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Estou tirando da poupança para pagar médico, diz psicóloga que faz bicos

Nathália Teixeira usa a poupança para pagar consultas médicas já que não tem plano de saúde - Acervo pessoal
Nathália Teixeira usa a poupança para pagar consultas médicas já que não tem plano de saúde Imagem: Acervo pessoal

Do UOL, em São Paulo

16/08/2022 04h00

A psicóloga Nathalia de Castro Teixeira, 25, mora em Atibaia (SP) e está precisando tirar dinheiro da poupança para pagar consultas médicas, a fatura do cartão e a conta de internet. Enquanto não encontra uma vaga na sua área de formação, está em um trabalho temporário para ganhar algum dinheiro.

Em julho, os brasileiros sacaram mais dinheiro do que depositaram nas cadernetas de poupança. A "perda" da poupança foi de R$ 12,663 bilhões, de acordo com dados do BC (Banco Central). Foram R$ 290,421 bilhões em depósitos frente a R$ 303,084 bilhões em saques. O levantamento do BC não diz quanto desse dinheiro foi tirado para outras aplicações ou para gastos do mês.

Pagar cartão e consulta médica

Teixeira mora em Atibaia (SP) e também está precisando tirar dinheiro da poupança para pagar suas contas. Como era estagiária, Teixeira diz que já precisou usar o dinheiro da poupança em outros momentos, mas que neste ano a situação ficou pior.

Teixeira fazia estágio em psicologia, o contrato acabou e ficou desempregada. Na época, contou com a ajuda dos pais para pagar as contas. Como ainda não encontrou uma vaga na sua área, está trabalhando temporariamente como recenseadora do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), profissional que faz a coleta de dados para o censo demográfico brasileiro.

Hoje o dinheiro da poupança é usado para pagar o cartão de crédito, a internet e consultas médicas, já que a conta não fecha no final do mês. Teixeira não tem plano de saúde.

"Eu tinha em mente que acabaria usando a poupança enquanto estivesse desempregada, mas agora que estou trabalhando temporariamente penso que uma parte do que eu ganhar eu preciso muito guardar para repor o que gastei", afirma Teixeira.

Apesar dessa vontade, não está conseguindo guardar um valor específico na poupança. Ela tem uma aplicação automática na conta corrente, mas que logo é consumida pelas contas.

Enquanto isso, está estudando e se aperfeiçoando para conseguir uma vaga na área de psicologia, curso em que se formou no começo deste ano.

Advogada tira da poupança para pagar mercado

Uma advogada de 34 anos, de Porto Alegre (RS), que não quis se identificar, também está usando dinheiro da poupança para pagar as contas desde junho deste ano. Ela é autônoma e está enfrentando dificuldades para receber os pagamentos de seus clientes. Além disso, depois da pandemia, a carteira de clientes vem diminuindo.

Fez um saque de R$ 1.000 na poupança em junho e ainda está usando esse dinheiro para pagar as contas. A advogada diz que mantém a poupança por ser autônoma e ter uma reserva para momentos mais apertados, como o que está vivendo hoje. Antes da atual fase, diz que não lembra a última vez em que precisou usar o dinheiro da poupança para pagar as contas básicas.

Além de usar o dinheiro da poupança, ela e o marido, que também é advogado, precisaram diminuir o padrão de vida que tinham antes para cortar gastos e fechar o mês com todas as contas pagas.

No mercado, decidiu não comprar mais óleo de soja —a embalagem passou de R$ 8 para R$ 10 em duas semanas no mercado em que costuma fazer compras. A advogada também está trocando as marcas de produtos, como o arroz, para economizar.

O casal costumava fazer pelo menos uma viagem por ano, mas não fez nenhuma neste ano e não têm nenhum plano de viagem nos próximos meses, porque a situação financeira ainda está difícil.

A advogada diz que quer repor esses R$ 1.000 que tirou da poupança, mas não sabe quando vai conseguir fazer isso, já que continua usando o dinheiro guardado.

Questão de sobrevivência

Gabriela Chaves, economista e CEO da NoFront, plataforma com o objetivo de promover o empoderamento financeiro da comunidade negra, diz que a saída de recursos da poupança foi impulsionada por "sobrevivência".

Apesar de ter registrado deflação em julho (-0,68%), a inflação dos alimentos ainda é alta, o que dificulta a vida dos brasileiros, segundo Chaves.

Chaves afirma que o novo Auxílio Brasil de R$ 600 até o fim do ano não deve aliviar muito a situação e ajudar as pessoas a guardar dinheiro de novo na poupança. Os R$ 200 a mais devem também ser usados para pagar as contas básicas, segundo Chaves.

Em 2020, quando o governo pagou o Auxílio Emergencial, a poupança teve recorde de depósitos, mas o cenário lá atrás era outro. A inflação fechou o ano de 2020 com alta de 4,52%. Hoje acumula alta de 10,07% nos últimos 12 meses até julho, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).