Renda sobe pela 1ª vez em 12 meses, mas ainda é menor que antes da pandemia
A renda média do trabalho em 22 regiões metropolitanas melhorou pela primeira vez em 12 meses, chegando a R$ 1.518,35 no segundo trimestre de 2022. O valor representa alta de 4,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano e é o maior aumento do indicador desde o início da pandemia. A informação foi obtida com exclusividade pelo UOL.
Os dados integram a décima edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido em parceria entre Observatório das Metrópoles, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, o Laboratório de Desigualdades, Pobreza e Mercado de Trabalho da PUC do Rio Grande do Sul, e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina.
O que esse dado significa? "O boletim marca o fim de um ciclo, o que não significa que retornamos às mesmas condições que tínhamos antes da pandemia", diz André Salata, pesquisador da PUC-RS e um dos coordenadores do estudo.
Isso porque a renda ainda não voltou aos patamares pré-covid. O valor é 6,5% menor do que o registrado no início de 2020, quando a renda estava em R$ 1.623,67.
Como ficaram os mais pobres? A recuperação da renda foi maior entre os mais pobres. Nessa fatia da população, a renda do trabalho no segundo trimestre de 2022 ficou em R$ 250,64, pouco abaixo do patamar anterior à pandemia, que era de R$ 251,75. No entanto, Salata alerta que a situação dos mais pobres continua preocupante. O grupo dos 40% mais pobres vem perdendo poder de compra desde 2014, quando sua renda chegou a R$ 324,56.
Segundo o pesquisador, a fatia mais pobre da população teve uma perda abrupta de renda no início da pandemia e vem se recuperando lentamente desde então. No entanto, mais recentemente, os prejuízos se tornaram maiores entre os 10% mais ricos, cuja renda hoje ainda é 10% menor do que no período anterior à pandemia.
O que aconteceu com a desigualdade? Por esse motivo, a desigualdade social nas regiões metropolitanas diminuiu. O índice de Gini (que mede a desigualdade de forma que quanto maior o índice, maior a desigualdade) ficou em 0,615 no trimestre, uma queda significativa em relação ao auge da pandemia, quando chegou a 0,661. Essa redução, porém, vem a reboque de uma perda de renda dos mais ricos. "Voltamos a um patamar de desigualdade semelhante ao que tínhamos antes da pandemia, mas às custas de uma redução do nível de renda", diz Salata.
O aumento na renda se deve a dois fatores principais: o aumento da ocupação, seja formal ou informal, e a queda na inflação - o estudo leva em conta a renda real e o poder de compra da população. No entanto, a continuação da melhora no indicador depende de alguns outros fatores, diz o pesquisador. Dentre os pontos destacados por ele estão a capacidade do governo de incentivar a atividade econômica, com investimentos em infraestrutura e criação de empregos, e a retomada da política de recuperação real do salário mínimo.
Os dados do Boletim Desigualdade nas Metrópoles consideram a renda domiciliar per capita vinda do trabalho, seja formal ou informal, nas 22 regiões metropolitanas do país. Ou seja, em uma família de dois adultos que trabalham e duas crianças, a renda total é dividida por quatro. A conta não considera outras fontes de renda, como auxílios do governo e aposentadoria, por exemplo. O estudo utiliza as informações da PNAD Contínua trimestral, do IBGE.
Veja a seguir a média da renda do trabalho nas 22 regiões metropolitanas do país no segundo trimestre de 2022 (média móvel de quatro trimestres):
Manaus: R$ 912,05
Belém: R$ 1.156,51
Macapá: R$ 1.025,11
Grande São Luís: R$ 832,58
Teresina: R$ 962,21
Fortaleza: R$ 1.019,87
Natal: R$ 1.093,18
João Pessoa: R$ 957,50
Recife: R$ 849,24
Maceió: R$ 939,09
Aracaju: R$ 1.154,25
Salvador: R$ 1.071,40
Belo Horizonte: R$ 1.517,73
Grande Vitória: R$ 1.434,93
Rio de Janeiro: R$ 1.542,05
São Paulo: R$ 1.822,81
Curitiba: R$ 1.693,36
Florianópolis: R$ 1.999,19
Porto Alegre: R$ 1.595,06
Vale do Rio Cuiabá: R$ 1.296,17
Goiânia: R$ 1.453,33
Distrito Federal: R$ 2.131,77
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