Por que o Qatar é tão rico? Como o país de pescadores virou uma potência?
Um dos menores países do mundo, o Qatar é também um dos mais ricos. Sede da Copa do Mundo 2022, o emirado ganhou projeção no cenário econômico internacional graças às suas reservas de gás e petróleo. Nos últimos anos, passou a investir também no turismo —motivo pelo qual se candidatou para receber os jogos do mundial, tornando-se o primeiro país do Oriente Médio a sediar uma Copa.
A guinada da economia do Qatar, marcada inicialmente pela pesca e pela extração de pérolas, teve impulso após a independência do Reino Unido, em 1971.
Nessa época, foi descoberto no Qatar um dos maiores campos de gás natural do mundo, o North Gas Field. Antes disso, já haviam sido descobertas reservas de petróleo, mas foi em 1974 que a Qatar Petroleum — uma petrolífera estatal — assumiu a exploração no país, mudando radicalmente a economia do pequeno emirado.
Com a riqueza do gás e do petróleo, o pequeno país — menor do que o estado de Sergipe — atraiu milhares de trabalhadores estrangeiros e experimentou um vertiginoso crescimento populacional, saltando de 50 mil habitantes em 1950 para 2,5 milhões em 2016.
Hoje, são quase 3 milhões de pessoas vivendo no Qatar, a maioria estrangeiros, vindos, por exemplo, da Índia, do Paquistão ou do Egito.
Atualmente, o Qatar é um dos países mais ricos do mundo, quando se considera a riqueza dividida pelo total da população. Em 2021, o PIB (Produto Interno Bruto) do país foi de US$ 179 bilhões, segundo o Banco Mundial.
Já o PIB per capita do Qatar era de US$ 61.276 no ano passado — um dos maiores do globo. Para fins de comparação, o PIB per capita brasileiro em 2021 foi de US$ 7.518.
Segundo relatório da Global Finance, a liderança do emirado entre as nações mais ricas tem relação com o baixo número de pessoas que moram no país. Suas reservas de petróleo e gás são muito grandes para uma população equivalente ao número de pessoas da cidade de Belo Horizonte.
O documento da Global Finance apontou o emirado como o quarto em PIB per capita do mundo, atrás apenas de Singapura, Luxemburgo e Irlanda — há variações nesses rankings, dependendo da metodologia de cálculo, mas o fato é o que o Qatar figura entre os mais ricos em relação ao número de habitantes.
Gás natural: novos mercados
O emirado tem ampliado suas relações comerciais. É considerado o maior fornecedor de GNL (gás natural liquefeito) para a Europa. E, em países como Inglaterra, Itália ou Bélgica, representa entre 45% e 67% dos abastecimentos de gás — um dos principais motores da transformação do país.
O pequeno emirado está dando ênfase a esse recurso, com longos acordos. Na semana passada, Doha fechou um contrato de 27 anos para enviar quatro milhões de toneladas de GNL por ano à China.
A empresa estatal de petróleo e gás do Qatar também fez acordo para enviar à Alemanha dois milhões de toneladas de GNL, segundo o CEO da Qatar Energy.
Segundo o Observatório da Complexidade Econômica, o Qatar tem balança comercial positiva, com mais exportações do que importações. Os principais produtos exportados são o petróleo, petrolíferos refinados e polímeros de etileno. Já as importações mais significativas são de aviões, carros, helicópteros e turbinas a gás.
Para a Copa do Mundo, um fato curioso sobre as importações do Qatar: o país precisou comprar areia para colocar o maior evento esportivo de pé, mesmo sendo rodeado pelas dunas do deserto. Isso ocorreu porque os grãos encontrados no deserto costumam estar muito desgastados para uso na construção civil.
Prédios nas mãos do Qatar
E não só de combustíveis fósseis vive o emirado. Há ainda os recursos administrados pelo QIA (Qatar Investment Authority), um fundo soberano do país, que chegariam a US$ 455 bilhões (R$ 2,4 trilhões na cotação atual), segundo reportagem do colunista do UOL Jamil Chade.
O estado do Qatar, por exemplo, é hoje o décimo maior proprietário de terras no Reino Unido. Prédios populares de Londres também estão nas mãos do Qatar, entre eles Canary Wharf, HSBC Tower e The Shard. E até um dos marcos do comércio da capital britânica, a Harrods, tem capital do Qatar.
O turismo é outra estratégia de crescimento — e a Copa do Mundo faz parte dessa iniciativa para atrair visitantes e atenções. Além disso, a Qatar Airways se tornou uma forte concorrente das empresas aéreas europeias nos últimos anos, e o aeroporto internacional da capital, Doha, um importante hub.
Liberdade e preços
Apesar de ser um país rico, nem toda a população do Qatar se beneficia igualmente da riqueza. O modelo político do país também implica restrições a determinadas compras.
O Qatar tem um governo de monarquia absolutista e constitucional. A dinastia al-Thani está no poder desde 1825, época em que o país estava sob o domínio do Império Otomano.
Como a legislação do Qatar é baseada na sharia, o sistema legal do islamismo, a população precisa se adaptar aos preceitos religiosos. Valores de produtos relacionados à sexualidade, por exemplo, assustam: lubrificante íntimo (150 ml): R$ 154, uma pílula do dia seguinte custa R$ 59 e um teste de gravidez, R$ 22.
O que também chama a atenção é o valor das bebidas alcoólicas. Ser encontrado bêbado na rua é crime, então, em um país islâmico como este, o governo tenta frear o consumo. Cada cerveja está sendo vendida nos estádios e nos eventos oficiais da Fifa por 50 reais do Qatar, equivalente a R$ 74. As não alcoólicas, por 30 reais do Qatar, R$ 44,50. (Com informações da Deutsche Welle)
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