Snacks de proteína invadem mercado de alimentos e vão além da academia

O mercado de alimentos foi invadido pela proteína. Empresas do setor têm buscado atrair um público mais amplo para o consumo de produtos como as bebidas lácteas e as barrinhas proteicas, antes restritos aos frequentadores de academias. Com isso, o segmento de suplementos esportivos deve mais que dobrar de tamanho nos próximos cinco anos.

Como é o mercado

O mercado de suplementos esportivos chegou a R$ 4,3 bilhões em 2023. A estimativa é da consultoria Euromonitor. A expectativa é que esse número chegue a R$ 9,5 bilhões em 2028. Thaise Mendes, presidente da Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres), afirma que o aumento se deve à busca mais intensa por saúde e bem-estar.

O segmento cresce dois dígitos desde 2021 e foi impulsionado no pós-pandemia. A venda de suplementos caiu em 2020, no início da pandemia, e começou a crescer com mais força no ano seguinte, com a reabertura da economia, afirma Rodrigo de Mattos, consultor da Euromonitor International. Os dados consideram os suplementos proteicos, como whey protein, e os não proteicos, que são BCAA, creatina e coenzina Q10, por exemplo.

Os dois crescem juntos, mas o de produtos com proteína é maior. O whey protein foi a grande categoria de suplementos em 2023, representando 66% da categoria de nutrição esportiva. Os produtos não proteicos representam em torno de 34% do segmento, segundo dados da Euromonitor.

Por que mercado cresceu

Esse aumento do consumo se deve à busca por uma vida mais saudável e às redes sociais. A pandemia fez as pessoas valorizarem mais um estilo de vida saudável, diz Mattos, da Euromonitor. Há ainda um efeito midiático, com influenciadores no Instagram e TikTok aparecendo cada vez mais mostrando a prática esportiva e o consumo destes produtos.

Há também uma tendência de "snackficação" das refeições. As pessoas têm mais flexibilidade por conta do home office, e começaram a mudar seus horários de refeição. Com isso, estão ampliando suas jornadas, diz Cynthia Antonaccio, dona da consultoria de saúde e bem-estar Equilibrium. "As barras e comidas proteicas são usadas para prolongar esses intervalos", afirma.

Há ainda uma busca maior pelo consumo de produtos por conveniência. Para Mattos, a partir de 2022 começaram a surgir novos produtos que são mais fáceis de serem consumidos e que atendam às necessidades nutricionais, para atender a pessoas que não sabem ou não têm tempo para cozinhar.

O público-alvo desses produtos se ampliou para além das academias. Isso se reflete nas embalagens. Há casos inclusive em que a empresa mudou sua comunicação para conversar com mais públicos.

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Entrou uma coloração mais cintilante, multicolorida, trazendo alegria e diversão, e não só saúde. Antes era aquele preto, aquela cor de suplemento. Pós-pandemia, a nova geração quer alegria, mesmo quando se cuida.
Cynthia Antonaccio, dona da consultoria de saúde e bem-estar Equilibrium

Os consumidores brasileiros estão aceitando muito bem essa categoria, tanto é que ela vem sendo introduzida até para fora da prática esportiva. Tem alguns cases de marcas interessantes, como a Vitafor, que mudou muito a comunicação de suplemento proteico. Saiu um pouco daquela coisa meio clássica, que era a faca na caveira, músculo, e foi para [o lado da] saúde.
Rodrigo Mattos, consultor da Euromonitor Internacional

Investimento em influenciadores

A marca de suplementos Dux Nutrition é uma que investe em influenciadores. A estratégia da marca de suplementos é baseada em estreitar relações de parceria com os formadores de opinião que ajudam o consumidor a decidir o que comprar. No caso dos suplementos, são médicos, nutricionistas, educadores físicas e influenciadores, entre outros. A marca está por trás, alimentando e fornecendo informação e produto para que eles possam divulgar, diz Marcelo Pacífico, sócio-fundador da Dux Nutrition.

Fundada em 2015 e, na época, suplementos eram consumidos basicamente por frequentadores de academia. Marcelo Pacífico, sócio-fundador da Dux, afirma que desde o início quis se comunicar com o público geral e não só com os fisiculturistas e praticantes de musculação. A marca não divulga os números de faturamento, mas afirma que cresceu 90% em comparação ao ano passado.

Apesar de haver novos consumidores, o principal cliente da Dux ainda é quem pratica atividade física. Os produtos mais vendidos do portfólio são os da linha de proteína e a creatina, que está crescendo sua participação nos últimos anos.

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O aumento da indicação por médicos e nutricionistas ajudou a ampliar o mercado. Segundo Pacífico, há alguns anos os produtos eram menos indicados pelos profissionais de saúde, o que ajudou a aumentar a popularidade e o consumo dos brasileiros. Mendes afirma que dos consumidores que usam os suplementos, 51% teve indicação de algum profissional de saúde.

Criação de novos produtos

Marcas apostam em produtos com indicação da quantidade de proteína
Marcas apostam em produtos com indicação da quantidade de proteína Imagem: Reprodução/ Instagram/ @duxnutritionlab

Novidades não ficam restritas ao mercado de suplementos. Marcas de alimentos e bebidas aproveitam que a proteína está "na moda" para destacarem a quantidade do ingrediente em seus produtos. Um exemplo é o YoPRO, da Danone, lançado em 2018.

A empresa de alimentos Linea, focada em produtos sem açúcar, também entrou na onda. Ela acaba de lançar a marca Hummm!, de barrinhas de proteína. "Temos que surfar essa onda", diz Marcelo Limírio Filho, presidente da Linea.

Foco é atingir um público mais jovem, de até 30 anos. Por iniciar com adoçantes, a Linea começou conversando com um público mais velho. A ideia agora é ativar os mais jovens, diz Filho. "Queremos inserir o produto em vários momentos do dia: na escola, na viagem, no lazer. Ele tem um aspecto de indulgência, tem recheio e sabor, mas não tem açúcar", afirma.

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Pode ser uma opção para quem quer cuidar do corpo e competir com o bombom. A barra de proteína Hummm! tem dois tamanhos (35g e 20g) e nove sabores: Banoffee, Brigadeiro, Doce de Leite, Maracujá, Brownie, Cheesecake de Morango, Cookies N Cream, Creme de Avelã e Paçoca. Com o tamanho menor, a ideia é até mesmo competir com o bombom para quem quer um docinho.

A meta é chegar a 100 mil pontos de venda com o novo produto, o dobro do que a Linea tem hoje. No futuro, a ideia é que a maior capilaridade da Hummm! ajude a Linea a ampliar a distribuição e as vendas de seus outros produtos. O portfólio da marca vai do adoçante ao ketchup, passando por chocolates e biscoitos, tudo sem açúcar.

Consumo de proteína é seguro

A proteína é um ingrediente essencial para a manutenção das funções vitais. Cintia Silva, doutora em nutrição pela USP, afirma que houve avanços nos estudos científicos que falam sobre os benefícios da proteína na dieta, impulsionando o consumo de suplementos. Se antes a proteína era vista apenas como um nutriente que ajudava no controle e no ganho de massa muscular, hoje já está associado também ao aumento de longevidade, ao bem-estar mental e a redução do risco de depressão.

Apesar dos benefícios, o consumo exagerado de proteína pode fazer mal e causar doenças hepáticas e renais. Isso vale tanto para proteína animal como os suplementos. O importante é saber que a proteína não vai fazer "mágica" e que não haverá emagrecimento ou saúde sem alimentação balanceada e exercícios físicos. O consumo é seguro para todos os públicos, mas mudanças na saúde e no corpo precisam ser associadas a hábitos saudáveis, segundo Silva.

Hoje temos a suplementação de pessoas que não praticam atividade física. Esse é um problema, porque as pessoas acham que é uma mágica, que aí você vai tomar o suplemento e aí vai acontecendo, mas não é bem assim.
Cintia Silva, doutora em nutrição pela USP

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