Qual é o impacto da fusão entre Petz e Cobasi nos pet shops de bairro?

Apesar de envolver números impressionantes, a fusão entre Petz e Cobasi, se completada, não deve mudar muito o mercado de serviços para animais de estimação, avaliam especialistas ouvidos pela UOL. Ambas as marcas assinaram nesta sexta-feira (18) um memorando de entendimento não-vinculante para juntarem seus negócios.

O mercado pet é muito dividido

Nasce uma (possível) empresa maior do que já é. A união das duas companhias, que juntas têm faturamento bruto anual de R$ 6,9 bilhões e 483 lojas em todo o país, tornaria os nomes de Petz e Cobasi mais consolidados no mercado. Mas o advogado especialista em direito empresarial Pedro Henrique Costa afirma que a indústria é bastante fragmentada. A Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação) afirma que são 285 mil empresas voltadas para os pets no Brasil.

A indústria pet está em franca expansão no país. Dados da Abinpet e do Instituto Pet Brasil mostram que o setor faturou R$ 68,7 bilhões em 2023, um aumento de 14,2% em relação ano anterior. O Brasil é o terceiro principal mercado global, com 4,95% da fatia total, atrás de EUA (43,78%) e China (8,7%).

Os pequenos e médios pet shops têm quase metade do faturamento. Em 2023, a receita total desses estabelecimentos foi de R$ 33,5 bilhões. Na sequência estão clínicas e hospitais veterinários, com R$ 12,5 bilhões, e as chamadas "megastore", como Petz e Cobasi, que faturaram R$ 6,9 bilhões.

Os comércios de bairro devem passar ilesos pela formação da nova companhia. Costa diz que é comum hoje o consumidor fazer suas compras em plataformas de e-commerce sem que isso prejudique os pequenos negócios. Da mesma forma, ele não acredita que os preços dos produtos subirão, justamente pela pulverização do setor. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) avaliará a viabilidade do negócio.

Muitas vezes o consumidor prefere ir em um pet shop ou em um veterinário que ele conhece há mais tempo. Essa relação de proximidade é muito importante e sensível para o mercado de animais de estimação. Isso não será alterado com essa nova empresa, caso seja aprovada a fusão.
Pedro Henrique Costa, advogado

Como o Cade vai julgar o negócio

Mas as lojas pequenas e médias devem ficar atentas a essa movimentação. André Ferreira, sócio-diretor da Pet Future, empresa de inteligência de mercado do setor pet que é parte do grupo de consultorias especializadas em varejo Gouvêa Ecosystem, diz que Petz e Cobasi responderiam juntas por cerca de 10% do mercado.

Diante disso, esses negócios precisam voltar o olhar para suas estratégias de negócio. "A junção gera um líder de mercado mais competitivo. Mas também gera uma racionalização de preços que pode ser positiva. Obviamente, esses negócios devem criar diferenciais para se manterem competitivos e fidelizarem seus clientes", diz Ferreira.

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O comportamento do consumidor será analisado pelo Cade. O advogado especialista em direito concorrencial, Luiz Felipe Rosa, diz que a autarquia deve estudar esse negócio sob algumas óticas: a divisão de vendas online e de lojas físicas de cada negócio; um olhar mais aprofundado para as unidades de cada, município ou até mesmo por bairros e se os serviços oferecidos pelas empresas são capazes de gera impactos à concorrência.

A fusão de Petz e Cobasi pode receber ou sinal verde por completo ou não. O ex-conselheiro do Cade Luiz Hoffmann, que aprovou a compra do Grupo BIG pelo Carrefour, diz que existem três possibilidades em jogo: a aprovação total, com restrições ou veto total do negócio. A última alternativa é menos provável.

Por exemplo, na Vila Mariana [bairro da zona sul] tem lojas dos dois [Petz e Cobasi] em um raio de alguns quilômetros? Tem concorrentes ou não tem? [...] Até onde o consumidor que mora na Vila Mariana está disposto a ir para o Tatuapé [zona leste] comprar algo para o pet dele? Acho que não. Vai até a Aclimação [bairro vizinho da Vila Mariana]? Capaz que sim.

De onde vêm as empresas?

A Cobasi foi fundada em 1983 por Rames Nassar em São Paulo. Ela foi pioneira no segmento de megalojas com foco em produtos e serviços voltados aos animais de estimação no Brasil.

Já a Petz é mais recente, de 2002. A companhia foi fundada por Sergio Zimerman também em São Paulo, com uma loja na Marginal Tietê. Ele chegou a tentar ser franqueado da Cobasi.

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A Petz estreou na Bolsa de Valores de São Paulo em setembro de 2020. As ações foram precificadas a R$ 13,75 no IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês), que movimentou R$ 3,03 bilhões. A Petz tem também uma marca própria, responsável por 8,5% do faturamento.

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