60% das vendas na 25 de Março são parceladas no cartão: 'Facilita muito'
Seis em cada dez compras feitas na rua 25 de Março, uma das regiões de comércio mais movimentadas de São Paulo, são pagas de forma parcelada no cartão de crédito. A estimativa é de Jorge Dib, diretor da Univinco (União dos Lojistas da 25 de Março). "Limitar este tipo de operação vai afetar as vendas", afirma. O fim do parcelamento sem juros no cartão entrou em debate público após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmar que estudava limitar este tipo de pagamento.
O que está acontecendo
Presidente do Banco Central defendeu o fim do parcelamento sem juros. Roberto Campos Neto tornou pública uma disputa de R$ 1 trilhão que vinha sendo travada nos bastidores entre bancos, fintechs, varejistas, companhias aéreas, construção civil. O debate gira em torno do superendividamento e da inadimplência, e entre as causas apontadas estão os altos juros do rotativo do cartão de crédito, e as compras parceladas.
Um projeto de lei que pretende limitar os juros do rotativo deve ser apresentado nesta semana. Segundo o relator, o texto não inclui mudanças no parcelamento sem juros.
60% das compras do comércio popular na rua 25 de Março são parceladas. Jorge Dib, diretor da Univinco (União dos Lojistas da 25 de Março), diz temer o impacto de uma possível taxação nessa modalidade. Afirma que o comércio ainda se recupera dos impactos da pandemia e a medida pode afetar o setor, afastando o consumidor. Isso geraria "uma quebradeira de lojas" e "muita gente vai fechar as portas". "Limitar esse tipo de operação vai limitar as vendas", afirma.
Grande loja da região diz que entre todas as vendas feitas no atacado, 70% são parceladas. Ondamar Ferreira, gerente da loja matriz do Armarinhos Fernando, um dos maiores comércios da região, afirma que faz vendas no atacado e no varejo. No atacado, cerca de 70% dos lojistas compram e pagam parcelado. "Temos uma grande demanda de clientes que dependem da nossa loja para tocar seus negócios, e a compra parcelada facilita muito." Entre as compras do varejo, aproximadamente 45% das compras são parceladas, na média. Nesta modalidade, as vendas parceladas são menores porque os produtos são baratos.
Univinco reclama de falta de clareza e insegurança já que não participam dos debates. Dib relata que só recebeu informações sobre o tema pela imprensa. "Estamos no escuro, o governo não nos chamou para conversar", afirma. "É preciso entender como isso será feito, quais os prazos, para ser possível fazer um planejamento financeiro", fala Dib.
Comércio está se reestruturando no e-commerce após a pandemia e conta com parcelado no cartão para alavancar vendas. Dib afirma que muitos comerciantes estão investindo no e-commerce e contam com as vendas, maioria delas realizadas no parcelado, para seguir. "Qualquer mudança precisa ser feita com muito cuidado e planejamento para não prejudicar ainda mais o comércio."
"Os lojistas da região da 25 de Março estão em pânico. Taxar as compras parceladas é desesperador e, se ocorrer, vai parar o comércio na região, que ainda não se recuperou dos prejuízos gerados pela pandemia. Não é todo consumidor que parcela as compras que está no rotativo, é preciso resolver um problema, sem criar outro."
Jorge Dib, diretor da Univinco
O que move o debate
Governo quer reduzir juros e endividamento da população. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem pressionado as instituições bancárias a diminuir os juros do rotativo (cobrado de quem atrasa o pagamento das faturas). A taxa cobrada pelos bancos no rotativo chegou a 455% ao ano. Já a inadimplência, no mês passado, foi de 49,1%.
Bancos culpam as compras parceladas no cartão. As instituições financeiras alegam que o problema das altas taxas está no parcelamento sem juro, segundo representantes do setor, esse tipo de transação gera a inadimplência e, para cobrir o rombo, é preciso cobrar juro alto.
Banco Central falou em extinguir o rotativo e alterar o parcelamento sem juros. Em audiência no Senado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que estuda criar alguma "tarifa" para desincentivar a compra no crédito com um número grande de parcelas. "Não é proibir o parcelamento sem juros. É simplesmente tentar que fique um pouco mais disciplinado", afirmou durante a audiência.
Relator de projeto de lei defende a manutenção do parcelado sem juros no cartão. Segundo Alencar Santana (PT-SP), o seu relatório dará 90 dias para os bancos limitarem os juros do rotativo. Caso não cumpram o prazo, o projeto irá estabelecer que automaticamente os juros sejam limitados ao valor do principal (o valor da dívida em si).
O parcelado sem juros é uma conquista do brasileiro que já sofreu muito com inflação, e tirar o parcelado sem juros é regredir. É importante para o varejo, para a população. Não trataremos disso no projeto. Os grandes bancos dizem que com o teto do rotativo o parcelamento deveria ser com juros, mas todos os outros integrantes do mercado, inclusive bancos pequenos, defendem a manutenção do parcelamento sem juros
Alencar Santana, deputado (PT-SP), relator do projeto na Câmara
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