Ganância ou desespero? Por que brasileiro cai em tantos golpes financeiros?
Golpe de renegociação de dívida e Urubu do Pix são alguns dos exemplos de armadilhas que existem por aí e que pegam brasileiros.
Uma pesquisa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) mostra que três em cada dez brasileiros já foram vítima de golpe ou tentativa de golpe neste ano, número que vem crescendo. Em setembro de 2021, eram 21%. Em junho deste ano, o percentual passou para 31%.
Por que caímos em golpes? Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV (Fundação Getúlio Vargas), afirma que sempre existe uma história por trás do golpe. As pessoas que caem são aquelas que se identificaram com a narrativa de alguma forma.
Às vezes a pessoa acredita em um golpe por se relacionar a uma fraqueza pessoal, a um desejo, ou até a uma vontade de tirar vantagem daquela situação, diz Kanter.
Vera Rita de Mello Ferreira, presidente latino-americana da Iarep (Associação Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica, em português), diz que dinheiro "grande, rápido e mole" é irresistível e atrai qualquer um.
Medo de perder uma grande chance: Existe também um fenômeno chamado Fomo, que em português quer dizer "medo de perder oportunidades". A pessoa acaba se convencendo pelo medo de desperdiçar uma chance de se dar bem, enquanto outros estão aproveitando. Ferreira diz que a vítima prefere tentar a sorte a correr o risco de ficar para trás.
Se a história for algo que a pessoa ache absurdo, ela nunca vai cair. O problema é quando a narrativa criada pelos golpistas conversa de alguma forma com a vítima
"A pessoa acha que é verdade e que os outros é que são bobos de não aproveitar. Muitas vezes é desespero. A pessoa precisa tanto de dinheiro, que ela acredita nas coisas mais absurdas. Tem tanta coisa aparecendo a cada dia na internet, tantas novidades que ninguém tem certeza sobre o que é sério ou não", afirma Ferreira.
Endividados caem mais em golpes? Ferreira afirma que o endividamento das famílias aumenta as chances de as pessoas se tornarem vítimas de golpes financeiros. Hoje 79% das famílias do país estão endividadas, dado recorde de acordo com a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
O endividamento deixa as pessoas ainda mais vulneráveis. Ferreira afirma que as dívidas fazem a pessoa acreditar que exista uma solução simples, fácil e acessível. Nesse cenário, a história criada pelos golpistas é vista como a salvação.
Para Kanter, quem está sem dinheiro ou com vontade de consumir algo que não consegue são os mais predispostos a cair em golpes. Quem está com todos os desejos atendidos é mais difícil de ser vítima, independentemente do nível de estudo ou classe social.
Falta de dinheiro para compras induz a golpes? Ferreira afirma que as pessoas que vivem sempre negando compras a si mesmas por falta de dinheiro acabam perdendo o autocontrole.
Quem está nessa situação fica focado o tempo todo nas dívidas e na falta de dinheiro, o que abre espaço para esses momentos de fraqueza, afirma Ferreira.
É mais seguro acreditar em amigos? Mesmo que determinada proposta chegue por meio de amigos, familiares ou conhecidos, é importante checar a veracidade daquilo. Ferreira diz que quando o golpe é apresentado por um conhecido, as chances de cair são ainda maiores.
Esses amigos ganham um ar de autoridade, e isso reduz as dúvidas sobre a veracidade de uma proposta. O conhecido também pode estar sendo enganado, e ambos sofrem prejuízo.
Como evitar cair em um golpe? As empresas têm desenvolvido cada vez mais mecanismos de segurança para que o consumidor passe por uma série de etapas antes de concluir uma transação bancária. Dependendo do valor do Pix, por exemplo, pode ser que seu banco peça uma confirmação via biometria facial ou digital de que você está fazendo a operação.
Além de diminuir as chances de fraude caso a conta tenha sido invadida, Kanter diz que isso ajuda a fazer a vítima pensar antes de fazer uma transferência. O especialista diz que os golpes são muito emocionais, e o aumento dos mecanismos de checagem faz com que a pessoa pare para pensar ou tenha a chance de falar com alguém.
Kanter diz que, toda vez que a oferta parecer boa demais para ser verdade, desconfie.
Os especialistas ouvidos pelo UOL dizem que é preciso pesquisar na internet sobre a oferta vantajosa que for apresentada. Sites como o Reclame Aqui costumam trazer algumas pistas. Se o golpista usar o nome de uma empresa, mesmo que falsa, busque por ela para saber se outras pessoas tiveram experiências ruins. Também vale conversar com pessoas em quem você confie para pedir uma segunda opinião.
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