Com pele 3D e raio-X de perfume, Avon quer ser 'Vale do Silício' da beleza
A Avon trouxe seu centro de inovação dos Estados Unidos para o Brasil e quer transformar Cajamar (SP), local onde o centro está instalado, no "Vale do Silício da indústria cosmética". A marca aposta em tecnologia de ponta para pesquisa e desenvolvimento e conta com equipamentos como uma impressora de pele 3D, um decodificador de perfumes e, em breve, uma máquina que simula a exposição solar na pele para realização de testes.
Equipamentos modernos
O UOL visitou o centro de inovação. A marca quer transformar Cajamar no Vale do Silício da indústria cosmética, segundo Daniel Silveira, vice-presidente de Marca, Marketing e Inovação para América Latina da Avon.
A impressora de pele 3D imprime um pedaço de pele de verdade a partir de células humanas. A impressão usa células vindas de restos de pele que seriam descartados em cirurgias plásticas. O tamanho necessário para os testes é muito pequeno: é como uma lente de contato. As pequenas peles são feitas em um retângulo transparente com vários espaços redondos. Cada círculo abriga um pedacinho da pele 3D para serem feitos todos os testes necessários.
Depois da impressão, a pele é levada a uma máquina que fica ao lado das duas impressoras. A máquina produz um ambiente estéril, que permite aos profissionais fazerem todos os testes necessários sem a interferência do ambiente externo, evitando contaminações e interferências.
Nós temos uma impressora de pele 3D, tecnologia de ponta que permite a gente testar mais rápido os produtos sem precisar fazer qualquer tipo de teste com pele ou reforçando o nosso compromisso já de muitos e muitos anos de não fazer testes em animais. A Natura já tinha essa tecnologia, a Avon passa a utilizar.
Daniel Silveira, executivo da Avon
A Avon também está trazendo um equipamento de simulação a exposição solar. Silveira diz que a máquina fará com que a empresa consiga testar o impacto que a exposição solar tem sobre os produtos que estão sendo desenvolvidos pela marca. Este equipamento foi comprado pela Avon e também poderá ser usado pela Natura.
O decodificador de perfumes é outro equipamento usado no centro de inovação da Avon. O "raio-X" dos perfumes permite que a marca identifique a formulação e notas das fragrâncias. Isso vale tanto para os produtos da marca como para os perfumes da concorrência disponíveis à venda. A Avon terá alguns perfumes que usam a tecnologia a partir do ano que vem.
Eu consigo identificar como ajustar, melhorar e tornar perfumes mais desejados pelo mercado sul-americano, que tem algumas nuances e características que fora não tem. Eu consigo ver esse mapa, comparar ele com o que eu tenho, inclusive na concorrência, e identificar o que eu preciso mexer nas notas para entregar um perfume de maior qualidade.
Daniel Silveira, executivo da Avon
Centro de inovação no Brasil faz com que marca se aproxime dos clientes brasileiros. Danniela Eiger, head de varejo da XP, afirma que a estratégia faz sentido tanto pela sinergia de custos de pessoal como pela proximidade com o mercado consumidor.
Antes estava nos Estados Unidos, que é um mercado com uma dinâmica diferente de consumo, de competição. A Natura está próxima da América Latina, do Brasil, e deve gerar ganhos tanto de eficiência de custo como de assertividade da estratégia.
Danniela Eiger, head de varejo da XP
A união é positiva e deve elevar os investimentos em inovação em ambas as marcas, o que é muito relevante, dado que esse é um setor em que as novidades são relevantes para atrair o consumidor.
Geórgia Jorge, analista do BB Investimentos
Da pesquisa até o consumidor
A Avon trabalha com um processo que chamam de funil de inovação. Silveira diz que ele começa com a ideação de um produto, feita com base na leitura das consultoras e consumidores dos mercados da marca, avaliação de tendências e tecnologias que estão disponíveis.
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Quero receberOs produtos priorizados variam conforme a estratégia da empresa. Em 2024, por exemplo, Silveira diz que a prioridade será com os produtos com princípios relacionados a tratamento da pele.
O processo de produção não é linear. Silveira diz que ele começa com a ideia, depois vai para a análise de viabilidade técnica, a viabilidade financeira e definição dos próximos passos para o lançamento.
Tudo começa com pesquisas. Silveira explica que às vezes a pesquisa começa sem que os profissionais saibam qual será a aplicação de um determinado ativo, como ele será usado. Começam os testes e, ao identificar que determinado ativo funciona, começam a evoluir os testes avaliando também a demanda do consumidor.
Mensalmente nos reunimos para avaliar esses projetos, ver se eles cumprem os critérios de qualidade, impacto ambiental, margem, estratégia e, a partir daí, eles são aprovados ou não e vão caminhando nesse funil até o momento do lançamento.
Daniel Silveira, executivo da Avon
Na hora do lançamento, a marca avalia outros pontos. Alguns deles são estimativa de vendas, conversas com os mercados da marca e preparam o lançamento para a rede de consultoras e para os clientes.
Análise de tendências
Um item de desenvolvimento rápido demora de seis a oito meses. Isto se aplica para produtos da linha de maquiagem e perfumes, a depender do item e da complexidade. Produtos para tratamento do rosto, por exemplo, levam mais de dois anos pela quantidade de testes de segurança e eficácia necessários.
Tendências repentinas fazem com que a Avon tenha que adaptar sua produção. Identificar o que é uma tendência e o que vai ser no futuro até que o produto seja plenamente desenvolvido mistura "ciência e arte", para o executivo. "A gente monitora registro de patentes, a tendência do consumidor, o que está acontecendo em outros mercados. Essa é uma vantagem de ser uma marca global", afirma Silveira.
A Avon está no Brasil desde 1958 e o país concentra a maior operação da marca hoje. A empresa foi lançada em 1886, está presente em 50 mercados. A América Latina também tem operações que figuram entre as maiores, como Argentina, Colômbia e México.
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