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Bloqueios afetam abastecimento em postos, supermercados e indústrias

Do UOL, em São Paulo

01/11/2022 11h07Atualizada em 01/11/2022 17h59

Os bloqueios de estradas e rodovias por caminhoneiros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) já afetam o abastecimento de postos de combustíveis em pelo menos seis estados e no Distrito Federal, além de supermercados e indústrias, segundo entidades do setor. De acordo com último balanço divulgado pela Polícia Rodoviária Federal, há 235 pontos de interdição e bloqueios ativos nas estradas federais de todo o país e já foram desfeitas 358 manifestações.

Veja o que disseram as entidades dos setores de supermercados, combustíveis, indústria e outros:

Combustíveis

Em nota ao UOL, a Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes) disse que aguarda a liberação das estradas pelos caminhoneiros o mais breve possível, "em prol do restabelecimento da normalidade do abastecimento nacional".

"O direito à manifestação não pode estar à frente do bom senso, podendo causar prejuízos à economia do país e à liberdade de ir e vir dos cidadãos que estão em trânsito", acrescentou.

Segundo a entidade, não há desabastecimento nacional, mas alguns estados específicos relataram falta de produto.

Minas Gerais. O Minaspetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo em Minas Gerais) disse que acompanha os pontos de bloqueio nas estradas dos estados e que a situação "está se agravando", com postos de algumas regiões já registrando falta de produto.

"O fornecimento de etanol poderá ficar comprometido nas próximas horas", alertou, em nota. O sindicato orienta à população que não corra aos postos, porque "é justamente essa ação que pode agravar o desabastecimento dos estoques".

Distrito Federal. O Sindicombustíveis-DF (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal) registrou casos de dificuldade de transporte dos caminhões que levam etanol anidro, tipo de álcool misturado à gasolina, para a região. Por precaução, as distribuidoras entraram em "adequação" na noite de ontem (31), limitando a cota de combustível a ser entregue por dia.

De acordo com a entidade, postos do Entorno de Brasília já estão sem produto. "Cremos que os estoques possam duram por até 7 dias, mas é preciso confirmar com as distribuidoras", disse o presidente do Sindicombustíveis-DF, Paulo Tavares, em nota.

Pará. Segundo o Sindicombustíveis-PA, há registros de que os bloqueios afetaram o abastecimento em Marabá e Altamira, onde já começa a faltar combustível. "Em Itaituba, também há informação de bloqueio parcial, com restrição de entrega, mas ainda sem relatos de falta de combustível", completa.

Em Belém e Região Metropolitana, que recebem combustível via transporte marítimo, o abastecimento segue normal.

Santa Catarina. Em Santa Catarina, os bloqueios nas rodovias atingiram as bases de distribuição de Itajaí, Guaramirim e Biguaçu, prejudicando o abastecimento em cidades como Joinville — a maior do estado — e Blumenau. Alguns postos estão sem gasolina e etanol, mas ainda há estoques de diesel, segundo o Sindipetro-SC (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina).

Rio, Paraná e Espírito Santo. Na cidade do Rio de Janeiro não falta produto, mas as distribuidoras tem feito um contingenciamento, enviando menos combustíveis aos postos, ainda segundo a Fecombustíveis. É a mesma situação dos estados do Paraná e Espírito Santo.

Supermercados

A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) diz que o prejuízo diário do comércio com os bloqueios pode ser maior que o R$ 1,8 bilhão registrado em 2018. Isso porque o setor passou a depender mais de serviços de entrega após a pandemia. A greve dos caminhoneiros de 2018 causou retração de 5,8% no volume de vendas, com um custo total para o varejo, em valores atuais, de R$ 18 bilhões, diz a entidade.

O presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Galassi, pediu apoio ao presidente Jair Bolsonaro para lidar com as dificuldades de abastecimento "que já começam a enfrentar os supermercadistas em função da paralisação dos caminhoneiros nas estradas do país".

Indústria e agro

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez um alerta para "o iminente risco de desabastecimento e falta de combustíveis, caso as rodovias não sejam rapidamente desbloqueadas". Em nota, a entidade diz que as indústrias já sentem impactos no escoamento da produção e relatam casos de impossibilidade do deslocamento de trabalhadores.

Diz também que as paralisações "já atingem o transporte de cargas essenciais, como equipamentos e insumos para hospitais, bem como matérias-primas básicas para as atividades industriais". Segundo a CNI, 99% das empresas brasileiras usam as rodovias para transporte de sua produção. A entidade diz ser "veementemente contrária a qualquer manifestação antidemocrática que prejudique o país e sua população".

Já a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) informou que vai se manifestar se houver atualizações sobre o caso.

Medicamentos e vacinas

Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos), disse ao UOL que a entidade recebeu o relato de uma empresa que está com uma carga parada e não consegue entregar os produtos.

Na greve dos caminhoneiros de 2018, o setor conseguiu negociar a liberação dos caminhões que transportavam medicamentos. Desta vez, porém, está com dificuldade de estabelecer um diálogo. "Estamos tentando trabalhar nessa linha outra vez. O grande problema é saber quem é a liderança desse movimento", explica.

Já o Instituto Butantan informou à imprensa que uma carga de ovos que serão usados para produzir vacinas contra a gripe está presa em um bloqueio próximo a Jundiaí (SP), a 47 km de São Paulo. Caso a carga não chegue ao Butantan, que fica na zona oeste da capital paulista, a produção de 1 milhão e meio de doses do imunizante contra a H3N2 pode ser comprometida.

Aviões

A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) publicou uma nota em seu site oficial informando ter alertado as autoridades sobre o impacto dos bloqueios na malha aérea. Se as obstruções persistirem, continuou a entidade, "o setor poderá sofrer com desabastecimento de combustível" ao longo do feriado de quarta-feira (2), Dia de Finados.

"O transporte aéreo também pode ser impactado pela dificuldade de chegada de profissionais, tripulantes e passageiros aos aeroportos, inviabilizando a operação e prejudicando, ainda, atividades essenciais como o transporte gratuito de órgãos para transplantes e o envio de cargas", completa.

A Abear ainda recomenda aos passageiros que se desloquem com antecedência e continuem acompanhando a situação das vias de acesso aos aeroportos.

Até as 9h30, ao menos 25 voos já haviam sido cancelados no Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos devido ao bloqueio da Rodovia Hélio Smidt por bolsonaristas, segundo publicado pela Folha de S. Paulo.