Por que a inflação que você sente no bolso parece maior que a oficial?

Inflação é a variação de preço de produtos ou serviços em um período de tempo. Para monitorar essas variações de forma geral, calcula-se o Índice Nacional de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA). Nem sempre, porém, a variação de preço que você percebe — por exemplo, na conta de luz ou em itens do mercado — é a mesma que a indicada pelo IPCA.

Como é calculada a inflação

O IPCA é definido com base em uma cesta de produtos e serviços de referência, que normalmente é diferente da cesta consumida por cada família. A cesta de referência é estabelecida a partir da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), na qual o IBGE (que calcula o índice) busca identificar os hábitos de consumo das famílias brasileiras que ganham de um a 40 salários mínimos, ou seja, 90% da população das áreas urbanas. Trata-se, portanto, de uma cesta que pretende representar uma média nacional.

O IPCA é calculado a partir da análise de produtos e serviços de 16 áreas urbanas do país. São Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal, Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.

Trata-se de um levantamento mensal. O IBGE analisa os preços dos itens que compõem a cesta de referência do 1° ao 30° dia de um mês e o compara com o mês anterior, obtendo, assim, um resultado que reflete a variação dos preços, cuja porcentagem é representada pelo IPCA. Em novembro, por exemplo, o IPCA registrado foi 0,28%, o que significa um aumento da inflação.

O IPCA é a média ponderada dos preços dos itens da cesta, que considera o peso de cada item no orçamento familiar. "Além disso, mensalmente, são feitos ajustes pouco substanciais nesses pesos, por exemplo, quando um produto cai abaixo da inflação ele perde peso no cálculo do IPCA no mês seguinte e vice-versa", pontua André Braz.

A gasolina é, individualmente, o item com mais peso na cesta do IPCA. A cesta de referência engloba 377 produtos e serviços divididos em nove categorias: alimentação e bebidas; habitação; artigos de residência; vestuário; transportes; saúde e cuidados pessoais; despesas pessoais; educação e comunicação. A gasolina, do grupo dos transportes, ocupa cerca de 5% do orçamento doméstico.

E por que a inflação que você sente é diferente?

Na prática, os produtos e serviços consumidos por família variam de acordo com renda, configuração familiar e preferências. "Famílias com crianças, por exemplo, costumam ter mais gastos com alimentação e mensalidade escolar, enquanto famílias com idosos consomem mais medicamentos e plano de saúde. Por isso, a percepção pessoal sobre a inflação tende a ser diferente da inflação oficial", explica André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Como calcular a sua inflação? A FGV disponibiliza a ferramenta digital gratuita "Sua Inflação", com a qual, a partir do preenchimento dos gastos, é possível obter uma aproximação da inflação de forma personalizada.

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Em geral, as classes mais baixas sentem mais as mudanças na inflação. Isso porque alimentos são uma categoria mais representativa de gastos no seu orçamento que classes mais altas. De acordo com Cristina de Mello, economista e professora da ESPM, as famílias com renda menor têm menos disponibilidade para mudanças na cesta de consumo e, por isso, sentem mais os efeitos da inflação. "Para pagar mais em alimentos, por exemplo, muitas vezes a família tem que abrir mão dos custos de transporte", destaca.

Isso não quer dizer, contudo, que famílias de alta renda não sintam a inflação. "Esse grupo é mais dependente de serviços como restaurantes, passagens aéreas e mensalidades escolares e, consequentemente, sente mais as alterações nesses preços, diferente das famílias de menor renda, que sentem mais em relação aos alimentos", pontua o economista da FGV.

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