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Salário mínimo ideal de agosto deveria ser de R$ 6.298,91; por que não é?

Dieese calculou que salário mínimo precisaria ser cinco vezes maior para suprir alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência para família de quatro pessoas - iStock
Dieese calculou que salário mínimo precisaria ser cinco vezes maior para suprir alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência para família de quatro pessoas Imagem: iStock

Do UOL*, em São Paulo

06/09/2022 11h36Atualizada em 06/09/2022 14h39

O salário mínimo ideal para sustentar uma família de quatro pessoas em agosto no Brasil deveria ter sido de R$ 6.298,91, calculou o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), com base em uma pesquisa de preços dos itens da cesta básica divulgada nesta terça-feira (6). O valor é mais de cinco vezes o salário mínimo atual, de R$ 1.212.

A definição dada para o salário mínimo oficial tem base na determinação escrita na Constituição, diz o levantamento: "A determinação constitucional estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência".

Por que o salário mínimo não chega ao patamar do Dieese?

O salário mínimo no Brasil foi estabelecido em 1940, no governo de Getúlio Vargas. O objetivo era dar condições às famílias para comprar o mínimo de alimentos e manter outros gastos, como moradia e transporte. Ao longo dos anos, porém, o valor foi perdendo o poder de compra com a inflação.

Para analistas, um aumento considerável do valor do salário mínimo acarretaria em mais demissões, pois as empresas não teriam dinheiro para pagar os funcionários.

"O dilema do salário mínimo é que, caso ele seja muito baixo, precariza as relações de trabalho. E um salário mínimo muito alto tem o mesmo efeito, por causa das demissões e da informalidade de trabalho", diz o economista Marcelo Neri, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em entrevista ao UOL.

Paulo Feldmann, professor de economia na USP (Universidade de São Paulo), afirma que é possível aumentar o salário mínimo somente quando a economia está bem, o que evitaria demissões.

"O aumento do salário mínimo foi muito grande entre 2007 e 2010, e isso foi ótimo naquele momento, pois o desemprego estava em queda e o consumo estava aumentando. As empresas tinham condição de pagar seus funcionários. Mas foi um momento econômico muito diferente do atual", diz.

Para Feldmann, o salário mínimo do Dieese está distante da realidade.

Apesar de ser bastante válido o cálculo, os valores são completamente diferentes do que é hoje o salário mínimo. E cerca de 70% dos brasileiros não ganham nem sequer R$ 3.000 por mês. A proposta do Dieese é mostrar que a renda do Brasil é muito baixa, embora o valor que eles sugerem não seja viável economicamente porque as empresas não teriam condição de pagar nem a metade disso Paulo Feldmann, professor de Economia da USP (Universidade de São Paulo)

Apesar de o PIB (Produto Interno Bruto) ter crescido 1,2% no último trimestre, não foi o suficiente para aliviar a sensação de mal-estar econômico no país. A inflação oficial acumula alta de 10,07% nos últimos 12 meses, de acordo com dados do IBGE (Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e, em julho deste ano, a inadimplência bateu recorde, com 66,6 milhões de pessoas com dívidas.

*Com informações de Maria Luiza Pereira, em colaboração para o UOL