Pedir comida em delivery custa 12,5% mais do que refeição em restaurante

Hábito cada vez mais presente na vida dos brasileiros, o delivery de comida tem um preço mais salgado do que as refeições nos restaurantes. "Apesar de eu achar mais caro, o delivery facilita muito a rotina", revela a relações públicas Ítala Lima. A percepção é confirmada por um levantamento da marca de vale-refeição Ticket. Segundo a pesquisa, o custo médio dos pedidos no Brasil é de R$ 66,21, valor 12,5% superior aos R$ 58,86 gastos em restaurantes.

O que aconteceu

Pedir comida por aplicativo é mais caro do que ir a um restaurante. A maior diferença, de 70,8%, envolve os pedidos de compras em padarias. Enquanto o valor médio gasto nas panificadoras é de R$ 29,89, o delivery sai por R$ 51,05. As entregas também tornam mais caras as refeições com frutos do mar (+8,6%) e pastéis (+53,1%).

Comida japonesa custa mais nos estabelecimentos. Com gasto médio de R$ 104,68, as refeições com sushi, sashimi e outros pratos típicos vão na contramão do resultado geral da pesquisa. Para quem pede pelas iguarias japonesas no delivery, o desembolso médio é 19% menor (R$ 84,80). No caso dos pratos latinos, a ida ao restaurante tem custo 5,2% maior do que nos aplicativos.

Hábitos do consumidor mudam para driblar os gastos maiores. "Após notar a diferença de preços, diminui a frequência do delivery. As idas a restaurantes se mantiveram na quantidade média, mas optamos por cozinhar mais nos finais de semana", conta o professor de TI Fernando Scarabelin.

As modalidades de consumo nos restaurantes e delivery se complementam e são importantes para atender trabalhadores que atuam em diferentes formatos, seja presencial, híbrido ou home office.
Jean Castro, diretor da Ticket

Taxas são determinante para os preços mais elevados do delivery. O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, relata que os pedidos reduzem a margem de lucro dos estabelecimentos e resultam em uma cobrança adicional de até 17% em relação às compras diretas nas lojas.

Hoje, a gente gasta até 30% pagando taxas dos aplicativos. Metade desse custo é repassado para o cliente, cobrando a mais, e a outra metade tira margem dos restaurantes.
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel

Líder do mercado, o Ifood afirma que cabe aos restaurantes a definição dos preços. "Embora o iFood forneça uma plataforma para que os estabelecimentos listem seus produtos e alcancem um público mais amplo, a definição de preços fica a critério de cada vendedor, dentro das diretrizes e políticas estabelecidas pela plataforma", diz a empresa, em nota.

Os pedidos por aplicativo fazem parte da rotina de três em cada quatro consumidores. Um estudo realizado pela Abrasel mostra que 76% dos brasileiros são adeptos à prática. Para quase 70% do grupo, a frequência dos pedidos varia entre duas e cinco vezes por mês.

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Ifood domina o mercado

A pesquisa da Abrasel evidencia a concentração do mercado. Segundo o levantamento, o Ifood é utilizado por 82,2% dos consumidores e domina o delivery no Brasil. Na segunda colocação, o Rappi tem a preferência de 9,1%. A opção pelas demais plataformas disponíveis não alcança 9%.

Ifood diz movimentar 0,5% do PIB brasileiro. Líder do mercado, a empresa está presente em 1.500 cidades e conta com mais de 55 milhões de clientes, equivalente a mais de um quarto da população nacional. Todos os meses, o app realiza quase 100 milhões de entregas.

A concentração é recebida de maneira negativa. O presidente da Abrasel afirma que o cenário prejudica as negociações e as margens dos estabelecimentos com as empresas responsáveis pelas entregas. "Nossa expectativa é que em algum momento a gente possa ter mais concorrência", idealiza Solmucci.

Dominância do Ifood afasta concorrência. Diante da elevada participação do Ifood no mercado, as empresas que chegam para disputar espaço no mercado de delivery nacional têm dificuldades para sobreviver. Os casos mais conhecidos envolvem o UberEats e o Delivery Center.

Acordo com o Cade limitou contratos de exclusividade do Ifood. A posição foi firmada com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica após os concorrentes da plataforma questionarem os contatos que impediam as redes parceiras do Ifood, como Outback e McDonald's, de venderem em outros aplicativos.

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A decisão do Cade deu uma sobrevida para aqueles que estavam tendo dificuldade, em especial o Rappi, que parece estar se beneficiando um pouco mais desse fim da exclusividade.
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel

Compra direta

Os pedidos diretamente com os restaurantes ganha adeptos. Para fugir das taxas, muitos estabelecimentos desenvolveram aplicativos próprios e passaram a estimular os clientes a realizar a compra sem intermediários. "Essa venda direta ela é muito mais salutar para o estabelecimento, do ponto de vista que você conhece o cliente, tem o nome e os dados dele", diz Solmucci.

A Ticket diz defender o modelo de entrega. "Temos ampliado o nosso olhar para as marcas que possuem seu próprio serviço de entrega. Queremos expandir as possibilidades para os nossos usuários", afirma Castro.

Modalidade ainda é pouco utilizada pelos consumidores. Scarabelin diz ter o hábito diversificar os pedidos, inviabilizando a prática. "Acaba não valendo a pena o atrito de entrar em contato direto com os restaurantes", explica ele. Lima, por sua vez, afirma nunca ter optado pela alternativa.

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