Dólar a 800 pesos: qual é a estratégia de Milei para reerguer Argentina

O novo governo argentino, agora liderado por Javier Milei, anunciou ontem (12) uma série de medidas para lidar com a crise financeira que o país enfrenta, incluindo a desvalorização de 54% do peso.

A taxa de câmbio oficial passará de 365,5 pesos por dólar para 800 pesos por dólar, informou o ministro da Economia, Luis Caputo, em mensagem divulgada nas redes sociais.

Por que esta é uma estratégia para reerguer Argentina?

A desvalorização da moeda de mais de 50% é uma das medidas centrais de um amplo plano de austeridade do governo do ultraliberal Milei, que busca reerguer a Argentina, atingida por uma inflação anual de 140% e níveis de pobreza de 40%.

Impacto em preços de produtos básicos. Com uma história de crises sucessivas, os argentinos desconfiam de sua moeda e se guiam pelo dólar para poupar ou comprar e vender bens como imóveis ou automóveis. Eles temem as variações do mercado cambial, que impactam até mesmo nos preços dos produtos básicos.

Aumento de produção. Com o câmbio oficial a 800 pesos, espera-se que os setores produtivos tenham os incentivos adequados para aumentar a produção, afirmou o ministro da economia do país.

"Vamos estar pior do que antes por alguns meses", alertou Caputo. Mas "se continuarmos como estamos, inevitavelmente caminharemos para a hiperinflação". Especialistas afirmam que o plano, inclusive, levará a um processo recessivo, e que os trabalhadores sairão prejudicados.

Por enquanto, o governo manterá o sistema de controle de câmbio em vigor desde 2019, com uma dezena de taxas de câmbio diferentes.

A dolarização foi uma das propostas da campanha eleitoral de Milei, ou seja, adotar o dólar como moeda corrente e fechar o Banco Central. Com essa medida, o Estado reconheceria a moeda norte-americana como moeda de curso legal. Uma taxa de câmbio fixa determinaria a taxa na qual a moeda existente é convertida em dólares. A moeda do próprio país continua em circulação, mas geralmente não é mais impressa e desaparece gradualmente.

Em muitos outros países com altas taxas de inflação acaba ocorrendo uma dolarização informal. Enquanto suas próprias moedas perdem valor, os consumidores guardam dólares como "reserva forte". Isso acontece há anos na Argentina.

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Mudanças previstas

Ajuste no gasto público. Milei, um economista de 53 anos que durante a campanha empunhava uma motosserra para simbolizar sua ideia de cortar gastos públicos, assumiu o governo no domingo e descartou qualquer "gradualismo". O novo presidente pretende realizar um ajuste no gasto público equivalente a 5% do PIB.

Suas primeiras decisões foram elogiadas pelo FMI, com o qual a Argentina mantém um programa de crédito de US$ 44 bilhões. A entidade expressou que "apoia as medidas" de Milei.

Além da mudança na taxa de câmbio do peso, o novo governo não renovará contratos no Estado com menos de um ano de vigência; não gastará com publicidade; o número de ministérios será reduzido pela metade, de 18 para 9; o dinheiro que flui de forma discricionária para as províncias a partir do Estado federal será reduzido "ao mínimo"; a licitação de novas obras públicas será uma lembrança do passado; e as obras aprovadas que não começaram serão paralisadas.

*Com AFP, Reuters e Deutsche Welle

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