Copom vê manutenção dos juros como forma de manter a inflação na meta

A ata do último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), que optou por manter a Selic em 10,5% ao ano de maneira unânime, defendeu que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Conforme o documento divulgado nesta terça-feira (6), a avaliação é de que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário como também a ancoragem das expectativas.

"O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela", diz o documento. A ata pontua que, sem prejudicar o objetivo de assegurar a estabilidade de preços, a decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A ata reitera que o Comitê se manterá vigilante e eventuais ajustes futuros na taxa de juros "serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta". O colegiado ainda destaca que a conjuntura atual tem um processo desinflacionário que tende a ser mais lento, com a ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador. Essa conjuntura demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

Projeções

A ata do último encontro do Copom seguiu o comunicado da decisão de manter a Selic em 10,5% ao ano e passou a trazer as projeções da instituição para o primeiro trimestre de 2026, que é o horizonte relevante atual para a política monetária, segundo o colegiado. De acordo com a autarquia, a estimativa está em 3,4% no cenário de referência e em 3,2% no cenário alternativo do período.

O BC também indicou que a projeção para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no cenário de referência para o ano calendário de 2024, está em 4,2% e para 2025, em 3,6%, também conforme constava do documento divulgado na última quarta-feira, 31.

A meta de inflação é de 3% para este ano, levando-se em conta o ano-calendário. A partir de 1º de janeiro de 2025, entra em vigor a nova sistemática de apuração, de meta contínua, estabelecida pelo decreto 12.079/2024, cujo objetivo também é de 3%.

No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da Pesquisa Focus e a de câmbio partiu de R$ 5,55 por dólar, conforme o comunicado do Copom, evoluindo segundo a PPC (Paridade do Poder de Compra). As expectativas da Focus usadas na reunião passada foram de 4,1% para 2024 e de 4% para 2025. Ainda neste cenário, as projeções para a inflação de preços administrados estão em 5% para este ano e em 4% para o próximo - ante 4,4% e 4%, respectivamente, do encontro anterior.

Já no cenário alternativo, que o colegiado voltou a usar desde a reunião de junho, as previsões do BC são de 4,2% para a inflação de 2024 e de 3,4% para a de 2025. Neste caso, a Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.

Continua após a publicidade

O Comitê informou ainda no comunicado, e agora na ata, que em ambos os cenários o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, o Copom adotou a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2024 e de 2025.

Sem indicação para próxima reunião

No comunicado e na ata, o Copom não indicou qual será o ritmo de corte de juros na próxima reunião, marcada para os dias 17 e 18 de setembro. A ata volta a destacar o cenário externo adverso, com a incerteza sobre impactos e extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos.

No cenário doméstico, voltaram a surpreender o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, por divergirem do cenário de desaceleração previsto. Mas a nova elevação das projeções de inflação para o horizonte relevante de política monetária, apesar dos juros, e a desancoragem adicional das expectativas de inflação desde a reunião anterior são fatores de atenção.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.