Por que Belo Horizonte tem quase o dobro da inflação do Recife?
A inflação acumulada nos últimos 12 meses superou o topo da meta estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para este ano. O cenário, no entanto, não é observado em todas as regiões, o que faz com que a alta de 6,23% dos preços em Belo Horizonte (MG) seja quase duas vezes maior do que a taxa de 3,48% apurada no Recife (PE).
O que aconteceu
Inflação nacional foi de 4,76% entre novembro de 2023 e outubro de 2024. A taxa é a maior na comparação anual desde outubro do ano passado (4,82%) e foi puxada, principalmente, pelos avanços dos preços em Belo Horizonte (MG), São Luís (MA), Goiânia (GO), São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Campo Grande (MS) e Rio de Janeiro (RJ), todos com variação superior à nacional.
Menores altas acumuladas foram verificadas em duas cidades do Nordeste. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Recife (PE) e Aracaju (SE) têm as inflações mais baixas dos últimos 12 meses, de 3,48% e 3,77%, respectivamente. Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS) também apresentam taxas abaixo de 4% no período.
Apenas sete das 16 regiões pesquisadas figuram abaixo do teto da meta. O limite definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para a inflação deste ano é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (de 1,5% a 4,5%). Além do Recife, Aracaju, Curitiba e Porto Alegre, também se enquadram no intervalo Belém (PA), Rio Branco (AC) e Salvador (BA).
A cidade de Goiânia puxou a inflação de outubro, de acordo com o IBGE. Os preços na capital do estado de Goiás aumentaram 0,8%, impulsionados pelas altas da energia elétrica residencial (9,62%) e do contrafilé (6,53%). Por outro lado, a menor variação ocorreu em Aracaju (0,11%), com os alívios nos valores da gasolina (-2,88%) e do ônibus urbano (-6,22%).
Diferenças resultam das diferentes cestas de produtos e entre as regiões. "A inflação da área é uma média ponderada das variações de preços dos subitens com seus respectivos pesos", explica André Almeida, gerente do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Segundo o pesquisador, a divergência entre a maior e a menor variação "não está fora do que ocorre historicamente no índice".
Em Belo Horizonte, a gasolina subiu 13,36% nos últimos 12 meses, enquanto este combustível teve alta de 3,13% no Recife. A energia elétrica residencial subiu 14,68% em Belo Horizonte e 12,29% em Recife. Emplacamento e licença teve alta de 4,32% em Belo Horizonte nos últimos 12 meses, contra uma queda de 15,95% no Recife.
André Almeida, gerente do IPCA
Preço dos serviços públicos oscila entre as regiões metropolitanas do Brasil. Thiago Moraes Moreira, professor de economia do Ibmec-RJ, afirma que as cobranças, ainda que definidas pelos órgãos controladores. "Cada distribuidora tem uma margem diferente. Então o preço da energia elétrica, por exemplo, não é o mesmo para todos os brasileiros", diz ele.
Custo logístico também determina a variação dos preços de bens e alimentos. Moreira diz que as produções industrial e agropecuária estão concentradas no Sudeste e no Centro-Oeste. "Do ponto de vista lógico da distribuição, o mesmo produto consumido do lado da fábrica tende a ser mais barato do que se eu precisar colocar em um caminhão e percorrer muitos quilômetros até o consumidor", afirma.
Volume de exportações ajuda a compreender inflação nas regiões produtoras. Segundo Moreira, o cenário atual não é concretizado devido ao momento favorável para a venda dos bens internacionais devido à valorização do dólar ante o real. "Você pode ter falta de produtos nas regiões produtoras, porque eles estão sendo deslocados para a exportação", afirma.
Essa competição com a exportação acaba afetando a disponibilidade interna dos produtos. Quando você tem uma redução da oferta, isso acaba refletindo nos preços.
Thiago Moraes Moreira, professor de economia do Ibmec-RJ
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