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Por que o Qatar é tão rico? Como o país de pescadores virou uma potência?

Iate de luxo é visto diante do skyline de Doha, no Qatar - ANDREJ ISAKOVIC/AFP
Iate de luxo é visto diante do skyline de Doha, no Qatar Imagem: ANDREJ ISAKOVIC/AFP

Marcela Schiavon

Colaboração para o UOL

30/11/2022 04h00

Um dos menores países do mundo, o Qatar é também um dos mais ricos. Sede da Copa do Mundo 2022, o emirado ganhou projeção no cenário econômico internacional graças às suas reservas de gás e petróleo. Nos últimos anos, passou a investir também no turismo —motivo pelo qual se candidatou para receber os jogos do mundial, tornando-se o primeiro país do Oriente Médio a sediar uma Copa.

A guinada da economia do Qatar, marcada inicialmente pela pesca e pela extração de pérolas, teve impulso após a independência do Reino Unido, em 1971.

Nessa época, foi descoberto no Qatar um dos maiores campos de gás natural do mundo, o North Gas Field. Antes disso, já haviam sido descobertas reservas de petróleo, mas foi em 1974 que a Qatar Petroleum — uma petrolífera estatal — assumiu a exploração no país, mudando radicalmente a economia do pequeno emirado.

Com a riqueza do gás e do petróleo, o pequeno país — menor do que o estado de Sergipe — atraiu milhares de trabalhadores estrangeiros e experimentou um vertiginoso crescimento populacional, saltando de 50 mil habitantes em 1950 para 2,5 milhões em 2016.

Hoje, são quase 3 milhões de pessoas vivendo no Qatar, a maioria estrangeiros, vindos, por exemplo, da Índia, do Paquistão ou do Egito.

Atualmente, o Qatar é um dos países mais ricos do mundo, quando se considera a riqueza dividida pelo total da população. Em 2021, o PIB (Produto Interno Bruto) do país foi de US$ 179 bilhões, segundo o Banco Mundial.

Pearl Island - REUTERS/Fabrizio Bensch - REUTERS/Fabrizio Bensch
Vista da Pearl Island, uma ilha artificial em Doha, no Qatar
Imagem: REUTERS/Fabrizio Bensch

Já o PIB per capita do Qatar era de US$ 61.276 no ano passado — um dos maiores do globo. Para fins de comparação, o PIB per capita brasileiro em 2021 foi de US$ 7.518.

Segundo relatório da Global Finance, a liderança do emirado entre as nações mais ricas tem relação com o baixo número de pessoas que moram no país. Suas reservas de petróleo e gás são muito grandes para uma população equivalente ao número de pessoas da cidade de Belo Horizonte.

O documento da Global Finance apontou o emirado como o quarto em PIB per capita do mundo, atrás apenas de Singapura, Luxemburgo e Irlanda — há variações nesses rankings, dependendo da metodologia de cálculo, mas o fato é o que o Qatar figura entre os mais ricos em relação ao número de habitantes.

Antigo Qatar - Sheikh Faisal Bin Qassim Al Thani Museum - Sheikh Faisal Bin Qassim Al Thani Museum
O antigo Qatar nasceu com vilas pesqueiras voltadas à 'caça' das pérolas
Imagem: Sheikh Faisal Bin Qassim Al Thani Museum

Gás natural: novos mercados

O emirado tem ampliado suas relações comerciais. É considerado o maior fornecedor de GNL (gás natural liquefeito) para a Europa. E, em países como Inglaterra, Itália ou Bélgica, representa entre 45% e 67% dos abastecimentos de gás — um dos principais motores da transformação do país.

O pequeno emirado está dando ênfase a esse recurso, com longos acordos. Na semana passada, Doha fechou um contrato de 27 anos para enviar quatro milhões de toneladas de GNL por ano à China.

A empresa estatal de petróleo e gás do Qatar também fez acordo para enviar à Alemanha dois milhões de toneladas de GNL, segundo o CEO da Qatar Energy.

Segundo o Observatório da Complexidade Econômica, o Qatar tem balança comercial positiva, com mais exportações do que importações. Os principais produtos exportados são o petróleo, petrolíferos refinados e polímeros de etileno. Já as importações mais significativas são de aviões, carros, helicópteros e turbinas a gás.

Para a Copa do Mundo, um fato curioso sobre as importações do Qatar: o país precisou comprar areia para colocar o maior evento esportivo de pé, mesmo sendo rodeado pelas dunas do deserto. Isso ocorreu porque os grãos encontrados no deserto costumam estar muito desgastados para uso na construção civil.

pearl - Getty Images - Getty Images
Vista da ilha artificial conhecida como "The Pearl" (A Pérola), que se estende por quase 4 milhões de metros quadrados saindo da cidade de Doha
Imagem: Getty Images

Prédios nas mãos do Qatar

E não só de combustíveis fósseis vive o emirado. Há ainda os recursos administrados pelo QIA (Qatar Investment Authority), um fundo soberano do país, que chegariam a US$ 455 bilhões (R$ 2,4 trilhões na cotação atual), segundo reportagem do colunista do UOL Jamil Chade.

O estado do Qatar, por exemplo, é hoje o décimo maior proprietário de terras no Reino Unido. Prédios populares de Londres também estão nas mãos do Qatar, entre eles Canary Wharf, HSBC Tower e The Shard. E até um dos marcos do comércio da capital britânica, a Harrods, tem capital do Qatar.

O turismo é outra estratégia de crescimento — e a Copa do Mundo faz parte dessa iniciativa para atrair visitantes e atenções. Além disso, a Qatar Airways se tornou uma forte concorrente das empresas aéreas europeias nos últimos anos, e o aeroporto internacional da capital, Doha, um importante hub.

Liberdade e preços

Apesar de ser um país rico, nem toda a população do Qatar se beneficia igualmente da riqueza. O modelo político do país também implica restrições a determinadas compras.

O Qatar tem um governo de monarquia absolutista e constitucional. A dinastia al-Thani está no poder desde 1825, época em que o país estava sob o domínio do Império Otomano.

Como a legislação do Qatar é baseada na sharia, o sistema legal do islamismo, a população precisa se adaptar aos preceitos religiosos. Valores de produtos relacionados à sexualidade, por exemplo, assustam: lubrificante íntimo (150 ml): R$ 154, uma pílula do dia seguinte custa R$ 59 e um teste de gravidez, R$ 22.

O que também chama a atenção é o valor das bebidas alcoólicas. Ser encontrado bêbado na rua é crime, então, em um país islâmico como este, o governo tenta frear o consumo. Cada cerveja está sendo vendida nos estádios e nos eventos oficiais da Fifa por 50 reais do Qatar, equivalente a R$ 74. As não alcoólicas, por 30 reais do Qatar, R$ 44,50. (Com informações da Deutsche Welle)