Gastou R$ 34 mil no Hurb e na 123milhas e não viajou: 'Destruição de sonho'

Clientes que no começo do ano foram afetados pelo Hurb também sofreram agora um segundo prejuízo após comprarem viagens flexíveis—em que se paga mais barato, mas não há data definida para ida e volta— pela 123milhas. O UOL conversou com pessoas que correm o risco de passar as férias sem viajar ou que até gastaram dinheiro a mais para não perder a lua de mel.

Ela comprou 7 viagens e ainda não embarcou em nenhuma

A dentista Rafaela Lamego, 37, gastou R$ 34 mil e ainda não conseguiu viajar. Ela desembolsou R$ 18,5 mil no Hurb ao fechar quatro pacotes para Grécia, Egito, Tailândia e Porto Seguro (BA), entre 2021 e 2022. Após ser surpreendida com a crise e adiamentos da empresa, decidiu buscar alternativa na 123milhas. Ela repetiu a compra para o Egito e também aproveitou para comprar outras viagens em promoção, em um investimento de R$ 15,8 mil.

A primeira viagem que perdeu foi para Porto Seguro (BA). Rafaela, que vive em Goiânia (GO), aguardava para visitar a cidade baiana —a primeira data sugerida por ela foi em março deste ano—, mas foi surpreendida com o adiamento inesperado.

Decepcionada com o Hurb, Rafaela achou melhor pedir reembolso de todas as viagens. Ela aceitou, inclusive, pagar uma multa de 20% fixada na compra de um pacote para a Tailândia, feita em novembro de 2022. O Hurb incluiu esse dispositivo recentemente na modalidade flexível. "É melhor do que não receber nada", declara. Até o momento, porém, ela diz que ainda não recebeu nenhuma quantia de volta.

A alternativa escolhida para realizar a viagem dos sonhos para o Egito foi a 123milhas. Ela fez também compras de voos para Dubai (Emirados Árabes) e Gramado (RS). Rafaela ainda gastou por fora mais US$ 875 (cerca de R$ 4.200 na cotação atual) para contratar serviço de guia e passeios pelo Egito.

As viagens internacionais seriam feitas com seu marido e amigos em outubro e novembro. Após a suspensão, a dentista ligou para a empresa e diz que esperou 1h para ser atendida. Rafaela se revoltou ao ouvir do atendente a opção de receber o valor pago dividido em cinco vouchers, o que a obrigaria a gastar mais para fechar qualquer nova viagem, já que apenas um voucher pode ser usado por compra. Essa é a única opção que a empresa deu para os clientes até o momento.

Rafaela decidiu acionar a Justiça contra a 123 milhas. Ela pediu a garantia do embarque das viagens suspensas, mas o Juizado Especial Cível de Goiás entendeu que as provas reunidas não eram suficientes para o deferimento —Rafaela ainda pode recorrer. A dentista cogita que uma saída seria usar os vouchers para fechar uma viagem mais barata, possivelmente para Cancún (México).

Eu já chorei, não dormi pensando no que ia fazer e em como contar para os meus amigos. Você junta dinheiro, tem um sonho e do nada a empresa diz que não vai cumprir? É destruição de sonho, falta de respeito, é tudo junto.
Rafaela Lamego, cliente da 123milhas e do Hurb

Governo cobra respostas de 123milhas e Hurb

A Senacon (Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor) acompanha a situação das duas agências. Em maio, o órgão federal proibiu o Hurb de vender viagens com data flexível. O governo anunciou uma série de sanções contra a 123milhas após a companhia informar que a única forma de reembolso seria por voucher e a avalia a viabilidade do negócio.

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A 123milhas reafirma que apenas as viagens com embarque até dezembro estão suspensas. O UOL entrou em contato com a empresa, que reforçou o posicionamento publicado em seu site. "Os vouchers foram divididos para possibilitar ao cliente diferentes tipos de compra. Dessa forma, o cliente tem mais flexibilidade e liberdade de escolha do que com um só voucher no valor total", disse, em nota.

O Hurb, por sua vez, diz que trabalha em uma "força-tarefa" para resolver os casos. A agência disse, também por meio de nota, que tem "comprometimento" com a devolução de valores solicitados por clientes que optaram pelo cancelamento. No entanto, não deu detalhes sobre os reembolsos.

Gastou mais R$ 9.500 para não adiar lua de mel

Inayara Giraldelli pagou R$ 9.500 à parte para conseguir celebrar a lua de mel
Inayara Giraldelli pagou R$ 9.500 à parte para conseguir celebrar a lua de mel Imagem: Arquivo pessoal

A gestora de marketing Inayara Giraldelli, 27, teve seus planos frustrados. Ela e o marido se casaram em abril de 2022, em meio a retomada do turismo, e comemoraram a lua de mel em Paraty (RJ). Meses depois, escolheram Lisboa como o ponto de partida para uma segunda comemoração que se estenderia por Espanha e Marrocos. Eles gastaram R$ 5.400 em passagens para a capital portuguesa com a 123milhas.

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A viagem para Europa e África estava marcada para outubro. Com a suspensão anunciada pela 123milhas, o casal que mora em Maringá (PR) teve que comprar as passagens aéreas diretamente com uma companhia aérea para garantir a realização da segunda lua de mel neste ano. Resultado: pagaram R$ 9.500 —sem incluir o trecho doméstico— para embarcar em novembro, um mês depois do planejado.

Inayara ainda tem uma segunda dor de cabeça com a 123 milhas. Ela também gastou R$ 4.600 para ir a Nova York em dezembro com sua mãe. Ela diz que não aceitou a opção de devolução do valor em voucher oferecida pela empresa e agora não sabe se irá viajar para os EUA.

Cliente também acumula prejuízos com o Hurb. Ela comprou uma viagem para Paris (França), Amsterdã (Holanda) e Roma (Itália) por cerca de R$ 6 mil. Nesse caso, confessa que praticamente perdeu as esperanças de conhecer as cidades e teme não reaver o dinheiro. Segundo ela, a agência ainda não entregou uma solução imediata para o seu caso e uma saída para reverter a crise. O prejuízo é financeiro e também emocional, diz.

Eu comprei desconfiada pelo que aconteceu com a Hurb, mas vi muita gente viajando pela 123milhas. Tinha muita propaganda em vários canais de TV, influenciadores viajando, e eu pensei que não ia ser comigo que não ia rolar.
Inayara Giraldelli

Comprou para 2024, mas já se prepara para o pior

Ruy Ferreira comprou passagens com a 123milhas para ir a Maceió em 2024, mas tem dúvidas que consiga
Ruy Ferreira comprou passagens com a 123milhas para ir a Maceió em 2024, mas tem dúvidas que consiga Imagem: Arquivo pessoal
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O funcionário público Ruy Ferreira, 34, tem viagens programadas para 2024. Na teoria, a 123milhas ainda pode garantir o embarque dele, uma vez que a suspensão anunciada pela empresa vale de setembro a dezembro. Entretanto, a agência já permite que os clientes que viajarão a partir do ano que vem peçam voucher de devolução.

Ferreira tem viagens compradas para Maceió em janeiro e março. Em uma delas, pretende sair de Campo Grande (MS), onde mora, para viajar de avião pela primeira vez com a mãe. Ele já tinha viajado no passado pela 123milhas e disse não ter ficado com dúvidas ao desembolsar R$ 1.600 para os bilhetes para a capital do Alagoas.

Já teve viagens adiadas no Hurb, que ainda não garantiu embarque. Ferreira e a esposa iriam para Punta Cana (República Dominicana) este ano, mas a empresa informou o adiantamento para 2024, ainda sem garantia. O funcionário público acumula R$ 6.300 em viagens pagas e não realizadas nas duas empresas.

Eu não quero dinheiro de volta, até porque depois de um ano e meio eu não vou conseguir comprar metade de uma passagem. Me sinto enganado e viro motivo de chacota para os amigos, que brincam com a situação.
Ruy Ferreira

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