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O logoff veio: trio do Festa da Firma lucra com memes de sextou que amamos

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL

09/12/2022 04h00

O post de sexta-feira é sempre o mais aguardado: "O logoff veio. That's it", anunciam. Os "guerreiros" comemoram. Finalmente, chegou a hora de sextar. O perfil "Festa da Firma" no Instagram faz sucesso narrando com humor os perrengues do mundo corporativo e os pedidos estapafúrdios de chefes e de clientes.

Com a meta de descrever "a firma como ela é" e trazer "corporate memes", a página se inspira nos problemas de sempre das firmas de todo país. Metas inalcançáveis e aquelas reuniões que poderiam ser um e-mail estão entre as fontes de ideias.

O perfil também pega carona nos acontecimentos mais recentes. "Chefe me procurando. Eu em outro setor curtindo com os cria", dizia uma mensagem, que debochava do "sumiço" dos funcionário durante os jogos da Copa do Mundo. Na imagem, aparece um homem tocando pandeiro e outro sambando.

Os seguidores apoiam: "Afinal, não voltamos a ir ao escritório para socializar?", disse uma delas.

Por trás da arroba engraçadinha, um trio de amigos administra as publicações. Ao UOL, eles contam como conseguiram transformar os apertos dos "firmandos" — como são chamados os seguidores — em humor e até fonte de renda.

A página foi criada em 2017, ficou cerca de dois anos desativada, mas voltou em dezembro de 2019. E teve um boom na pandemia — hoje contabiliza 840 mil seguidores. A ideia é trazer leveza ao dia a dia de trabalho.

Festa da Firma - Festa da Firma/Divulgação - Festa da Firma/Divulgação
Responsáveis pela página Festa da Firma são convidados para palestrar, mas não se identificam
Imagem: Festa da Firma/Divulgação

Os três mantêm seus empregos e, por isso, optam pelo anonimato. Ninguém sabe quem são os debochadores oficiais da firma. Eles, inclusive, chegaram a ir de máscara para palestrar em um evento interno de uma empresa. Antes, mais uma pessoa participava do projeto, mas acabou saindo.

Hoje, eles dividem suas tarefas: dois cuidam da parte comercial, além contato com os clientes, e um é responsável pela interação com os seguidores e curadoria do conteúdo, que envolve a produção, edição e montagem das publicações.

"A gente tem um grupo no WhatsApp de amigos e o que se percebeu é que, independentemente das áreas (de atuação), os perrengues, a pressão, a meta para bater estão ali. As dores eram as mesmas. E aí a ideia foi criar o perfil para tirar sarro disso", contou o fundador da página, funcionário de uma consultoria de gestão.

Perfil Festa da firma - Reprodução/Festa da Firma - Reprodução/Festa da Firma
Perfil Festa da firma faz brincadeira com os perrengues do mundo corporativo
Imagem: Reprodução/Festa da Firma

"A melhor coisa que o brasileiro faz é dar risada da própria desgraça. Foi mais uma ideia para brincar, tornar o mundo corporativo um pouco mais leve", completou ele.

O responsável pelo conteúdo da página também tem seu próprio perrengue. "Brinco que, como eu ainda trabalho no mundo corporativo, tenho uma jornada dupla. Estou trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana. Quando saio da minha empresa, começo a trabalhar no 'Festa da Firma'."

A página se inspira no "calendário" do mundo corporativo para criar seus memes: época de bônus, de avaliação da performance, festa de final de ano, entre outros, sempre rendem boas piadas.

O encerramento do ano, por exemplo, é motivo de bastante deboche. Com um post que lembra a retrospectiva de músicas ouvidas no Spotify, a página fez brincadeira com o tempo gasto no ano em "calls de alinhamento": 73.813 minutos.

Outras fontes de inspiração são filmes e a série de comédia norte-americana The Office, que retrata o cotidiano de funcionários de um escritório, com personagens caricatos como Michael Scott (Steve Carell).

"The Office foi uma forma de trazer um rosto para a página, um personagem. E aí o Michael Scott, que é o protagonista, traz todo aquele estereótipo mais grotesco de chefe, arcaico, faz piada de mal gosto, trazendo aquele ambiente mais pesado. Então foi uma forma de trazer um rosto, um personagem para as pessoas poderem 'conversar' com esse personagem."

Até cenas de filme ou séries sem conexão com o mundo corporativo são usados — o que importa é a mensagem. "Pode ser um filme de super-herói, com uma baita explosão. A gente adapta aquilo para imaginar que sou eu saindo da empresa explodindo tudo para curtir o final de semana e deixando os problemas para trás."

Festa da firma - Reprodução/Festa da firma - Reprodução/Festa da firma
Página usa referências de filmes e séries para fazer humor
Imagem: Reprodução/Festa da firma

Além disso, os perrengues enfrentados pelos "firmandos" também viram posts. Algumas ideias surgem das mais de 350 mensagens por dia encaminhadas para o "Festa da Firma".

Faturamento já supera salários

Hoje, o faturamento da página é superior ao salário dos três, mas eles não pensam em deixar seus empregos, explicou ao UOL o responsável pela curadoria de conteúdo.

"Até daria para largar o emprego, mas a gente é um pouco conservador e tem um pouco medo de ficar na mão de uma plataforma só (no caso o Instagram)", conta.

Por isso, o grupo de amigos já abriu outras frentes: criou uma newsletter semanal, abriu perfis em outras redes sociais (como TikTok e até no Koo) e passou a fazer palestras.

Vagas de empregos

A página é considerada um "case de sucesso" no Instagram pois começou a monetizar com 200 mil seguidores — outros perfis não conseguem isso nem com 1 milhão, observa o fundador. Na época, o "Festa da Firma" foi procurado pela Philips para divulgação de um processo seletivo.

"A reação foi: Caramba. Com 200 mil seguidores e já estamos começando a ser abordados pelas marcas, como a Philips. Quem diria, uma baita marca querer anunciar com a gente. Na hora a gente já marcou um call."

Em média, a página tem um anúncio de vagas de emprego por mês. Até hoje já foram divulgadas mais de 2 mil ofertas de trabalho no perfil. "Evento com unicórnio contratando? Já tô com roupa para ir", dizia um dos últimos anúncios de emprego na página. Dois homens aparecem como se estivessem "desfilando".

O fundador da página diz que, nas negociações com os clientes, algumas características do mundo corporativo foram trazidas para dentro da página. "A gente é bom de rolo, o que precisar fazer, a gente faz."

Hoje, a página é composta de 20% de anúncios, 50% de publicações engraçadas e 30% de posts de artigos e reportagens, segundo o fundador.