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Não é só café? O que tem no produto vendido nos supermercados

Regra permite pequenas quantidades de resíduos no café, mas indústria diz que há processos modernos de limpeza - Canva
Regra permite pequenas quantidades de resíduos no café, mas indústria diz que há processos modernos de limpeza Imagem: Canva

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL

14/04/2023 09h16Atualizada em 14/04/2023 10h09

O que tem no café vendido no supermercado? O produto é puro ou há substâncias adicionadas? Esses questionamentos são feitos frequentemente pelos consumidores, que têm dúvidas sobre a qualidade do que encontram nas prateleiras.

Recentemente, um boato de que haveria sangue de boi no café voltou a circular nas redes — não é verdade.

Mas, afinal, o que tem no café?

Uma resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite até 1% de resíduos no café in natura (grão). Essa regra é de 1978. Uma portaria do Ministério da Agricultura, de 2022, também define que é impróprio para o consumo o café torrado que apresentar teor de matéria estranha ou impureza superior a 1%.

Entre os resíduos permitidos em pequenas quantidades estão cascas e paus, segundo a resolução da Anvisa. Odor estranho e mau estado de conservação também impedem a venda do café.

Esses resíduos não chegam ao consumidor, segundo representantes da indústria, pois há processos modernos que impedem que isso aconteça. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Pavel Cardoso, diz que, atualmente, o único ingrediente que está presente no produto é o café e não há nenhuma mistura.

Houve um avanço enorme de tecnologia, tanto nas pequenas, médias e grandes indústrias, que, por meio de seus processos, eliminam qualquer sujidade do grão, por isso ela não chega nos coadores dos consumidores
Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC)

O processo, segundo ele, consiste em uma pré-limpeza nos grãos que vêm da lavoura. Esses grãos são limpos mesmo antes de entrar na indústria e depois passam por vários outros processos para garantir a qualidade.

Eles (os grãos) passam por torradores em temperaturas de 230 graus, que eliminam por completo qualquer sujidade que venha da lavoura. Havendo pertinência do 1% na pré-limpeza isso é eliminado com processo de limpeza nos moinhos, com peneiras rotativas, que eliminam qualquer impureza que venha da origem
Pavel Cardoso

E o extraforte? Consumidores costumam associar este último como refugo da produção e acreditar que a torra mais escura acontece para "esconder" impurezas. Pavel Cardoso também contesta. "A torra do café extraforte simplesmente acompanha uma necessidade do mercado, pois o consumidor queria um produto que rendesse mais café com menos pó, por uma questão de economia".

Nenhum processo é livre de falhas, pondera Thomas Raad, CEO da Raad International Trading, empresa que atua na exportação de commodities para o Oriente Médio, Europa e Estados Unidos.

Não é uma 'verdade absoluta', a máquina pode dar problema, pode existir alguma incidência extra de resíduos, passar um pouco mais. Isso pode acontecer com qualquer produto agrícola, commodities, alimentos que são processados para a venda
Thomas Raad

Os processos de produção, seja para comercialização local ou exportação de grãos, são similares e obedecem regras de controle de qualidade, conforme Raad. Ainda assim, ele conta que já detectou problemas em seus carregamentos.

Já tivemos um caso de um café entregue para um cliente em Dubai que teve a incidência de pedra no café, detectado após a coleta de amostra para conferência durante a chegada lá. Isso pode acontecer, mas existem regras quanto a isso. Nesse caso era menos de 300 gramas. Nessas situações sempre procuramos negociar com os clientes, pois o custo de troca não é viável
Thomas Raad