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Queria renda extra, caí em golpe do emprego e perdi R$ 3.000, diz motorista

Jaci Siqueira recebeu uma mensagem que oferecia emprego com salário de R$ 3.000 a R$ 9.000 - Acervo pessoal
Jaci Siqueira recebeu uma mensagem que oferecia emprego com salário de R$ 3.000 a R$ 9.000 Imagem: Acervo pessoal

Do UOL, em São Paulo

15/09/2022 04h00

Provavelmente você já recebeu uma mensagem que oferecia um emprego de meio período com salários atrativos para trabalhar de home office ou conhece alguém que recebeu. As propostas normalmente são misteriosas e não dão muita informação logo de cara. A pessoa só sabe mais sobre o assunto quando entra em contato pelo número indicado na mensagem.

O motorista Jaci Siqueira, 35, é de Colatina (ES) e perdeu cerca de R$ 3.000 no golpe do emprego. Ele recebeu uma mensagem que oferecia uma vaga home office com salário de R$ 3.000 a R$ 9.000. Ele estava em férias e acreditou que seria uma boa oportunidade de renda extra.

Depois de receber a suposta proposta de emprego, o motorista precisou se cadastrar em um site e colocar dinheiro na plataforma — via Pix — para comprar produtos e revendê-los.

Assim que a compra fosse concluída, a vítima ganharia uma comissão. Jaci fez um depósito inicial de R$ 100. Logo "vendeu" um item, ganhou R$ 50 de comissão e conseguiu sacar R$ 150. A partir daí os valores começaram a aumentar. Quanto mais tempo a pessoa usa a plataforma, maior o "nível" que atinge, e, quanto maior o nível, maior o valor que a plataforma pede para liberar as comissões.

Como ele não continuou os depósitos, sua conta na plataforma foi bloqueada e ele perdeu acesso ao site.

Era um dinheiro que eu tinha guardado, que usaria para viajar ou para comprar coisas para mim. Eu não pesquisei tanto sobre os sites. Como falavam o nome de empresas famosas, achei que era algo sério. Não tenho mais esperanças de reaver o dinheiro.
Jaci Siqueira, motorista

Quando ele parou de fazer os depósitos, começou a ser cobrado por uma pessoa que era seu "mentor" nas vendas pelo Telegram. Siqueira diz que, como conseguiu fazer os primeiros saques, acreditou que a proposta de emprego era real.

"Eles fisgam a gente. Como você consegue sacar no começo, acha que vai ganhar mais, que vai poder abandonar o emprego. Eles sempre ficam pedindo mais. As tarefas ficam com valores muito mais altos, mas eu parei antes de perder dinheiro demais", afirma Siqueira.

Professora perde R$ 20 mil em golpe

Uma professora de escola pública em Belo Horizonte (MG), que não quis se identificar, também recebeu uma dessas mensagens e diz ter ficado interessada pela renda extra.

Assim como Jaci, ela precisou se cadastrar em um site e começou a colocar dinheiro na plataforma. A professora disse que começou com um depósito de R$ 50 e conseguiu sacar R$ 60. Como os primeiros saques deram certo, a professora continuou os depósitos.

A professora conseguiu sacar R$ 200 da plataforma. Depois disso, os valores foram aumentando e ela não tinha dinheiro suficiente para depositar e poder sacar o montante que a plataforma prometia — que era o valor investido mais as comissões.

Na tentativa de recuperar o dinheiro, a professora fez os depósitos pedidos na plataforma e chegou a pedir empréstimos a uma pessoa próxima para continuar usando a plataforma.

A professora perdeu cerca de R$ 20 mil e diz que trabalha em três empregos para pagar a dívida que fez para depositar dinheiro na plataforma. Hoje a professora diz que foi ingênua de ter caído no golpe e que ficou emocionalmente abalada.

Como o golpe funciona

Primeiro a pessoa recebe uma mensagem via SMS ou WhatsApp dizendo que ela foi selecionada para uma vaga de emprego. Normalmente as ofertas dizem que a vaga é para home office e inclui algum valor de salário chamativo.

Quando a vítima entra em contato com a suposta empresa, o atendente envia um link para que a vítima crie um cadastro no site. Depois do cadastro, a pessoa precisa começar a colocar dinheiro na plataforma. As pessoas que conversaram com o UOL disseram que as transações sempre foram feitas via Pix.

O que fazer se for vítima do golpe? Carolina Carvalho de Oliveira, advogada criminalista de Campos & Antonioli Advogados Associados, diz que o crime é caracterizado como estelionato -o fraudador cativa a vítima para que ela acredite no golpe.

Oliveira diz que o primeiro passo é fazer um boletim de ocorrência. Apesar de ser difícil encontrar a pessoa que arquitetou o golpe, Oliveira diz que os comprovantes de transferências bancárias são rastreáveis.

A vítima deve reunir todas as provas que conseguir, como conversas, prints da plataforma e comprovantes de transferências bancárias. Mesmo que o golpista tente mascarar todos seus passos, precisa fazer um cadastro nos bancos em que recebe os depósitos das vítimas.

Oliveira diz que as vítimas acham que o registro policial não resolve, mas ela afirma que o boletim de ocorrência é importante para que a autoridade policial saiba ao menos que o crime está acontecendo.

Além disso, se a pessoa quiser que a situação seja investigada, ela precisa ir até uma delegacia dizer que quer que a investigação siga, não adianta fazer só o boletim de ocorrência.

Como evitar cair no golpe? Oliveira diz que, se você receber uma proposta de emprego por mensagem, entre em contato com a suposta empresa para checar se é verdade. Muitos golpes usam nomes de grandes empresas, como Amazon e Mercado Livre.

Procurar informações no Reclame Aqui também pode ajudar. Muitas vezes são usados nomes de empresas que existem e que são sérias, mas os sites são criados pelos golpistas. A indicação é fazer a busca pelo nome oficial do site.