companhia passarão a supervisionar a execução da política de preços. Para isso, a diretoria executiva da estatal —que é responsável por determinar os reajustes dos combustíveis— deverá informar os dois conselhos, a cada três meses, sobre a evolução dos preços do diesel, da gasolina e do gás no Brasil, além da participação da Petrobras em cada mercado.

Para especialistas do mercado de petróleo, a novidade aumenta a pressão o governo federal sobre as decisões de preços.

Outros fatores contribuíram para o resultado no trimestre? De acordo com o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), além da alta de preços, dois fatores contribuíram para o resultado positivo da Petrobras no segundo trimestre: a redução do custo de produção da companhia, em função da produtividade elevada do pré-sal, e a venda de ativos e compensações.

Ainda assim, conforme a entidade, o aumento dos preços dos derivados é o principal motivo para o bom desempenho no trimestre.

Só a Petrobras está lucrando? Nuin, analista da Levante, afirma que a estatal brasileira não é a única companhia do setor a aproveitar a disparada dos preços do petróleo. Todas as petroleiras estão apresentando lucro alto, reflexo do petróleo, afirma.

Lucro também será alto no terceiro trimestre? Com a queda mais recente no barril de petróleo, que chegou a US$ 107 no fim de junho, a Petrobras iniciou neste mês um movimento inverso, de redução nos preços dos combustíveis.

Este mês, a estatal já anunciou dois cortes no preço da gasolina nas refinarias, de 4,93% em 20 de julho e de 3,88% a partir de 29 de julho. A queda acumulada da gasolina nas refinarias este mês é de 8,62%.

Chinchila, da Terra Investimentos, avalia que, se a queda de preços persistir, é natural que a companhia registre lucros um pouco menores no terceiro trimestre.

Mas o cenário é incerto, conforme Nuin, da Levante. "Estamos começando um período que, ao que tudo indica, vai ser bastante complicado no ambiente econômico, o que pode reduzir a demanda por combustíveis. Mas não acho que o petróleo vá cair vertiginosamente nos próximos meses", afirma. "A conta para o próximo trimestre é isto: quanto teremos de redução de preços, via queda do petróleo, é quanto a demanda vai se manter, diante de uma economia mais fragilizada."