Sequestro de Abilio por guerrilheiros chilenos agitou disputa Lula X Collor

Morreu, aos 87 anos, Abilio Diniz. O empresário foi vítima de um sequestro em 1989. Ele contou que o episódio eliminou da sua mente a crença de ser um "homem inatingível e indestrutível".

Relembre o sequestro de Abilio Diniz

Empresário foi sequestrado na manhã do dia 11 de dezembro de 1989. Abilio estava a caminho do seu escritório quando foi abordado. Os sequestradores usaram uma minivan Caravan disfarçada de ambulância para bloquear o caminho dele nas esquinas das ruas Sabuji e Seridó, no bairro Jardim Europa, em São Paulo.

O resgate pedido à família foi de US$ 30 milhões. O dinheiro seria utilizado para financiar a guerrilha de El Salvador, já que a ação foi planejada em conjunto com o movimento Forças Populares de Libertação (FPL), que atuava no conflito, segundo o jornal O Globo.

Polícia localizou carro utilizado em sequestro. A Caravan foi encontrada abandonada no bairro do Morumbi. Policiais encontraram nela um cartão de uma oficina mecânica que os levou até o chileno Pedro Segundo Solar Venega, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo.

A partir disso, foram identificados mais sequestradores. Eles foram encontrados em um apartamento no bairro do Jabaquara. Com as informações coletadas, a polícia também encontrou o cativeiro do empresário, em uma casa no mesmo bairro.

Resgate após cerco de 36 horas. Os envolvidos no crime se renderam após 36 horas de cerco da polícia, no dia 17 de dezembro. Abilio foi usado de escudo, mas foi resgatado em segurança. Dez sequestradores —quatro chilenos, três argentinos, dois canadenses e um brasileiro, todos do MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria), do Chile— se renderam.

O sequestro aconteceu dias antes do segundo turno da eleição presidencial que opunha Fernando Collor (na época, PRN) e Lula (PT). Na época, a polícia apresentou camisetas do PT que teriam sido encontradas em imóveis alugados pelo grupo de criminosos.

'Tinha certeza que iria morrer'

Em entrevista ao podcast Flow em 2021, o empresário contou detalhes de seu sequestro e disse que tinha certeza que iria morrer.

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Tinha certeza que iria morrer, já sentia de cara.
Abilio Diniz ao Flow

Abilio também descreveu em detalhes como era o cativeiro. "Me colocaram nessa casa do Jabaquara e tinha um buraco nesta casa, tipo um porão, e uma escadinha. Dentro deste porão, eles construíram uma caixa, um caixote grande, levaram para baixo, e me puseram dentro do caixote", contou.

Segundo ele, o artefato era "bem feito" e tinha uma fechadura por fora —mas ele não conseguia ficar totalmente de pé no espaço e se esforçava para pegar mais ar. "Fizeram um buraco em cima, puseram um cano e um ventilador do lado de fora. Esse era o ar que tinha."

O ambiente tinha ainda um dispositivo de luz e de som que aumentavam a sensação de desconforto. "Puseram um controle de luz, às vezes deixavam tudo escuro, às vezes mais claro, às vezes tudo claro. E música alta", disse. "Era para me deixar meio enlouquecido", completou.

O episódio eliminou da mente do empresário a crença de ser um homem inatingível e indestrutível, conforme relatado em seu site. "A raiva e frustração da experiência do sequestro foram convertidas em alimento para sua elevação espiritual e para seu desenvolvimento afetivo", diz a biografia.

*Com reportagem publicada em 24/09/2021

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