Causa da inadimplência não está no parcelado sem juros, diz Abrasel
O setor de bares e restaurantes se uniu ao varejo na defesa da manutenção das compras parceladas sem juros no cartão. Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) afirma que "acabar com a modalidade seria uma ruptura no crédito e prejudicaria todo o comércio".
O que diz a Abrasel
Para setor, a manutenção do parcelado é fundamental para ter um "comércio vivo". "Só existe bar e restaurante se existir um ecossistema nas ruas, é o comércio ativo e vigoroso que enche os restaurantes", diz Solmucci. Para ele, o comércio depende das compras parceladas e, sem elas, todo o setor será impactado negativamente, "um ecossistema que se autoalimenta, sem o comércio não há movimento nos bares e restaurantes". Em carta enviada a Haddad, a Abrasel afirma que a modalidade é "fundamental instrumento para que o pequeno comércio faça suas vendas e os consumidores façam compras que caibam em seus apertados orçamentos".
Para Abrasel o problema da inadimplência 'não é o parcelado', mas o crédito sem responsabilidade. Em junho de 2022, o número de cartões de crédito (190,8 milhões) representava quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil (107,4 milhões), conforme dados de 2021 do IBGE e das estatísticas do Sistema de Pagamentos Brasileiro. Mais da metade da população brasileira tem três ou mais cartões. "A principal causa da inadimplência está no crédito sem responsabilidade, esse excesso de cartões que os bancos emitem", diz Solmucci.
Restringir o parcelado afetaria toda a população. Solmucci argumenta que vivemos em um país com uma população de baixa renda e endividada, mas que ainda tem no cartão a possibilidade de comprar. "Uma pessoa que sai do médico e precisa gastar R$ 500, R$ 700 em remédio, ela provavelmente terá de parcelar a compra. Sem o cartão, uma parte dos brasileiros não conseguirá fazer compras, nem para o remédio." Embora o parcelado no cartão não seja tão comum em bares e restaurantes, uma limitação nesta modalidade, segundo ele, afetaria diferentes segmentos e empresas que utilizam essa modalidade para obter empréstimo.
Risco de impacto no chamado 'crédito fumaça'. Trata-se de uma modalidade de empréstimo que conta com garantia de pagamentos futuros, os chamados recebíveis. No caso das empresas, as vendas parceladas são usadas como capital de giro. Solmucci destaca que essa modalidade é muito usada pelos pequenos comerciantes, que podem perder essa garantia de crédito.
Governo busca reduzir os juros do cartão de crédito e a inadimplência. A taxa média do crédito rotativo cobrada pelos bancos chegou 445,7% ao ano em julho. No mês passado, a inadimplência na modalidade ficou em 49,1%. O fim do parcelamento sem juros no cartão entrou em debate público após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sugerir criar "desincentivos" para as compras parceladas. No Congresso, projeto estipula prazo de 90 dias para que os bancos definam um patamar de juros para o rotativo. O texto não aborda o parcelamento de compras sem juros.
"Os bancos criaram esse produto e controlavam todas as transações via Cielo e Redecard, hoje, com o aumento da concorrência no setor, principalmente com o uso das 'maquininhas de cartão', eles querem taxar o parcelado; essas instituições não aceitam nenhum tipo de concorrência, mas ainda vão continuar lucrando muito com os juros de 100% proposto no projeto de lei."
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel
O que diz a Febraban
Federação Brasileira de Bancos diz que "não há qualquer atuação direcionada para taxar o parcelado". Em nota, a entidade diz estar "confiante" nas negociações técnicas entre governo, Banco Central e a indústria de cartões para chegar a uma solução. "A Febraban perseguirá um caminho que dilua o risco de crédito entre os elos da cadeia e elimine os subsídios cruzados, numa transição sem rupturas do produto do cartão de crédito e de como ele se financia".
Bancos defendem redesenho do rotativo e aprimoramento das compras parceladas. A entidade que representa os bancos, afirma que segue firme em três linhas: (1) Diluição do risco entre os elos da cadeia, hoje concentrado nos bancos emissores que suportam todo o peso da alta inadimplência; (2) Manutenção do cartão de crédito como relevante instrumento para o consumo; e (3) Reequilíbrio da grande distorção que só o Brasil tem, com 75% das compras feitas com parcelado sem juros.
Febraban é contra teto de juros para o rotativo. Limitar juros pode impactar no crédito. "Limites artificiais de juros impactam na oferta de crédito, pois carregam o risco de torná-lo não sustentável", diz. Segundo a federação, o cartão de crédito responde hoje por 40% de todo o consumo no Brasil e 21% do PIB. "Tetos para os juros no rotativo podem tornar uma parcela relevante dos cartões de crédito inviáveis economicamente, afetando a disponibilidade de crédito na economia", acrescenta.
Campos Neto diz que parcelado sem juros no cartão 'precisa ser sustentável'. Durante palestra em Washington, ele reforçou que o BC está estudando "alguma medida para melhorar" o parcelamento no cartão de crédito. "Parcelamento sem juros é 15% do crédito. É um instrumento de crédito que não incide juros, mostra uma anomalia no produto. Então a gente precisa conversar, os outros elos do negócio precisam entender que a gente precisa ser sustentável para frente, porque se não for sustentável todo mundo vai perder. A gente tem medo que comece a ter um problema maior de inadimplência que gere um travamento, isso sim impacta o consumo. Lembrando que 40% do consumo brasileiro é cartão de crédito. Nenhum outro lugar do mundo é tão alto", disse.
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