Pagamento de dividendos cresce 14 vezes mais do que salários, diz pesquisa
O pagamento total de dividendos de empresas a acionistas entre 2020 e 2023 subiu 14 vezes mais do que os salários mínimos de trabalhadores no mundo, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Oxfam nesta quarta-feira (1º), Dia do Trabalho.
O que a pesquisa mostra
O estudo analisa 31 países, entre eles o Brasil. Juntos, representam 81% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial.
O pagamento de dividendos teve alta de 45% entre 2020 e 2023. A Oxfam, que seguiu as cifras do índice global de dividendos da gestora Janus Henderson, destaca que os valores corrigidos pela inflação pagos para acionistas chegaram a US$ 195 bilhões (R$ 1 trilhão) nos 31 países consultados. Os salários de trabalhadores subiram na média 3,3% no mesmo período. No entanto, esse resultado se deve à China, que foi o único país que de fato registrou aumento na média salarial; os demais tiveram queda.
A distribuição de dividendos em 2024 deve seguir a curva de ascensão. A pesquisa aponta que os lucros totais das empresas logo devem ultrapassar o recorde de US$ 1,66 trilhão (R$ 8,3 trilhões, na cotação atual) de 2023. Este índice analisa as 1.200 maiores corporações do mundo, responsáveis por 90% dos dividendos totais pagos.
A realidade brasileira é incômoda, aponta a Oxfam Brasil. O coordenador de justiça rural e desenvolvimento da instituição, Gustavo Ferroni, afirma que cerca de 60% da população ganham até um salário mínimo (R$ 1.412). O Dieese afirma que o pagamento necessário deveria ser de R$ 6.832,20, ou seja, quase cinco vezes mais.
No Brasil, a grande maioria da população trabalha, mas não consegue garantir uma vida digna com a renda do trabalho. Não tem como o país diminuir de maneira significativa a desigualdade sem que a renda do trabalho melhore.
Gustavo Ferroni, coordenador de justiça rural e desenvolvimento da Oxfam Brasil
Como está o Brasil?
Super-ricos receberam em média US$ 9.000 (cerca de R$ 47 mil) em dividendos em 2023. Segundo os cálculos da Oxfam, que analisou os dados da consultoria britânica Wealth-X, o montante pago ao 1% mais rico do mundo corresponde a oito meses de salário de um trabalhador.
Somente dois de 37 países têm salário mínimo classificado como digno, segundo a Global Living Wage Coalition, que usa uma amostra maior. A entidade que entende como digna uma remuneração capaz de suprir necessidades básicas, como moradia, alimentação e saúde, e mostrou que apenas Marrocos e Turquia oferecem essas condições à população. São avaliados países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina.
O Brasil está abaixo desses países nesse quesito. O salário mínimo do país fornece 38% de um salário digno, segundo a Oxfam. Em Bangladesh e Gana, o índice é ainda menor: 6% e 12%, respectivamente.
Nenhuma empresa deveria estar pagando aos acionistas ricos a menos que esteja remunerando todos os seus trabalhadores com um salário digno. Os governos devem limitar os pagamentos aos acionistas, apoiar os sindicatos e estabelecer leis que garantam salários dignos. Deveríamos estar recompensando o trabalho, não a riqueza.
Amitabh Behar, diretor executivo interino da Oxfam
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