Por que BC fez intervenção no câmbio com dois leilões de dólares
O Banco Central fez nesta segunda-feira (2) o segundo leilão seguido de dólares. Primeiro, na sexta-feira (30), colocou à venda US$ 1,5 bilhão no mercado à vista de câmbio. Mesmo assim, naquele dia, a moeda americana teve alta de 0,21%, e fechou a R$ 5,635 - a quinta valorização consecutiva.
Hoje, a instituição vendeu US$ 735 milhões. Esse não é um valor novo, mas sim o o que restou da venda de sexta. Desta vez, porém, o BC vendeu todos os 14.700 contratos de swap cambial ofertados no leilão extraordinário.
Por que o BC fez esses leilões
O objetivo é conter o avanço do dólar. Na semana, a moeda acumulou alta de 2,84%, mas em agosto recuou 0,36%. Mas em julho, a taxa de câmbio chegou a alcançar R$ 5,70 (embora tenha terminado o mês com alta acumulada de 0,1%).
Por que a intervenção foi feita só agora? "Ainda há especulação sobre o real motivo da intervenção", diz Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
Indicação de Gabriel Galípolo para assumir o BC a partir de janeiro não tem ligação com os leilões, dizem os especialistas. "Galipolo já estava precificado. Não faria sentido", diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais. "Não vejo motivo político ou técnico para tal. Reduzir as reservas não ajuda nem atrapalha o próximo mandato", diz Massote.
Supõe-se que o BC ofertou liquidez para cobrir o rebalanceamento de cesta do fundo EWZ Brazil. A partir de hoje, algumas ações de companhias brasileiras já listadas em Bolsas estrangeiras passam a fazer parte do índice MSCI Brazil. O fundo americano EWZ (sigla para Morgan Stanley Capital International Brazil ETF) é uma das principais referências para investidores que aplicam em Bolsas internacionais. Entre as empresas que passam a fazer parte do índice estão Nubank, Stone, PagBank e XP.
Estimava-se que, com a inclusão dessas empresas, muitos investidores tirariam dinheiro do Brasil para colocar nesse fundo. Projeções falam de algo entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão. Essa saída de dólares faria a cotação do real cair ainda mais.
Por que o leilão não fez efeito na sexta?
Foram dois tipos de leilão diferentes. Na sexta, foi um leilão de "spot", que é quando o BC vende efetivamente reservas cambiais, retirando reais do mercado e oferecendo liquidez em dólar.
Hoje foi um leilão de "swap", em que o banco faz contratos futuros de venda de dólar. "O 'swap', por ser uma operação de futuro, não traz injeção de liquidez imediata", explica Massote. O de 'spot', feito na sexta, tem efeito mais imediato.
Segundo os especialistas, o leilão da semana passada conteve uma desvalorização do real que poderia ter sido bem maior. "Na sexta, o dólar estava se valorizando rapidamente em relação a muitas outras moedas", explica Galhardo. Quando o motivo da alta é externo, segundo ele, os efeitos de um leilão são mais limitados do que seriam se as razões da alta fossem domésticas.
"Na verdade, não havia uma intenção do BC de jogar o câmbio para baixo", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. A meta era realmente só controlar maiores altas.
Como está o dólar hoje
O dólar abriu o dia em queda, depois passou a subir e voltou a cair novamente, no início da tarde. Perto das 15h, a divisa estava em baixa de 0,42%, indo a R$ 5,609. O dólar turismo estava sendo negociado a R$ 5,855. O que ajuda a moeda americana a cair é que nesta segunda os mercados estão fechados nos Estados Unidos, onde é feriado.
Mas existem motivos que podem fazer a moeda a subir. O Brasil enfrenta a maior estiagem já vista na sua história recente, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), o que levou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a acionar a bandeira tarifária vermelha na conta de luz. Ela prevê acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos - o que provoca aumento de preços e, consequentemente, inflação. Ou seja, o real passa a valer menos.
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Quero receberAté onde vai o dólar?
O corte de juros nos Estados Unidos deve ajudar o dólar a cair. Os mercados financeiros esperam que o Federal Reserve, o BC americano, reduza os juros em 0,25 ponto porcentual em sua reunião de 17 a 18 de setembro.
Riscos fiscais jogam contra. Gastos do governo maiores que a arrecadação fazem o real se desvalorizar. Por isso, com essas duas forças opostas, deve acontecer ainda muito sobe e desce até o fim do ano.
Massote acredita que o dólar deva ficar entre R$ 5,20 e R$ 5,90. "Hoje, ainda há muita incerteza, o que tende a pressionar as moedas mais fracas", diz ele. Já a previsão para a cotação do dólar do Itaú é de R$ 5,50 reais por dólar. O C6 Bank, por sua vez, trabalha com uma previsão de R$ 5,50 até 31 de dezembro.
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