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Sabesp estuda plano de demissões antes de privatização; empresa nega

A Sabesp emprega mais de 12 mil pessoas e oferece serviços para 375 municípios - Ilton Rogerio/Getty Images
A Sabesp emprega mais de 12 mil pessoas e oferece serviços para 375 municípios Imagem: Ilton Rogerio/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

17/02/2023 04h00Atualizada em 17/02/2023 17h05

Em meio às expectativas de privatização pelo governo do estado de São Paulo, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) discute o lançamento de um plano de reestruturação para reduzir custos a partir de 2023.

A empresa avalia cortes de pessoal e um programa de demissão voluntária, segundo apurou o UOL. O plano da empresa de saneamento inclui a possibilidade de corte de cargos de liderança e o lançamento de um PDV (Plano de Demissão Voluntária).

O PDV seria lançado no segundo semestre com expectativa de adesão de 3.000 funcionários (25% do quadro atual). Os cortes em cargos de liderança podem ter início já nos próximos meses.

Procurada pelo UOL, a Sabesp declarou que "não há nenhum programa de demissão em curso".

A missão da nova gestão é tornar a Sabesp mais eficiente, moderna e competitiva. Para tanto, a companhia tem buscado aperfeiçoar os processos e estruturas internas, aproveitando todo o potencial da empresa e de seus funcionários.
Sabesp, em nota enviada ao UOL

O UOL apurou que a diminuição da folha de pagamento tem como base um estudo da consultoria norte-americana A.T. Kearney encomendado ainda na gestão de Benedito Pinto Ferreira Braga Junior, que foi substituído por André Salcedo na presidência da Sabesp em 2023.

40% das lideranças de algumas áreas poderiam ser cortadas. O plano de reestruturação teria como foco cargos com salários entre R$ 8.000 e R$ 40 mil de líderes como encarregados, gerentes de divisões regionais e superintendentes.

Planos de demissão ou desligamento voluntário permitem às empresas reduzir a folha de pagamento por meio de incentivos financeiros. A companhia oferece ao empregado um pacote de benefícios como indenização no valor de um salário por ano de trabalho, assistência médica temporária, complementação do plano de previdência privada etc.

O pagamento de 13º salário, aviso prévio, férias e outros direitos é garantido. O público-alvo costuma ser trabalhadores próximos da aposentadoria.

"Avalio que, se a proposta for boa, muita gente vai sair. Eles [nova gestão da Sabesp] vão entregar tudo azeitado para quem for receber", afirma a fonte.

Plano de privatização

André Salcedo assumiu como diretor-presidente da Sabesp em janeiro deste ano. Sua gestão inicia marcada pelo fortalecimento do discurso de privatização da empresa defendido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A intenção da gestão Freitas é desestatizar a companhia até o fim de 2024. O governo já contratou um estudo para avaliar a melhor modelagem para a privatização da companhia.

O governador de São Paulo tem o desejo de aplicar na Sabesp o mesmo modelo de privatização da Eletrobras. Ou seja, com menos participação do Estado nas ações da empresa, mas com poder de veto em assembleias de acionistas, o chamado "golden share".

O governo de São Paulo tem participação de 50,26% no controle da Sabesp. Os outros 49,74% estão na mão de acionistas privados.

De acordo com o governador, o dinheiro atraído pela venda da Sabesp pode ser usado para ampliar os investimentos no próprio setor.

Em entrevista recente, Freitas declarou que a conta de água ficará mais barata com a venda da empresa. "O cidadão [...] vai ter um serviço de mais eficiência, um serviço que vai contar com muito investimento, que vai ser universalizado em um prazo menor e com uma tarifa mais baixa."

Trabalhadores estão apreensivos, diz sindicato

Atualmente o cenário é de apreensão entre os funcionários da empresa, segundo José Faggian, presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo).

Ele declara que há preocupação sobre cortes de pessoal e a substituição de trabalhadores, muitos deles com pelo menos 30 anos de casa, por profissionais menos experientes.

Isso pode afetar a qualidade do serviço prestado.
José Faggian, presidente do Sintaema

Números da Sabesp

A Sabesp tem mais de 12 mil funcionários e fornece água, coleta e tratamento de esgotos em 375 municípios do estado de São Paulo. São 28,4 milhões de pessoas abastecidas com água e 25,2 milhões de pessoas com coleta de esgotos, segundo os números da companhia.

A companhia está listada na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, além de ter ações na Bolsa de Valores de Nova York —a única de saneamento do Brasil.

De acordo com o balanço do terceiro trimestre de 2022, o mais recente, a Sabesp teve lucro de R$ 1,080 bilhão, alta de 130% em relação ao mesmo período do ano anterior. O valor de mercado da companhia é de R$ 37 bilhões.