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Eles mudaram academia, plano de saúde e colégio para aguentar a inflação

Ageni Dutra, funcionária pública federal - Arquivo Pessoal
Ageni Dutra, funcionária pública federal Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

21/09/2022 04h00

Com inflação e redução de renda, muitas famílias relatam que tiveram de substituir alguns serviços por outros mais baratos para enxugar os gastos. Entre as medidas, estão troca de academia, plano de saúde e escola dos filhos.

A funcionária pública federal Ageni Dutra, 48, do Rio, contou ao UOL que há três meses conseguiu concluir a portabilidade do plano de saúde dela, do marido e da filha de 24 anos. A medida se tornou importante após o antigo plano da família sofrer um aumento de 26%. A família reduziu o custo mensal com o plano de saúde de R$ 1.719 para R$ 1.308 — o que representa uma economia de R$ 411 mensais ou de R$ 4.932 por ano.

Família vendeu carro também: Antes, em 2020, Dutra já havia vendido o carro da família para cortar os gastos com IPVA, gasolina, estacionamento, seguro e manutenção preventiva, que somados consumiam mais de R$ 14 mil por ano. A medida ocorreu após o marido dela ser demitido.

"Quando o preço da gasolina disparou, decidimos vender o carro e passamos a usar o transporte público, carro por aplicativo e até mesmo alugar. É uma baita economia. Só de estacionamento pagávamos R$ 1.500 por ano", disse

Além disso, reduzir o uso do cartão de crédito e procurar produtos em ofertas no mercado foram outros hábitos adotados pela família.

Professora troca escola dos dois filhos: A professora universitária Andrea de Barros, 46, de São Paulo, também precisou reorganizar os gastos da casa. Com a demissão do marido em 2019, o jeito foi trocar os filhos gêmeos de escola. Com isso, a despesa do colégio passou de R$ 3.500 por filho para R$ 700 —uma economia de R$ 5.600 mensais ou R$ 67.200 por ano. Hoje, o gasto mais alto da família de cinco pessoas é com alimentação.

"É um momento de cuidado com o que se tem e com o que se gasta, pois o futuro está incerto", diz a professora.

Os filhos de Andrea foram para a escola Luminova, que percebeu mudança no perfil dos alunos.

"Em 2019, a gente teve entrada de 60% de pessoas de escola pública. Hoje é o inverso: 60% dos alunos vieram de escolas privadas e 40% da educação pública. Esse movimento é perceptível desde 2021 e a tendência é que continue nos próximos dois anos", disse Victor Santana, diretor da rede.

Academia pela metade do preço: Quem também precisou apertar o cinto foi Dolores Vieira, de 63 anos, moradora da Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo. Depois de 10 anos frequentando ininterruptamente a academia, a aposentada contou que, devido ao aumento de custo de vida no último ano, o valor da atividade física começou a pesar no bolso.

A solução foi trocar de academia. Hoje, Dolores paga uma mensalidade 50% mais barata e usufrui da mesma estrutura que antes: dança, exercícios aeróbicos, além da musculação.

A aposentada contou ainda que nos últimos dois anos ela já havia aberto mão de outros "luxos" como manicure, e ir ao cabeleireiro frequentemente.

"É um gasto bem alto, então eu suspendi. Só vou [no salão] se tiver uma festa. Na família, todo mundo mudou os hábitos [de consumo] para poder estar de pé".

Alunos buscam preços menores: Dolores foi para a Red Fitness Academia. Ao UOL, a marca informou que cerca de 40% dos alunos migraram de outras marcas em busca de um bom custo-benefício.

Ronaldo Godoy, cofundador da rede, contou ainda que a marca cresceu cerca de 60% após a pandemia.

Como está a renda do brasileiro? Uma pesquisa realizada pela Serasa e pelo Opinion Box apontou que um pouco mais de um terço dos brasileiros (34%) tiveram redução de renda devido aos impactos da pandemia do coronavírus. De acordo com o levantamento, quando se comparam as principais despesas do período anterior, constata-se que o aumento dos gastos se concentra em supermercados,e hipermercados e farmácias.

Uma pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra ainda que o número de brasileiros endividados atingiu novo recorde em agosto, passando de 78% para 79% do total de famílias do país.