Funcionários de Furnas temem demissões após incorporação pela Eletrobras

A aprovação da incorporação da Furnas pela Eletrobras trouxe preocupação aos empregados da subsidiária, que temem uma rodada de demissões em massa na companhia privatizada em 2022. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes liberou a realização de uma assembleia para decidir sobre a incorporação no dia 11 de janeiro, depois de duas semanas de briga judicial.

O que aconteceu

Furnas tem hoje cerca de 2.000 funcionários em todo o país. De acordo com um funcionário da subsidiária, que aceitou conversar com a reportagem sob anonimato, trabalhadores acreditam que a Eletrobras deve demitir funcionários a partir desse enxugamento na estrutura operacional. A empresa de energia elétrica ainda não fez nenhum anúncio oficial sobre essa possibilidade.

O discurso dos executivos é de "sinergia" entre as duas empresas. Ainda segundo a mesma fonte, um dos primeiros passos seria o encerramento das atividades do prédio da Eletrobras, localizado a cerca de 1,5 km da sede da Furnas, para alocá-los na unidade da subsidiária, no Rio de Janeiro.

Ele sugere isso porque uma parte dos diretores da Eletrobras já trabalha dentro de Furnas. Da mesma forma, funcionários de carreira da companhia subsidiária dificilmente deixariam o prédio devido a atividades operacionais consideradas complexas, que só são executadas ali.

A Eletrobras já tem em curso um plano de demissão geral. Em abril de 2022, a empresa lançou um PDV (Plano de Demissão Voluntária) com a expectativa de adesão de 4 mil funcionários em todas as empresas do grupo (Eletrobras, Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul), ou cerca de um terço do quadro total. Segundo a fonte ouvida pelo UOL, cerca de 1.000 trabalhadores de Furnas deixaram seus postos nesses cortes.

A Eletrobras diz que a incorporação de Furnas vai "racionalizar e simplificar sua estrutura societária". Em comunicado publicado na quinta-feira, a companhia disse que poderá "ampliar investimentos nos ativos integrados", mas não revela mais detalhes. A reportagem questionou a Eletrobras a respeito de possíveis demissões e recebeu como resposta comunicados já divulgados anteriormente sobre o caso.

A incorporação ainda depende da aprovação de outras condições. Os debenturistas de Furnas precisam autorizar a unificação, bem como a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Ou seja, a execução desse processo pode se arrastar por meses.

O objetivo da Eletrobras, com a incorporação, é racionalizar e simplificar sua estrutura societária, ao mesmo tempo em que abre espaço para ampliar investimentos nos ativos integrados. O processo de incorporação da companhia ainda depende da aprovação de outras condições precedentes.
Eletrobras, em fato relevante publicado em 11 de janeiro

Imbróglio no STF

A Eletrobras recorreu ao STF após perder na Justiça do Rio. O ministro Alexandre de Moraes determinou na quinta a cassação de duas liminares que impediam a realização de uma AGE (Assembleia Geral Extraordinária) para tratar da integração da operação de Furnas ao capital da Eletrobras.

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Ele interpretou que as decisões eram contrárias à lei que permitiu a privatização da Eletrobras. A votação dos acionistas aconteceu logo depois e durou cerca de 30 minutos, dizem fontes.

A AGE ficou suspensa após trabalhadores acionarem a Justiça. Sindicatos da categoria e a Asef (Associação dos Empregados de Furnas) entraram com ações judiciais no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) e TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região), também no Rio, para impedir a realização da assembleia, marcada inicialmente para 29 de dezembro, e adiada por 90 dias. A ideia era travar a incorporação enquanto a Eletrobras e a União estivessem em ambiente de conciliação estabelecido pelo ministro Kassio Nunes Marques sobre a redução do poder de voto da União.

A Asef afirma que vai recorrer da decisão de Moraes. A associação declara que acredita "na força do direito em questão" e que "segue trabalhando intensamente para alertar à sociedade brasileira para os graves riscos da operação de incorporação de Furnas pela Eletrobras".

O coletivo de empregados declara que os "graves riscos" se referem a uma possível perda de mão de obra qualificada. A substituição por profissionais sem a mesma expertise em engenharia e operação, que poderia causar apagões no país, por exemplo. "A demissão de empregados experientes pode fragilizar o sistema operacional."

A Eletrobras iniciou os estudos para incorporar a Furnas em agosto de 2023. Em 25 de novembro, por meio de fato relevante, o Conselho de administração da companhia aprovou a convocação da AGE para o mês seguinte. A empresa foi privatizada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em junho de 2022.

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