Alta judicialização encarece passagem aérea no Brasil, diz Aena

Custo do combustível, falta de aviões, dolarização e alta judicialização são alguns motivos para os preços das passagens aéreas no Brasil serem altas. É o que disse Santiago Yus, presidente da Aena Brasil, ao "UOL Líderes", videocast do UOL Economia que entrevista líderes do mundo empresarial. A Aena é uma empresa espanhola que faz a gestão de 17 aeroportos brasileiros, entre eles o de Congonhas, em São Paulo.

A alta judicialização que existe no Brasil tem um impacto direto sobre a linha de custo das companhias aéreas. As companhias aéreas estimam que entre 80% e 90% das reclamações judiciais que existem no mundo estão aqui no Brasil.
Santiago Yus, presidente da Aena Brasil

O Brasil, pela condição de ser um país continental, com as distâncias que precisam do setor aéreo, não só para passageiros, mas cargas, logística, medicamentos, etc., é um país que é super positivo para o desenvolvimento da indústria. E por isso que a gente está aqui e acredita no Brasil.
Santiago Yus, presidente da Aena Brasil

Passagens aéreas caras

No Brasil, tarifas aeroportuárias são as mais baratas da América do Sul. "A parte que fica com os aeroportos, as receitas aeroportuárias reguladas, que é essa parte da taxa de embarque, os serviços que o passageiro paga, a gente tem orgulho de dizer que no Brasil as tarifas aeroportuárias são as mais econômicas e as mais baratas de toda a região da América do Sul. Então, isso é um ponto super positivo", declarou.

No entanto, as passagens aéreas são caras. Para Yus, há vários fatores contribuem para isso. Entre eles, estão o custo de combustível e a dolarização. "Tanto combustível quanto qualquer peça de avião, motor, compra de avião, está tudo em dólar. Então, dependendo também de como é esta paridade do real com dólar, tem um efeito negativo ou positivo para as linhas aéreas", afirmou.

A falta de aviões também é outro fator que encarece as passagens. Segundo o presidente da Aena Brasil, as companhias aéreas, pós-pandemia, têm menos aviões, pois os pedidos estão nas mãos dos fabricantes, como Airbus e Boeing.

Há menos capacidade para uma maior demanda. Afinal, é uma lei de oferta e demanda, e isso faz com que o valor da tarifa também cresça.
Santiago Yus, presidente da Aena Brasil

Outra questão é a alta judicialização no Brasil. Segundo ele, as companhias aéreas estimam que entre 80% e 90% das reclamações judiciais que existem no mundo estão aqui no Brasil.

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Setor precisa trazer mais companhias aéreas para o Brasil. "E gerar essa concorrência para democratizar a passagem aérea. Que todo mundo possa voar de uma forma conectável, confortável e com mais conectividade. São coisas que a gente tem que trabalhar como setor", declarou.

Companhias low cost

Barreiras para a vinda de low cost. Ele ainda explicou que essas barreiras do Brasil, como dolarização, burocracia e sobretudo, a judicialização, afastam as companhias low cost de operar no país.

Muitas empresas low cost que estão trabalhando muito bem na América do Sul. Companhias do Chile, Argentina e Colômbia já estão operando fora das fronteiras naturais dos países de origem.

É muito difícil para uma companhia aérea, com um nível de custo tão alto motivado pela judicialização. É um fator que você não consegue controlar. Então, isso de alguma forma assusta um pouco as linhas aéreas que querem operar aqui no Brasil.
Santiago Yus, presidente da Aena Brasil

Aumento de passageiros nos aeroportos

Aumento no volume de passageiros. Conforme a Aena Brasil, os 17 aeroportos administrados pela empresa no Brasil tiveram uma movimentação superior a 40 milhões de passageiros em 2023. O volume é 14,8% maior que o registrado em 2022.

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Volta aos patamares pré-pandemia. As ocupações das aeronaves estão em patamares pré-pandemia. "É óbvio que conseguiríamos ter mais passageiros, mas até que tenhamos mais aviões e consigamos reduzir também a tarifa aérea. Mas mesmo assim estamos tendo alguns acréscimos", afirmou.

Também é verdade que os voos de negócios não foram recuperados 100% em relação ao que foi pré-pandemia. Mas no Nordeste, por ser turístico, as companhias aéreas também movimentaram um pouco a capacidade daqueles corredores de negócio para os corredores que também têm a parte turística.
Santiago Yus, presidente da Aena Brasil

Aeroporto de Recife (PE) tem uma composição muito equilibrada: 50% são passageiros de negócios e 50% são passageiros turísticos. "Isso faz com que seja um destino bem estável, o que dá também segurança para a rentabilidade das companhias", declarou. O aeroporto do Recife é o segundo mais movimentado da rede da Aena no Brasil. Em 2023, superou a marca de 9 milhões de passageiros (um crescimento de 3,7% em relação ao ano anterior).

Novas tecnologias para os aeroportos

Sem documentos. No futuro, os aeroportos vão ter tecnologia na qual o passageiro não vai mais precisar mostrar documentos no check-in, no canal de inspeção, no embarque e até no controle de imigração.

Um passageiro vai poder, daqui a pouco, estar na sua casa, registrar seu rosto em um aplicativo e, quando chegar ao aeroporto, não precisa tirar mais nenhum documento, seja no check-in, seja no canal de inspeção, seja no embarque. Se é um voo internacional, ele vai passar por um controle de imigração sem precisar mostrar já nenhum documento.
Santiago Yus, presidente da Aena Brasil

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Investimento em segurança. A Aena está trazendo para o Brasil tecnologia nos processos de bagagem, como máquinas de inspeção mais seguras.

Congonhas século 21

Investimento em obras de revitalização. O aeroporto de Congonhas, em São Paulo, será um "aeroporto do século 21", após as obras de ampliação e modernização do espaço. No total, a Aena Brasil vai investir mais de R$ 2 bilhões no aeroporto de São Paulo.

Reforma é realizada com aeroporto em funcionamento. Entre as ações imediatas, estão a implantação de bolsão para carros de aplicativo e praça com 72 vagas para embarque de passageiros, o reordenamento das vias e meios-fios, a renovação do sistema de climatização, a reforma dos banheiros e a ampliação da sala de embarque remoto, entre outros.

Entrega até junho de 2028. O prazo de entrega de todas as obras de grande porte, entre elas um novo terminal de passageiros, é até junho de 2028. A área de embarque e desembarque vai dobrar de tamanho, chegando a 105 mil m².

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