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Auxílio de R$ 600: 'Sonho em comprar bolacha e leite para meus 5 filhos'

Luciane Ponticel irá reservar o dinheiro do Auxílio Brasil para comprar comida - Arquivo Pessoal
Luciane Ponticel irá reservar o dinheiro do Auxílio Brasil para comprar comida Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

13/08/2022 04h00

O novo Auxílio Brasil de R$ 600 começou a ser pago. O que as pessoas vão fazer com o dinheiro? A faxineira Luciane Ponticel de Sousa, 36, planeja fazer uma compra de supermercado para um mês inteiro. Ela recebeu o novo valor temporário na quarta-feira (10) e colocou a alimentação de seus cinco filhos como prioridade.

Leite e bolachas são os itens que irão voltar ao carrinho, já que ultimamente só tem conseguido comprar o básico, como arroz, feijão e macarrão.

"Eu só consigo fazer compras com esse dinheiro. Devido ao sobe e desce de valores, não consigo comprar muita coisa. Com o pagamento de R$ 400 eu faço uma compra para 15, 20 dias, no máximo", afirma.

Considerada uma aposta do governo Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, o Auxílio Brasil turbinado irá valer até o final deste ano. Entre agosto e dezembro, os beneficiários receberão o pagamento mínimo de R$ 600. A partir de janeiro de 2023, o valor retorna para R$ 400.

Segundo o Ministério da Cidadania, 20,2 milhões de famílias receberão o benefício em agosto, após a aprovação de 2,2 milhões de novos beneficiários.

Valor complementa dinheiro das faxinas

Mãe solo, Luciane usa o dinheiro que ganha com faxinas para complementar a renda da casa onde vive com a família em Duque de Caxias (RJ). O Auxílio Brasil é a sua principal entrada de dinheiro, já que atualmente ela consegue faturar R$ 360 por mês com o serviço de limpeza e R$ 150 de pensão alimentícia de um de seus filhos.

Ela fez uma divisão para os próximos meses: R$ 500 vão para alimentação e R$ 100 para o gás de cozinha. Ela não recebe o Auxílio Gás do governo, que irá pagar R$ 110 em agosto para 5,6 milhões de famílias.

"Eu já cheguei a ficar três dias sem gás em casa. Tive que me virar para comer uma panela de arroz", declara Luciane.

'Queria fazer um almoço bacana para meus filhos'

Joziane Andrade deixa o dinheiro do Auxílio Brasil no supermercado - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Joziane Andrade deixa o dinheiro do Auxílio Brasil no supermercado
Imagem: Arquivo Pessoal

A cabeleireira e manicure Joziane Andrade, 29, teve que cortar a internet de casa porque não tem mais dinheiro para pagar o plano. Ela mora em Duque de Caxias (RJ) em uma casa no quintal da avó com os três filhos. Diz que não saberia o que fazer se tivesse que pagar aluguel.

Sua clientela caiu drasticamente na pandemia. Em julho, ganhou R$ 200. Em um mês bom, consegue tirar R$ 800. "As pessoas não têm mais dinheiro para esses luxos", afirma.

Ela planeja usar os R$ 600 depositados na quinta (11) para comprar leite e fralda de "marcas melhores" para seus filhos. Roupas para as crianças também são uma necessidade. Pretende ainda pegar uma parcela ainda não definida do dinheiro para comprar novos materiais de trabalho.

Preocupada com o alto custo da alimentação, ela sonha com o dia em que poderá preparar uma refeição com mesa farta para sua família. "Eu nem lembro mais o gosto de um contrafilé. Não consigo mais fazer uma sobremesa legal, um almoço bacana", diz Joziane.

Auxílio de R$ 600 enxuga gelo, diz confeiteira

Cristiane Aparecida da Silva diz que o Auxílio Brasil turbinado terá pouco impacto - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Cristiane Aparecida diz que o Auxílio Brasil temporário de R$ 600 terá pouco impacto
Imagem: Arquivo Pessoal

A confeiteira Cristiane Aparecida da Silva, 33, tem atualmente cinco clientes fixos. A venda de bolos, pães de mel e trufas despencou 90% neste ano, diz. Ela vive com o marido, que está desempregado, e quatro filhos em São Paulo.

O dinheiro do Auxílio Brasil ajuda a bancar seus gastos com comida, mas ainda assim ela não consegue encher o carrinho.

Virou rotina em sua vida ir atrás de ofertas em pelo menos três supermercados em um dia e procurar produtos próximos da data de validade, vendidos com grandes descontos nesses lugares. Na época do Auxílio Emergencial, ela afirma que conseguia fazer estoque de arroz e feijão.

Por causa da escalada dos preços, a confeiteira diz que a alimentação de sua família piorou. "Tenho comprado muitos embutidos, tipo linguiça e hambúrguer. É o que dá para pôr na mesa. O problema vai ser visto daqui a alguns anos, com pessoas com problemas de saúde e obesas."

Mesmo com o valor mais alto, Cristiane diz que isso terá pouco efeito na sua vida. Ao menos sua filha de 2 anos terá mais leite para tomar. "Só vai dar uma enxugada no gelo porque a inflação está alta. O ano vai virar e a gente que é pobre vai continuar na mesma... Ou vai piorar."