RS: Imobiliárias têm alta na procura para locação por conta das enchentes
Os alagamentos provocados pelas enchentes geraram um aumento na procura por imóveis para locação no Rio Grande do Sul.
A situação é registrada principalmente em municípios mais afetados, como Porto Alegre e Canoas, onde ainda há bairros debaixo d'água. UOL Economia consultou quatro imobiliárias.
O que aconteceu
Imobiliárias registram aumento de 30% na procura por aluguéis. Na Guarida imóveis a elevação ocorreu nesta semana em comparação com a anterior. Já na Auxiliadora Predial o aumento foi registrado em maio deste ano em comparação com anos anteriores.
"Clientes batiam à porta", diz a corretora Layana Moura Coelho da Rosa, dona de uma imobiliária com seu nome. Hoje a procura por imóveis se dá em grande parte pela internet e a ida dos clientes até as agências ocorre em momentos específicos. Porém, com as enchentes, as imobiliárias passaram a perceber um comportamento diferente. "A gente costuma receber muito mais clientes por lead (contato inicial pela internet, por exemplo) ou por indicação. Mas com as enchentes, a gente tinha clientes batendo na porta desesperados, dizendo 'preciso alugar um imóvel, minha casa está debaixo d'água'. Queriam para ontem", conta Layana.
Perfis diferentes de clientes. A alta procura por imóveis para locação se dá por pessoas que ainda não conseguiram voltar para casa - por estar debaixo d'água -, ou por quem já conseguiu voltar, mas está sem água ou luz, explica o vice-presidente de locação do Secovi-RS e sócio-administrador da imobiliária Vila Rica, Leandro Hilbk. "As pessoas ainda estão apavoradas. Tem muita gente que não conseguiu retornar para casa ou que está morando em abrigos públicos e que não quer ficar mais ali, mas não tem onde ficar. Há pessoas morando no carro com a família", explica. A procura também ocorre por aqueles que ficaram "ilhados" pelos alagamentos e que não querem reviver essa situação.
Imóveis em 'áreas secas' têm preferência. "As pessoas estão procurando imóveis que não foram afetados pela chuva. Tem muita procura por apartamentos ou por casas em regiões mais altas. A procura é muito, muito grande na região metropolitana como um todo", explica o sócio-administrador da Vila Rica.
Faixa de preço parecida. Na Guarida há uma busca maior por imóveis na faixa dos R$ 1 mil a R$ 2 mil. Na imobiliária Layana Brazilian Broker a procura também é por apartamentos e casas considerados de "médio padrão".
Demanda represada. O alagamento de parte do centro histórico de Porto Alegre acabou interrompendo o funcionamento de imobiliárias localizadas nesta região. Uma delas foi a Guarida Imóveis, que remanejou o atendimento para outras agências da rede. O gerente de locações da Guarida, Tiago da Silva Seltenreich entende que, além da procura por imóveis para aluguel por pessoas afetadas por alagamentos, também há demanda represada desses dias em que a agência central ficou fechada. "Essas pessoas que pararam buscas por imóvel, agora retornaram com toda a força".
Imóveis deixam portfólio de venda para aluguel de temporada. Com número escasso de imóveis para locação, as imobiliárias passaram a procurar donos de casas e apartamentos anunciados exclusivamente para venda (veja abaixo) e propor contratos de aluguéis mais curtos. Na Auxiliadora Predial pelo menos 8% da carteira de venda foi convertida para aluguel de temporada, explica a gerente de Aluguéis Residenciais, Milena Lopes Machado. "As pessoas têm procurado locações por três, quatro ou seis meses porque elas muitas vezes não têm ainda a clareza do período que vão ficar fora do seu imóvel, que vai necessitar para reformá-lo ou até mesmo para novamente ocupá-lo. Não tem exatamente a proporção do seu prejuízo. O que ela sabe é que precisa durante esse período ter um novo lar para residir", explica.
Preços sem alteração. Com o aumento na procura, poderia se esperar um aumento nos valores dos aluguéis. Porém, por enquanto isso não ocorreu segundo as quatro imobiliárias consultadas. "Tenho visto muita compreensão dos proprietários. O que eu vejo é que as cidades e o Estado não estão preparados para uma calamidade como essa e as pessoas estão unindo esforços para ajudar de qualquer forma. E eu vejo proprietários fazendo um esforço, não vejo majorar valores. É o momento de solidarizar com quem está precisando e vejo alguns até facilitando o aluguel", conta Hilbk "O proprietário poderia aumentar valor do aluguel, mas, na prática, aconteceu o inverso", explica Seltenreich.
Aumento na desocupação. As imobiliárias também registram crescimento na saída de inquilinos, principalmente de regiões alagadas. Na Auxiliadora Predial o aumento foi de 20% em maio em comparação com o mesmo mês do ano passado. "Tem muita que nunca mais quer voltar para uma localização dessas. Então, o que a gente sente é que afetou o psicológico de muita gente, que quer fugir desse trauma. O pessoal está traumatizado e quer sair de qualquer forma do alagadiço", explica Hilbk.
Procura também para imóveis para venda. Até o começo de maio, a jornalista Leticia Szczesny, 26 anos, morava com os pais em uma casa no bairro Sarandi. Porém, tiveram que deixar o imóvel próprio no dia 4. "A gente saiu com a água bem baixa. Como a gente achou que água não ia chegar, a gente só levantou as coisas e tiramos algumas roupas, como se fosse passar só alguns dias fora de casa." Porém, a residência ficou quase submersa. Agora, a família planeja comprar um imóvel em Alvorada, onde estão temporariamente na casa de um amigo.
"Não há segurança para voltar para lá", diz jornalista. Letícia conta que um dique se rompeu, o que provocou o alagamento na região. Um tio e os avós dela moram em outra casa próxima e, como há dois andares, planejavam ficar no local, mas foram orientados a sair. "Meus avós foram retirados de bote."
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