Economistas dizem que Desenrola não ataca causa, mas pode aumentar consumo
Os economistas Lauro Gonzalez e Alberto Ajzental debateram sobre o Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas do governo federal. Eles foram os convidados de hoje do UOL Debate, apresentado por Fabíola Cidral.
Segundo os especialistas, o programa pode ter efeito de curtíssimo prazo no aumento do consumo e da circulação de recursos no país, mas não resolve as raízes do problema da inadimplência de brasileiros.
"[O Desenrola] é uma boia de salvação, uma medida emergencial, uma questão de urgência e pode resolver no curtíssimo prazo a questão da inadimplência, principalmente da parte mais pobre e carente da população." Alberto Ajzental
"Certamente ele não ataca as causas principais do superendividamento. Ele está ligado a fatores individuais — renda, disposição de consumo, educação financeira —, fatores macro, que tem a ver com mercado de trabalho, grau de crescimento da economia, taxa de juros, e tem também fatores ligados aos credores, ao que as instituições financeiras fazem." Lauro Gonzalez
Endividamento das famílias
Gonzalez e Ajzental contextualizaram a situação atual do endividamento de pessoas físicas no Brasil, agravada durante a pandemia de covid-19.
"As famílias não estão comprando bens e serviços, as famílias estão se endividando no sistema financeiro porque as suas contas não fecham, e, além de não fechar naquele mês, elas passam a dever mais nos meses seguintes." Alberto Ajzental
"O crédito de pessoa física para consumo, hoje, é maior do que o crédito para as empresas. Não era o que acontecia há alguns anos. Isso reflete a lógica de pouco crescimento da economia e o fato de que as famílias têm usado cada vez mais o crédito como complemento de renda permanente." Lauro Gonzalez
Juros do cartão de crédito
Os economistas discutiram também se o governo federal deveria ou não intervir nas taxas cobradas em cartões de crédito de instituições financeiras. Alberto criticou os ataques do presidente Lula ao Banco Central e defendeu que o governo não pode intervir em questões microeconômicas.
"Em relação à taxa de juros, não adianta ficar brigando com o Banco Central ou ficar xingando o presidente do Banco Central, porque isso não vai resolver. Isso é bom para quem é animador de torcida, animador de galera e quer jogar uns contra os outros." Alberto Ajzental
"A gente em nenhum momento ouve o governo falar em eficiência de gasto, ser eficiente, cortar custos, etc. Você só ouve do discurso do governo: 'eu vou gastar mais'. É uma medida bastante populista, você tem a taxa de juros mais alta." Alberto Ajzental
Gonzalez discordou e citou a modalidade do crédito consignado como exemplo de um possível limite para as operadoras.
"Houve um momento em que havia uma maquininha para cada cartão. Isso foi uma situação que foi quebrada através de regulação do Banco Central lá atrás em 2010, porque a indústria de cartão não foi capaz de fazer isso funcionando por si só. E aqui a gente está em um cenário parecido." Lauro Gonzalez
"No crédito consignado existe um limite ao comprometimento de renda. Então, me parece que seria possível a discussão de um grau de comprometimento de renda para as indústrias de cartão nos moldes para o que já existe no consignado, com o qual o mercado está operando bem." Lauro Gonzalez