Genius, Susi e Falcon: Estrela resiste com diversão para criança do passado

A Estrela atravessa oito décadas de história com o desafio de fabricar novos brinquedos, mas sem abrir mão da nostalgia dos seus clássicos. Ao mesmo tempo, a empresa enfrenta uma batalha jurídica com a ex-parceira Hasbro que pode ter um resultado devastador para os negócios.

Como ser relevante em 2023?

Banco Imobiliário, Genius, Susi e Falcon. Soam familiares? Esses brinquedos do passado mantêm a fábrica de brinquedos Estrela de pé. Ursinhos Carinhosos, Topo Gigio e Fofolete recentemente voltaram às prateleiras.

É a aposta da ex-líder do mercado desde 1997, quando relançou o Genius, clássico dos anos 1980, tido pelo presidente e controlador da companhia, Carlos Tilkian, 69, como o "primeiro jogo eletrônico do Brasil" —há controvérsias: em 1977, a Ford e a Philco se uniram para o lançamento do Telejogo, um precursor dos videogames.

É muito mais um desafio modernizar a nossa coleção de brinquedos do que pensar que as crianças vão se afastar do nosso segmento.
Carlos Tilkian, presidente da Estrela

Boneca Fofolete é um dos relançamentos recentes da Estrela
Boneca Fofolete é um dos relançamentos recentes da Estrela Imagem: Gabriel Cabral/Folhapress

Influenciadoras e tecnologia

Aos 86 anos, a empresa também tem investido em brinquedos relacionados a influenciadoras digitais e jogos mais tecnológicos, segundo Tilkian.

A Estrela lança, por ano, cerca de 100 produtos entre inéditos e relançamentos. No primeiro semestre, vieram os novos Battle Cubes (cubos de heróis da Marvel que simulam um duelo de jokenpô) e BonezAlive (instrumentos de arqueólogos usados para escavar surpresas em blocos de areia). O Jogo da Vida também foi remodelado em parceria com o Nubank.

Youtubers são a principal aposta da Estrela para o público infantil de hoje. A fabricante lançou a boneca da Luluca, influenciadora digital que compartilha sua vida de adolescente para 14 milhões de inscritos no YouTube.

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Paula Stephânia, que dá dicas de desenho e pintura para 4,5 milhões no mesmo site, tem kits de "faça você mesmo" na prateleira. Sucesso entre os pequenos, elas são figuras equivalentes ao que Xuxa e Eliana foram para a fabricante nos anos 1990.

Batalha judicial pelo Banco Imobiliário

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Imagem: Divulgação

A Estrela protagoniza uma novela judicial com a Hasbro que já dura 14 anos. A fabricante norte-americana pede R$ 52 milhões em royalties não pagos sobre a comercialização de 20 brinquedos, entre eles o Banco Imobiliário. O caso já está no STJ.

A fabricante estrangeira pede que a Estrela transfira parte de suas marcas e destrua brinquedos que a ex-parceira supostamente teria copiado. A Hasbro saiu parcialmente vitoriosa em primeira e segunda instâncias.

A Estrela obteve a suspensão da decisão com recurso no STJ —por isso, mantém sua linha de produtos. O advogado especialista em propriedade intelectual Ricardo Kanayama diz que o caso ainda está em aberto, porém existem chances de a decisão ser revertida.

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Tilkian defende que os jogos da Estrela já estavam registrados antes mesmo da parceria e se refere à Hasbro como "essa empresa", sem falar o nome da criadora do Monopoly (a versão original do Banco Imobiliário). O julgamento ainda não tem data para acontecer.

Estrela é quinta maior do país

Carlos Tilkian, presidente da Estrela
Carlos Tilkian, presidente da Estrela Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

A Estrela é a quinta maior do segmento de brinquedos no país, segundo a Euromonitor International. A fabricante aparece atrás de Mattel, Hasbro, Lego e Candide. A Euromonitor não compartilha números de receita, que nortearam o ranking.

A companhia teve receita de R$ 208 milhões em 2022, com prejuízo de R$ 46 milhões—a crise das Americanas afetou a empresa, já que o grupo varejista é devedor de R$ 8 milhões. Tilkian diz que o resultado negativo é fruto do parcelamento de dívidas de tributos com o governo.

Ampliação de mercados, além dos brinquedos. A analista de pesquisa de mercado da Euromonitor Paula Ferolla diz que a companhia tem ampliado suas frentes para além dos brinquedos. A empresa tem também uma editora de livros, a Estrela Cultural, e uma linha de maquiagem para crianças, a Estrela Beauty.

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A Estrela tem buscado o crescimento e alavancar esse crescimento também de outras formas.
Paula Ferolla, pesquisadora da Euromonitor

No início, bonecas de pano

Fábrica da Estrela em São Paulo em 1987
Fábrica da Estrela em São Paulo em 1987 Imagem: Divulgação

A Estrela começou em 1937 vendendo bonecas de pano e bonecos de madeira. O Banco Imobiliário foi lançado em 1944, mesmo ano em que abriu capital na Bolsa de Valores.

Os brinquedos de plástico vieram com a coleção de bonecas Susi (1966), Feijãozinho (1973) e Bate Palminha (1985) além dos clássicos Autorama, dos anos 1960, e o boneco Falcon (1977).

A fabricante tem uma estrutura mais enxuta, depois de empregar 12 mil trabalhadores nos anos 1990. São três fábricas (em Itapira (SP), Três Pontas (MG) e Ribeirópolis (SE)) e um escritório em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Tem cerca de 1.100 funcionários —sobe para 1.500 no segundo semestre, por causa do Dia das Crianças e Natal.

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Tilkian assumiu a vice-presidência da empresa em 1993. Três anos mais tarde, o executivo que veio da Gessy Lever (hoje Unilever) comprou a Estrela da família fundadora, os Adler.

Naquela época era especulada a derrocada da Estrela para os brinquedos estrangeiros, diz o presidente. Hoje, ele encara a China como importante parceira —os componentes eletrônicos dos brinquedos vêm do país asiático.

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