Pânico da 'Black Monday' arrefece: Bolsa brasileira sobe e dólar recua

Depois da chamada "Black Monday", a segunda-feira (6) de fortes quedas nas Bolsas de todo o mundo, o Ibovespa e o dólar tiveram um dia bem mais calmo nesta terça (6). A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta de 0,70%, com o Ibovespa chegando a 126.266,70 pontos, segundo dados preliminares. A moeda americana, que na véspera alcançou R$ 5,741, o maior valor desde março de 2021, caiu 1,47%, finalizando a R$ 5,657. Já o dólar turismo fechou em R$ 5,865 (venda).

O que aconteceu?

A terça-feira foi de correção no mercado, impulsionada pelas Bolsas de fora e pela divulgação da ata do Copom. "Os mercados aqui e em outros países tiveram um dia bem mais calmo", diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.

Na segunda-feira, Bolsas em vários países tiveram perdas. Especialistas do mercado passaram a temer que a taxa de juros dos Estados Unidos tenha sido mantida em altos patamares por muito tempo e que a maior economia do mundo possa sofrer uma recessão. Isso aconteceu depois que um relatório de empregos inesperadamente fraco saiu na sexta-feira (2), mostrando que as empresas passaram a contratar de forma mais lenta em julho.

Além disso, as recentes medidas do Banco Central do Japão (BoJ) afetaram vários mercados. O BoJ forçou a valorização do iene e aumentou os juros.

Como o país oriental tinha a menor taxa do mundo, muitos investidores faziam uma operação chamada "carry trade". Eles emprestavam dinheiro lá no Japão e aplicam aqui, no Brasil, que tem o segundo maior juro do planeta, e nos Estados Unidos. Com as mudanças, esse dinheiro começou a sair rapidamente desses países, causando — aqui — a desvalorização do real.

Mas os riscos ficaram para trás?

Não, os efeitos do "carry trade" continuam pesando. Mas o PMI, que mede a temperatura do setor de serviços nos Estados Unidos, ajudou a acalmar o mercado. O índice subiu de 48,8 em junho para 51,4 em julho. Analistas previam um aumento menor, a 51.

Porém, o mercado ainda deve ter muito sobe e desce. Para Ana Paula Gobbo, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital, a volatilidade deve persistir por algumas semanas. "O investidor deve estar preparado para um mercado com alta volatilidade para os próximos 30 dias", disse ela.

E ata do Copom, como influencia a Bolsa?

O Copom defendeu que a decisão de manter a Selic em 10,5% ao ano é compatível com a estratégia de fazer com que a inflação caminhe para perto da meta. O documento divulgado nesta terça-feira (6) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central diz que a política monetária se manterá contracionista. E isso deve acontecer "por tempo suficiente em patamar que, não só consolide o processo desinflacionário, como também a ancoragem das expectativas".

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A Selic pode até aumentar, se o Comitê julgar adequado. "A ata da reunião do Copom de julho trouxe uma mensagem dura, indicando que o Banco Central está disposto a elevar a taxa de juros caso seja necessário", diz Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.

Para o mercado, essa decisão é certa, apesar dos juros não colaborarem com a Bolsa. Juros maiores afastam os investidores do mercado de ações e os levam para renda fixa. Mas o mercado julga que inflação descontrolada é pior.

O juros podem até ajudar o dólar a cair. É o que diz o Itaú, em relatório sobre a ata. "Como acreditamos que o real se fortalecerá nas próximas semanas, à medida que os mercados globais se acalmarem, mantemos, por enquanto, a previsão de que a Selic permanecerá em 10,50% ao ano", publicou o banco. "Se o câmbio não reagir, um ciclo de alta, começando em setembro, será inevitável", diz o documento.

E por que não há temor de recessão aqui, se os juros estão altos?

Mesmo com juros em dois dígitos desde fevereiro de 2022, a economia brasileira está acelerando. "São momentos diferentes, o brasileiro e o americano. A gente já começou um ciclo de cortes, em setembro do ano passado e houve uma pausa agora por conta do aumento do risco fiscal", diz Breno Bonani, analista da Alphamar Invest, de Vitória.

Aqui a economia real está crescendo. A atividade da indústria, por exemplo, cresceu 4,1% de maio para junho após dois meses seguidos de queda. O dado, divulgado na sexta-feira (2), deve impulsionar o PIB trimestral.

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O preço do petróleo também ajudou hoje

Com os preços do petróleo subindo internacionalmente cerca de 1%, as ações da Petrobras responderam bem. PETR3 teve alta de 2,66% e PETR4 de 2,35%, indo, respectivamente, a R$ 39,34 e R$ 36,54, conforme dados preliminares

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