'Fui demitido e preciso escolher entre pagar aluguel ou faculdade'
Bruno Kelvin Moreira, 23, esperava ser efetivado em seu emprego, mas foi demitido em maio deste ano. Ele planejava usar uma parte do salário como operador de linha de montagem em uma multinacional para pagar as mensalidades da faculdade de economia recém-iniciada.
Agora, porém, encara a possibilidade de trancar o curso online na Universidade Estácio de Sá ainda no primeiro semestre. "Eu já nem sei como vou pagar o aluguel no mês que vem. A prioridade é ter onde morar. Em outubro eu vou estar zerado", declara ele.
Moreira está à procura de trabalho há três meses, mas afirma que não fez nenhuma entrevista nesse período. Ele vive na zona rural de Cachoeira de Minas (MG), uma cidade com pouco mais de dez mil habitantes, e diz que sempre deixa claro para os recrutadores seu interesse em mudar de cidade para aumentar suas chances de ser contratado.
Diante do atual cenário, passou a depender da ajuda de seus pais para se alimentar. Ele prefere estagiar na sua área a trabalhar em uma indústria, porém sabe que não pode escolher. Entre aluguel, contas e despesas, seus gastos mensais giram em torno de R$ 800.
"Eu nunca tive oportunidade de escolher onde trabalhar, principalmente por não ter curso superior. Agora prefiro procurar [estágio em Economia] para poder ampliar meus conhecimentos, mas se vier trabalho braçal eu vou atrás", afirma o estudante.
Desemprego é pedra no sapato de geração jovem
Uma pesquisa da consultoria IDados mostra que a geração com idade entre 18 e 24 anos é a que mais sofre com o desemprego. Praticamente um em cada quatro jovens (23%) estava desocupado no primeiro trimestre de 2022, muito acima de pessoas de 25 a 44 anos (10%), 45 a 64 anos (7%) e acima de 65 anos (3%).
No total, 3,6 milhões de pessoas na faixa de 18 a 24 anos estavam desempregadas no período.
Para Moreira, o essencial nos dias de hoje é conseguir trabalho para "sobreviver", o que para ele significa pagar as contas e ter o que comer todos os dias. A falta de resposta aos currículos enviados preocupa.
"Eu estou um pouco abalado, confesso. Não consigo saber que caminho tomar a partir de agora", diz.
A procura por uma oportunidade
O estudante Pedro de Mari, 20, também busca seu primeiro estágio. Ele está no segundo semestre do curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Anhembi Morumbi e participou de quatro processos seletivos. Mas diz que ficou no "quase" em todos eles por uma única razão.
"Eu perdi as vagas para pessoas que já estavam quase formadas. As empresas pedem uma experiência absurda para quem é jovem", afirma De Mari, que aponta como vantagem a seu favor a conclusão de um curso em escola técnica na sua área.
Ele pediu demissão após trabalhar por dois meses como atendente de ouvidoria terceirizado da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). A vaga de meio período, com escala de domingo a domingo e duas folgas por mês, e um salário inferior ao mínimo (R$ 1.212) desmotivaram sua permanência na empresa.
De Mari afirma ter dois currículos: um de estudante de faculdade e outro geral para tentar vagas em supermercados ou lojas de Mogi Mirim (SP), onde vive, mas também esbarra na falta de experiência. Bolsista integral, ele declara que a situação seria pior se sua família não bancasse seus gastos com transporte, alimentação e materiais essenciais para estudar.
Ainda assim, faltam um notebook para acessar programas do curso e uma prancheta para desenho técnico. "Eu estou bem desanimado com o que vejo no mercado de trabalho. Mas sinto que quando tiver mais experiência vou conseguir um estágio. Tenho essa fé, digamos assim", declara o jovem.
Desempregado e à procura de especialização
Aurélio Freitas, 21, ganhava pouco mais de um salário mínimo para fazer separação e classificação de pneus em uma multinacional na cidade de Feira de Santana (BA). Ele pediu demissão porque o trabalho braçal "estava acabando com a sua saúde" e imaginava uma recolocação rápida no mercado. Entretanto, aguarda há três meses para ser chamado para uma entrevista.
O jovem já trabalhou anteriormente como garçom em restaurante e vendedor em loja de brinquedos. Ele acredita que essa experiência possa ajudá-lo a conseguir uma vaga, sobretudo no segundo semestre deste ano, já que irá começar o curso de fisioterapia na Unef (Unidade de Ensino Superior) de Feira de Santana.
O sonho de entrar na faculdade só foi possível depois de conquistar uma bolsa de 50%. "Se fosse para pagar o valor inteiro, eu não ia conseguir", diz. No começo, apenas seus pais vão custear os boletos da faculdade. Mas Freitas espera que consiga dividir essa conta em breve.
A procura por estágio deve ficar apenas para o segundo ano da graduação porque sua prioridade no momento é conseguir um emprego fixo. Freitas tem interesse em traçar um plano de carreira em fisioterapia, só que ele pode descartar esse objetivo se pintar alguma oportunidade que pague melhor em outra área.
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